quarta-feira, 15 de junho de 2011

O valor de uma nota de 3 reais

A não confirmação da tragédia inflacionária profetizada pelos "especialistas" do mercado, e trombeteada pela imprensa, é só mais uma "barriga", mais um tiro n'água da turma do contra. Nenhuma novidade. Se recortarmos apenas o período de cerca de três anos, da crise econômica internacional até os dias de hoje, as previsões feitas pela mídia têm o valor exato de uma nota de 3 reais.

Na semana passada, o IBGE divulgou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo ( IPCA) de maio mostrando uma acentuada queda na inflação, que caiu de 0,77% em abril para 0,47%. no mês passado. Como desdenhou das medidas adotadas pela equipe do ministro Mantega para conter o surto inflacionário, coube ao jornal da família Marinho o papel mais constrangedor : o de divulgar no rodapé de sua página principal, com letras quase microscópicas, a seguinte chamada : "Inflação do aluguel deve ser negativa".

Como era de se esperar, nehuma satisfação foi dada ao leitor sobre as manchetes catastróficas anteriores, dando conta que o dragão da inflação voltara devorando tudo que via pela frente. Da queda da renda e do poder de compra do trabalhador à retração de investimentos, passando pela perda de credibilidade do país devido ao estouro da meta inflacionária, tudo apontava, segundo O Globo e congêneres, para o retorno do uso frenético, por parte dos supermercados, das maquininhas infernais de remarcação de preços que tanto estrago causaram ao bolso do consumidor brasileiro em passado recente.

É incrível como, no afã de agradar aos rentistas do mercado e fazer política contra os governos de Lula e Dilma, a mídia não faz a mínima autocrítica dos seus incontáveis erros e previsões e segue em frente como se nada tivesse acontecido. Sem esforço de memória, podemos selecionar, entre tantos, várias episódios em que os jornalões, as revistas e a Globo literalmente quebraram a cara :

Crise econômica mundial (2008/2009) - Todas as medidas anticíclicas adotas pelo governo sofreram forte bombardeio midiático. Se o presidente Lula desse ouvidos a essa gente, não teria incentivado o crédito, promovido isenção tributária em áreas intensivas de geração de emprego, fortalecido os bancos públicos e as estatais. As medidas preconizadas por Míriam Leitão e Cia. iam no sentido oposto :arrocho salarial, corte nos gastos sociais e freada brusca no crescimento econômico.

Política externa - Toneladas de papel foram gastas pelos jornalões e um sem número de programas de entrevistas foram levados ao ar pelas emissoras de TV com o objetivo de alertar para os riscos da guinada da política externa do Itamaraty na Era Lula. "Como ousam rejeitar o alinhamento automático aos EUA e à União Europeia e priorizar a integração das nações do continente sul americano e as relações sul-sul em esfera global?", cobravam os saudosistas da política de bajulação à nações poderosas. Hoje nossa política externa soberana é respeitada no mundo interno e Lula é uma das maiores lideranças do planeta.


Eleições 2010 - Assim que surgiram as primeiras informações de que a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, seria a candidata do PT e do presidente Lula, dez entre dez articulistas apostaram todas as suas fichas na derrota da atual presidente. Justificavam, com a conhecida empáfia, que o Brasil não tinha tradição de transferência de popularidade de um político para outro; que a  falta de experiência de Dilma lhe seria letal; que o mais "preparado" dos candidatos, José Serra, seria eleito com relativa facilidade, conforme indicavam as pesquisas da época. Ainda bem que de política esse pessoal entende tanto quanto eu de fissura atômica.

Queda de Palocci - Quem ligava a TV, lia os jornais ou ouvia as rádios se deparava com o vaticínio inexorável : a demissão do ministro Palocci, antecedida por uma crise que consumira o governo por longas três semanas, somada à desarticulação do governo no Congresso Nacional e às disputas na bancada do PT na Câmara, certamente corroera a popularidade da presidenta. A próxima pesquisa, cujos primeiros dados já vazavam, apontavam para uma significativa perda de apoio de Dilma. Nada mais falso. A divulgação da pesquisa do Datafolha no domingo passado revela que a avaliação positiva do governo não só se manteve, como oscilou para cima : subiu de 47% para 49% o percentual de brasileiros que considera o governo ótimo ou bom.

E ainda se dizem formadores de opinião. Meu Deus !

Um comentário:

  1. Excelente análise e, como sempre, texto primoroso. Os estrategistas do sistema globo deveriam acender uma luz vermelha. Será que não se dão conta que estão se auto-destruindo como órgão de informação e "pseudo" formadores de opinião?
    De certa forma é ótimo.Esse comportamento só propicia e promove o surgimento de espaços de informação, inteligentes e independentes, como esse.Adorei.
    joão

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