domingo, 5 de julho de 2015

Povo grego diz não à agiotagem

Contrariando os institutos de pesquisa, que até nas sondagens de boca de urna indicavam uma disputa acirrada entre o sim ao mercado financeiro internacional e o não em defesa da soberania grega, o plebiscito realizado neste domingo, 5 de julho, terminou com uma consagradora vitória do não, com mais de 60% dos votos.

O resultado é uma lição para a Troika (Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e FMI), que a partir de agora será forçada a entender que seu poder tem limites.Que ela pode muito, mas não pode tudo. Especialmente quando está em jogo a dignidade de uma nação.

A decisão da República Helênica também abre um precedente alvissareiro para todos os países garroteados pela banca internacional, cujas finanças públicas são reféns de uma concepção rentista que sacrifica o presente e o futuro de milhões de seres humanos no planeta.

A população grega apontou um novo caminho. Com sua decisão histórica de hoje, disse ao mundo que prefere enfrentar de forma soberana todas a dificuldades que certamente lhes serão impostas pelos seus principais credores - os bancos alemães e franceses e pela cúpula da Comunidade Econômica Europeia- do que se curvar a interesses de governos neoliberais e de bancos.

Não faltarão retaliações políticas também da poderosa mandachuva dos países da Zona do Euro, a chanceler alemã Angela Merkel. Não importa. O povo grego, ao optar por tomar nas suas mãos as rédeas da história e assumir o protagonismo do seu destino, há de encontrar a saídas adequadas à gravidade do momento.

E o primeiro-ministro helênico Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, não só honrou seus compromissos de campanha em defesa da soberania grega, como o fez da forma mais radicalmente democrática. O governo grego está à altura de um dos maiores desafios da história de um dos berços da nossa civilização.

Convocar um plebiscito em uma semana, conclamando o povo a decidir se aceitava cortar ainda mais direitos sociais em nome do pagamento de uma parcela bilionária da dívida, revela que o governo grego é chefiado por um estadista de alto nível.

Que aprenda uma certa parcela sectária da esquerda que, no Brasil e ao redor do mundo, já atirava pedras no líder grego porque ele se dispunha a negociar em busca de uma saída para a sua pátria e para a sua gente.

Uma liderança como Tsipras faz muito bem à esquerda mundial, na medida em que mostra que se o esquerdismo faca nos dentes não leva a lugar algum, tampouco a rendição à lógica do capital pode lavar à melhoria da vida do povo.

sábado, 4 de julho de 2015

Pablo Villaça : caso Maju está ligado a 'crescimento da atmosfera fascista capitaneada pela neodireita'

Publicado no DCM

Ao contrário do que a revista VEJA afirmou em uma matéria de capa há algum tempo, o racismo não acabou no Brasil. Ao contrário: encontra-se em uma de suas fases mais intensas se considerarmos os últimos 30 anos. A diferença é que sua vítima mais recente é famosa. Estou falando, claro, de Maju Coutinho, a jornalista do Jornal Nacional que hoje recebeu dezenas de mensagens absolutamente odiosas através de redes sociais. Isto, claro, inspirou mais uma daquelas hashtags bem intencionadas -‪#‎SomosTodosMajuCoutinho‬ – que, temo, provocam também certa apatia ao criarem a ilusão de que fizemos algo de relevante quando, na realidade, apenas ocupamos os Trending Topics do Twitter por algumas horas.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Cunha e a miséria civilizatória

Nem nos mais sombrios períodos da ditadura militar, ou mesmo no Estado Novo varguista, a Câmara dos Deputados foi presidida por um deputado tão flagrantemente desqualificado para o cargo como Eduardo Cunha. Desprovido do mínimo de consciência democrática e convicção republicana, sua presença no comando da Câmara só contribui para degenerar e desmoralizar ainda mais um poder já mal visto pela população.

Ser conservador até a medula é o menor problema de Cunha. Em todas as democracias do mundo encontramos progressistas e conservadores, fisiológicos e republicanos, reacionários de direita e esquerdistas, liberais e estatistas. É do jogo democrático e expressa as diferentes correntes políticas e ideológicas da sociedade.

Os dois episódios ocorridos em menos de 15 dias, nos quais depois de derrotado Cunha tramou na calada da noite e repetiu a votação do mesmo tema no dia seguinte, não encontram paralelo na história do parlamento brasileiro. Tanto em relação à questão do financiamento das campanhas como na redução da maioridade penal, Cunha rasgou sem cerimônia o regimento da Câmara e atropelou as regras básicas que sustentam o funcionamento de qualquer parlamento : a palavra empenhada e os acordos firmados.

Sua mente deformada por um autoritarismo doentio desconsidera preceitos democráticos fundamentais. Ao impedir a entrada de pessoas nas galerias para acompanhar as votações, ele nada mais faz do que expressar seu desprezo pela participação popular e pelo fato óbvio de que a Câmara  não pertence aos nobres deputados, mas sim ao povo que elege seus representantes. Pressionar deputados, portanto, é um direito do eleitor.

Cunha na presidência da Câmara é a consagração do atraso social e político. É um monumento à regressão civilizatória e um atentado permanente à laicidade do Estado. Haja vista a pauta das trevas que estimula, os projetos obscurantistas que desenterrou e faz tramitar na Câmara, alguns até em caráter de urgência. Para completar o desserviço à causa republicana, Cunha nomeou irmãos de fé evangélica para cargos-chave na estrutura da Câmara.

Em 1993, o eleitor brasileiro foi convocado a decidir através de plebiscito se desejava continuar no regime presidencialista ou mudar para o parlamentarismo. Ganhou o presidencialismo com mais de 70% dos votos. Só alguém que padece de um  déficit abissal e insanável de compromisso democrático pode tramar contra a vontade da população brasileira e articular a votação de uma emenda parlamentarista pela Câmara. E o PIG noticiou essa movimentação golpista de Cunha da forma mais natural. Também é aquela história : de onde menos se espera ... é que não vem nada mesmo.

Enrolado na Lava Jato e com um histórico alentado de denúncias e processos judiciais, Cunha, com seu telhado de vidro gigantesco, conta com o apoio da mídia mais canalha do planeta para solapar o governo da presidenta Dilma, inclusive, pausa para risada como diz o Paulo Nogueira, fazendo cobranças de natureza ética e moral.

O problema é que Cunha não está só. Ele cavalga impulsionado por um sentimento de intolerância e de ódio que hoje envenena o Brasil. Os 300 e poucos votos que o golpe da redução da maioridade obteve na noite desta quarta-feira, 1 de julho, são reveladores de que para a Câmara dos Deputados o céu é o limite para a liquidação dos direitos mais comezinhos da cidadania.

Diante da preocupação extrema com o presente e com o futuro do país, não há como não lembrar da seguinte pergunta metafórica : quem sai vencedor numa corrida entre um tubarão e um cavalo ? Depende, é claro, da raia de disputa, se no mar ou na terra. Ou seja, nesse Congresso democratas e progressistas perderão todas. Mas, nas ruas, na sociedade e nas redes têm chances de virar o jogo. Não há tempo a perder.  




segunda-feira, 29 de junho de 2015

O que ainda mantém Cardozo no governo ?

A atuação do ministro José Eduardo Cardozo à frente do Ministério da Justiça é um daqueles enigmas capazes de devorar quem não for capaz de decifrá-lo Se a Polícia Federal se transformou num monstro antirrepublicano completamente fora de controle, como todas as evidências apontam, o ministro a quem a PF deve obediência e subordinação tem de ser demitido em nome da preservação da hierarquia. No seu lugar, deve entrar alguém com capacidade para pôr o guizo no gato, freando as ações pirotécnicas e midiáticas da PF contra o PT, enquanto poupa adversários do governo.Contudo, permanece o mistério : por que será que o ministro Cardozo ainda não foi afastado pela presidenta Dilma ?

sábado, 27 de junho de 2015

O fracasso de Babilônia marca o fim da TV como a conhecemos

Por Paulo Nogueira, no DCM

O fim de uma ciclo na mídia
A Globo vive num regime de autoilusão, como se pode verificar pela entrevista com o diretor-geral Carlos Schroder publicada pela Folha.

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Perguntaram a Schroder sobre o fiasco da novela Babilônia, que dias atrás cravou 17 pontos no Ibope em São Paulo, um extraordinário recorde negativo na trajetória das novelas da Globo.
Schroder achou vários culpados.

O primeiro deles, naturalmente, é o povo brasileiro, “mais conservador” do que as pessoas imaginam.

Depois, ele citou uma novela da Record e outra do SBT.

Admitiu, ligeiramente, que alguma coisa na trama “não funcionou”.

Schroder só não tocou na maior razão do fracasso: o declínio veloz da televisão como mídia na Era Digital.
Rapidamente, a tevê como conhecemos caminha para o mesmo local reservado a jornais e revistas: o cemitério.

Considere o slogan do aplicativo de vídeos que a Reuters acaba de lançar: “A tevê de notícias para quem não vê tevê”.

O consumo de vídeos está cada vez menos na televisão e cada vez mais na internet.
No campo do entretenimento, sites como o Netflix e agora a Amazon oferecem uma fabulosa quantidade de séries, filmes e documentários.

Você vê quando quer, na hora que quer, o que quiser.

No campo das notícias, vídeos selecionados pelas comunidades são postados nas redes sociais, e ali consumidos – fora das emissoras tradicionais.

Uma parte expressiva dos vídeos que viralizam nas redes sociais é produzida pelos próprios internautas – ao flagrar cenas notáveis no dia a dia, como a surpresa que aguardou o dono de um automóvel que parou numa vaga de deficientes.

No esporte, você começa a ter a opção de assinar canais específicos para ver o que deseja – sem ter que comprar um pacote caro de tevê por assinatura.

Sabia-se faz tempo que a internet ia matar jornais e revistas. Mas não se imaginava que a tevê se transformaria tão celeremente na próxima vítima.

Uma pesquisa recente nos Estados Unidos mostrou que o número de pessoas que não se imaginam sem internet e celular cresceu vigorosamente nos últimos anos, na mesma medida em que decresceu o contingente dos que não podem viver sem tevê.

No Brasil, um levantamento deixou claro que televisão é hoje uma coisa para um público velho e com baixo nível de educação, exatamente o oposto daquilo que os anunciantes buscam.

A Globo, neste sentido, é a próxima Abril.

Caíram todas as circulações das revistas da Abril nos últimos anos. A única falsamente estável é a da Veja graças a manobras (custosas) que inflam artificialmente os números, e que os anunciantes fingem não ver.
Do mesmo modo, todas as audiências da Globo são uma sombra do que foram antes do surgimento e expansão da internet.

O Jornal Nacional luta para se manter na casa dos 20 pontos, marca que seria uma tragédia há dez anos.
O Fantástico já escorregou para baixo dos 20, e ninguém mais comenta o que ele deu ou deixou de dar.
Quando, no futuro, alguém for estudar a história da tevê convencional, Babilônia será citada provavelmente como um capítulo especial.

Babilônia, com sua miséria de Ibope, é o grande marco do fim da tevê como a conhecemos.

A culpa não é do povo, como quer a Globo, mas de uma coisa chamada vida, ou mercado, como você preferir.

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Quantos votos teve o juiz Moro ?

O juiz de primeira instância da Justiça Federal do Paraná, Sérgio Moro, sob os aplausos da mídia monopolista, tornou-se uma espécie de vingador das causas e ideias políticas derrotadas nas urnas ao logo dos últimos 12 anos, embora nunca tenha conquistado um voto sequer. Ele, procuradores do Ministério Público e delegados da Polícia Federal não hesitam em rasgar garantias constitucionais e afrontar o estado de direito em nome de uma pretensa cruzada para pôr fim à corrupção no Brasil.

domingo, 21 de junho de 2015

Quanto tempo mais até que um crime de ódio como o da Carolina do Sul ocorra no Brasil ?

Por Kiko Nogueira, no Diário do Centro do Mundo

Dylann Roof em foto de seu site The Last Rhodesian
Aos poucos, novos detalhes horripilantes do caso do jovem que abriu fogo numa igreja na Carolina do Sul, nos EUA, vão emergindo.

Foi revelado um manifesto racista que Dylann Roof escreveu num site que ele mantinha, The Last Rhodesian, O Último Rodesiano, atualmente fechado pelas autoridades. É um lixo confuso em que Roof expõe suas ideias sobre supremacia caucasiana.

Ele avisou o que faria: “Não tenho escolha. Não estou na posição de, sozinho, entrar num gueto e lutar. Escolhi Charleston [onde aconteceu o massacre] por ser a cidade mais histórica do meu estado, e por já ter tido o maior número de negros contra brancos no país”.

Há uma menção a nós no capítulo sobre os hispânicos — que são “obviamente um grande problema para os americanos”. Mas eles “têm respeito pela beleza Branca”. É fato que hispânicos Brancos (a maiúscula é dele) “formam a elite da maioria desses países”. “Há bom sangue Branco que vale a pena ser salvo no Uruguai, Argentina, Chile e até Brasil”, afirma.

Dylann, um “neo confederado”, é mais um numa fileira de assassinos em massa que todo ano atacam nos EUA. Mais um estúpido que ganhava armas de presente de aniversário.

É fruto também da cultura do ódio que se manifesta virtualmente até o momento em que se transforma em realidade. Por que ninguém soou o alarme? De acordo com amigos e parentes, ele falou de suas intenções algumas vezes. Seu colega de quarto revelou que Roof planejou uma arremetida à Universidade de Charleston.

O acontecido com Dylann é uma excepcionalidade americana e, portando, jamais terá uma réplica no Brasil?

O ambiente de ódio em que estamos metidos permite ver a tragédia rondando a cada esquina. Com total liberalidade, pessoas caluniam, ameaçam e agridem. Se o brasileiro cordial já não existia quando da formulação de Sérgio Buarque, ele foi definitivamente substituído pelo brasileiro desequibrado.

A deputada Maria do Rosário, por exemplo, contou em seu Facebook que foi ameaçada de morte num shopping de Porto Alegre. Segundo Rosário, um sujeito disse que “sua hora de morrer vai chegar”.
“Não respeitou os cabelos brancos de minha mãe de 80 anos, que ouviu isso. Não respeitou a criança que carregava pela sua própria mão, talvez um filho. Não respeita a dignidade e a distância física que se deve manter de cada um, concorde-se ou não com sua opinião política”, relatou. “Me resta denunciar, registrar ocorrência, processar. Não é um tiro. Não me matou, nem vou deixar de dizer o que acredito e fazer o que devo em coerência às ideias que me movem”.

Depois da entrevista com Dilma, Jô Soares foi homenageado com uma pichação na frente de seu prédio em Higienópolis: “Morra”. A coisa se torna um pouco mais assustadora se se levar em consideração que o degenerado que fez isso sabe onde o apresentador mora.

Perdeu-se o decoro. Um ex-ministro é hostilizado e expulso de um hospital, o Einstein, em São Paulo, sem que a instituição se manifeste de maneira resoluta sobre a agressão. Outro é incomodado num restaurante por um imbecil tão à vontade que filma a si próprio sendo um imbecil.

Um boçal vestido com um uniforme paraguaio do Bope assedia um frentista haitiano acusando-o de roubar empregos e de fazer parte de um exército bolivariano do Foro de São Paulo. O fascista que chefia os Revoltados On Line se hospeda no mesmo hotel do congresso do PT com os resultados conhecidos.
Uma menina de 11 anos que saía de uma festa do candomblé é atingida na cabeça por pedras atiradas por homens com bíblias na mão. Nenhuma grande liderança evangélica pede desculpas. Quer dizer, quase nenhuma: Malafaia, o doente mental, grita que os evangélicos não têm nada a ver com isso.
Um agente da Polícia Federal pratica tiro ao alvo com uma fotografia de Dilma. Postou a foto no Facebook, numa boa. Diante da repercussão, foi suspenso: quando dias de gancho.

No meio do clima de violência, Kim Kataguiri, do MBL, tem a rara sensibilidade de posar com um rifle de airsoft (variação do paintball) rogando para que um certo Benê Barbosa “vença” o Estatuto do Desarmamento. Barbosa é o presidente do Movimento Viva Brasil, que defende o porte de armas irrestrito no país. Para o anão moral Kim, esta é uma “iniciativa crucial para a liberdade”.

Depois da chacina em Charleston, Obama declarou que se recusa “a agir como se esse fosse o novo normal”. O Brasil está fazendo o oposto. Bem vindo ao nosso novo normal.

Kim Kataguiri quer armas para garantir sua "liberdade"
Kim Kataguiri quer armas para garantir sua “liberdade”