sexta-feira, 15 de julho de 2011

O campo minado do udenismo

O PT pagou um alto preço político por ter defendido a ética na condução da coisa pública como uma das suas principias bandeiras políticas. Inebriado pelo aplauso da classe média, e pelo seu crescimento vertiginoso, o partido chegou ao topo da arrogância ao se julgar detentor do monopólio da ética na vida política nacional. Deu no que deu. Os fatos, porém, trataram de recolocar a questão nos trilhos : ética como instrumento de ação política não passa de uma armadilha conservadora, cuja vítima da vez tem tudo para ser o Psol. O comportamento ético deve ser inerente a cada pessoa, deriva da formação do ser humano. Cabe aos partidos políticos manterem vivos e atuantes mecanismos que possam não só coibir, como punir desvios éticos.

A questão se torna ainda mais complexa quando examinamos agremiações políticas de massa como o Partido dos Trabalhadores. Formado evidentemente por seres humanos, que formam um mosaico gigantesco e multifacetado no que se refre a origem, educação, formação profissional e política, expectativa de militância, projetos, boas e más intenções. Em outras palavras, uma babel de qualidades e defeitos. Isso para se ater apenas ao plano objetivo, deixando de lado o infinito universo psíquico das subjetividades.

Nenhum politiburo, conselho de ética ou instância assemelhada seria capaz, portanto, de passar um pente fino na enorme estrutura partidária nacional do PT, dando plantão na porta  do partido, permitindo o ingresso dos puros e barrando os impuros. Isso não significa, de forma alguma, leniência e tolerância com malfeitos. Para tratar de condutas inadequadas, o partido tem suas instânias, regras e estatuto. Se funcionam bem ou mal, com frouxidão ou rigor, se acertam mais ou erram mais, é outra discussão, para a qual  sejam necessários pelo menos uns dez posts aqui neste meu canto.

Meu ponto hoje é outro. Quero falar do Psol. Não que ache que esse partido tenha expressão social e política suficientes para virar protagonista nas disputas pelo poder. Ao contrário, noves fora um lampejo eleitoral individual de um parlamentar aqui, outro acolá, o partido deve ibernar ainda por um longo tempo na condição de nanico. Isso porque se sobra moralismo udenista-lacerdista, faltam projetos exequíveis para o Brasil; se não hesita em apontar o dedo acusador contra tudo e contra todos, falta dizer o que pensa sobre gestão da economia, geração de emprego e renda, política externa, inflação, dívida pública,etc.

E pior : mostrando que não aprendeu bulhufas com a lição histórica do PT, o Psol desponta como o mais forte candidato à condição de principal vestal  da moralidade do mundo político. Fiéis a esse script, seus pouquíssimos parlamentares há muito fizeram uma opção peculiar : trocaram a elaboração e a apresentação de projetos que contribuam para melhorar a vida do povo pela banalização das acusações contra adversários políticos, pedidos de instalação de CPI contra Deus e a humanidade, além de toda sorte de interpelações a autoridades de A a Z. Será que é razoável a frequência com que suas figuras públicas transitam por delegacias policiais, tribunais e ministério público ? A despeito de se guiarem em alguns destes casos por nobres sentimentos humanitários e de justiça, é evidente que há um viés oportunista neste foco policialiesco de atuação.

Outro desserviço notório prestado por esse partido reside na cantilena sistemática contra a " velha política" e os "velhos políticos", em cujas categorias se enquadram todos os partidos, dirigentes e militantes do espectro político, da esquerda à direita, passando pelo centro, centro-direita e centro-esquerda. Não escapa ninguém. Só eles próprios, é claro. Moderno, honesto e avançado, só o Psol. Como a alternativa à política é a barbárie, esses "revolucionários" não entendem que a desmoralização da política cria o terreno fértil para as aventuras "despolitizadas" e autoritárias de triste memória no Brasil, na América Latina e no mundo.

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