Camaleão com alma tucana

Carregando o estandarte da fanfarronice, o negócio do ministro Nelson Jobim é servir a governos. A quaisquer governos. Filiado ao PMDB, ministro da Justiça de FHC, ministro do Supremo indicado por FHC, ministro da Defesa de Lula, ministro da Defesa de Dilma e general faz de conta, que veste farda cheia de estrelas sem noção do ridículo. Em flagrante desrespeito à presidenta Dilma, ele confessou ter votado em Serra.Numa agressão gratuita aos colegas do governo atual, Jobim disse que "os idiotas de hoje perderam a modéstia", em plena festa pelos 80 anos de FHC. Os episódios, no entanto, não causam surpresa aos que se dão ao trabalho de observar, mesmo que de passagem, sua trajetória. Fora Jobim!

Recuar 23 anos no tempo pode ser últil para entender melhor os valores do ministro da Defesa.Uma passagem, no mínimo nebulosa, marca sua atuação como relator da Consituição de 1988. Anos depois de promulgada a nova Carta, Jobim admitiu que sabia da inclusão de emendas piratas no texto, certamente produzidas por confábulos entre "capas-pretas", à revelia das normas constitucionais que regiam a Assembleia Nacional Constituinte e do regimento do Congresso. Infelizmente, logo que a notícia veio à tona, uma bem sucedida operação-abafa, com a "elite" do Congresso Nacional numa ponta, e a velha mídia na outra, tratou de engavetar o assunto.

Já ministro da Defesa de Lula, com direito à farda de araque, não esqueçamos que foi Jobim quem insuflou os ministros militares a se pintarem para a guerra contra o Plano Nacional de Direitos Humanos apresentado pelo ex-ministro da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, Paulo Vanucci. Na ocasião, ele não hesitou em constranger o presidente com o risco de eclosão de uma crise institucional, causado pela ameça de demissão dele próprio e dos ministros das três Forças. O principal motivo da histeria fardada era a proposta de criação da Comissão da Verdade, que em sua versão inicial abria a possibilidade de punição para os crimes de tortura  (considerados de lesa-humanidade até pela ONU) durante a ditadura.

Enquanto isso, no front do Judiciário, Jobim esteve na linha de frente, junto com a AGU, da luta para impedir a aprovação pelo STF de ação da Ordem dos Advogados do Brasil questionando a abrangência da anistia também para os toruradores da ditadura militar. A tese da Ordem se apoiava no entendimento de dez entre dez organizações de defesa dos diretos humanos, e posta em prática em todos os países da América do Sul, exceto o Brasil, de que a anistia se referia apenas aos "delitos" de natureza política e conexos. E tortura não figura no rol dos delitos políticos, por se tratar de crime contra a humanidade e, portanto, não passível de anistia e prescrição. A decisão do Supremo de anistiar para sempre os torturadores fez a festa de Jobim e dos milicos.

No governo atual, ao perceber que a instalação da Comissão da Verdade era uma política de governo da qual a presidenta Dilma não abriria mão, Jobim mudou de estratégia. Ao mesmo tempo em que suas declarações públicas têm o claro propósito de vender a ideia de que ele é o fiador da nova posição da cúpula militar, agora favorável à Comissão da Verdade, trabalha nos bastidores incansavelente para que sua formatação e funcionamento sejam os mais adocicados possíveis e palatáveis à caserna, travando um cabo de guerra com a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário. Não satisfeito, Jobim deu curso e aceitou passivamente a versão cínica e descabida dos generais, alimirantes e brigadeiros sobre o destino dos documentos referentes à repressão política na ditadura, segundo a qual eles teriam sido insinerados.

 Presidenta Dilma, não mantenha um adversário político e ideológico tão feroz entre seus auxiliares. Não é possivel que o Brasil não disponha de um quadro com as qualificações necessárias para o cargo de ministro da Defesa.

Fora Jobim !