Logo na apresentação, a peça de ficção assinada pelos três Marinhos ( Roberto, João Roberto e José Roberto) dá mostras do desconforto causado pelo avanço das mídias livres e da blogosfera : "Com a consolidação da Era Digital, em que o indivíduo isolado tem facilmente acesso a uma audiência potencialmente ampla para divulgar o que quer que seja, nota-se certa confusão entre o que é ou não é jornalismo, quem é ou não é jornalista." Em seguida, no preâmbulo "Breve Definição de Jornalismo", o texto da Globo expõe com riqueza de detalhes sua visão retrógada do que é e o que não é jornalismo, sempre na linha de salvar a pele da velha mídia e menosprezar as iniciativas independentes da sociedade.
Por vias transversas, a Globo acaba admitindo que não faz jornalismo. Observe : " Pratica jornalismo todo veículo cujo propósito central seja conhecer, produzir conhecimento, informar. O veículo cujo objetivo central seja convencer, atrair adeptos, defender uma causa, faz propaganda. Um está na órbita do conhecimento; o outro, da luta político-ideológica." Ora, Salve ! Como a Globo defende com conhecida virulência suas causas políticas ( privatizações, fim das cotas raciais e sociais, política externa não soberana e alinhada aos EUA e Europa, cortes nos gastos sociais, etc), ninguém faz mais propaganda do que ela, em detrimento do jornalismo.
Com todas as letras, sem malabarismos verbais, o tal preâmbulo dos princípios editoriais agride a inteligência dos minimamente informados quando assegura que as Organizações Globo fazem um "esforço consciente" para que haja em suas fileiras cronistas, articulistas e analistas de várias tendências. Como é que é ? Quer dizer então que Miriam Leitão, Sardemberg, Arnaldo Jabour e Lúcia Hipólito pertencem a correntes de pensamento diferentes ? Quando, em que momento de sua história, a Globo manteve entre seus comentaristas críticos do neoliberalismo ou do capital financeiro? Os poucos que ousaram não comungar com os mandamentos de Ali Kamel foram demitidos - casos de Frankilin Martins, Rodrigo Viana e Luis Carlos Azenha.
Mas é no capítulo dedicado a jurar de pés juntos que pratica um jornalismo pautado pela isenção que o festival de sandices ganha mais densidade. Quem ainda não leu, é melhor fazê-lo sentado para não desabar diante de tantas bravatas e falsos compromissos em torno de premissas básicas do jornalismo.
Globo :" Sem isenção, a informação fica enviezada, viciada e perde qualidade."
Comentário : Será que a Globo está se referindo à sua edição do debate Lula x Collor, em 1989, ou ao apoio que deu ao esquema Proconsult, para tentar evitar a vitória de Brizola, em 1982 ?
Globo : " Na apuração, edição e publicação de uma reportagem, seja ela factual ou analítica, os diversos ângulos que cercam os acontecimentos que ela busca retratar ou analisar devem ser abordados. O contraditório deve ser sempre acolhido, o que implica dizer que todos os diretamente envolvidos no assunto têm direito à sua versão sobre os fatos, à expressão de seus pontos de vista ou a dar as explicações que considerar convenientes."
Comentário : Tubo bem. É só comparar, ao longo da história da Globo, o espaço destinado a notícias positivas sobre candidaturas e partidos conservadores e de direita ( tucanos, demos e afins) com as informações favoráveis ao PT e partidos do campo progressita e de esquerda. A proporção deve ser 10 a 1 para a direitona.
Globo : "As Organizações Globo são apartidárias e os seu veículos devem se esforçar para assim ser percebidos"
Comentário : Ok, que o digam FHC, Alckimin e Serra e outros tucanos sempre beneficiados por este estranho apartidarismo.
Globo : "Fora do noticiário propriamente dito, os veículos das Organizações Globo buscarão ter um corpo de comentaristas, cronistas e colaboradores, fixos ou eventuais, que seja plural, representando o arco mais amplo de tendências legítimas em uma sociedade democrática."
Comentário : Meu ouvido não é penico.
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