sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quando o fracasso sobe à cabeça

Para tudo na vida tem limites. Até para a cara de pau. Depois de ter sido barrado dos programas eleitorais de TV do seu partido nas três últimas eleições presidenciais, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se "reinventou" como dizem seus amigos e apoiadores do PIG. De responsável pela privataria tucana a defensor da descriminalização da maconha. De condutor de uma política econômica que fez o país quebrar três vezes a "pai da estabilização". De índices recordes de reprovação popular ao deixar o governo aos espaços generosos concedidos pela velha mídia. Haja reinvenção para inglês ver. Agora, virou vestal da moralidade e acusa o governo Lula de consolidar a "corrupção sistêmica no país". Logo ele, cujo telhado de vidro em matéria de corrupção chega a ser maior do que a bajulação recebida dos Mervais, Catanhêdes e Leitões da vida.

Mas como quem tem padrinho não morre pagão, ainda ontem (25) a edição do Jornal Nacional deu mais uma mãozinha ao amigo FHC. Numa extensa reportagem sobre a libertação do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, depois de três anos e onze meses em cana, foi citado de tudo um pouco : o prejuízo bilionário aos cofres públicos causado pela tabelinha Banco Central - Banco Marka (de propriedade de Cacciola); as ramificações do esquema, indicando nome por nome outros diretores do Banco Central à época (1999) e suas respectivas condenações e absolvições; a fuga do banqueiro para a Itália até ser caputurado pela Interpol em Mônaco.

Só faltou situar o telespectador do JN no tempo e no espaço. Nehuma palavra sobre o óbvio : tudo aconteceu em pleno governo FHC, aliás logo no início do seu segundo mandato, e na esteira de uma das maiores barbeiragens de política monetária da história da República : a maxidesvalorização do real, na bacia das almas, da noite para o dia, depois de quatro anos de paridade dólar-real, farra fiscal que arruinou as contas púbicas. Seus reflexos fizeram com que FHC, no seu segundo mandato, tivesse que recorrer ao FMI seguidas vezes para tapar o rombo das contas brasileiras.Para se ter uma ideia do tamanho do estrago produzido, sobrou mais tarde até para Lula, que se viu forçado a promover um profundo ajuste fiscal logo depois de empossado presidente, em janeiro de 2003.

A pose de FHC como novo cruzado da luta anticorrupção não resiste, porém, a um sopro de realidade, ainda mais se compararmos suas ações contra malfeitos com as do ex-presidente Lula. Para começar, a Polícia Federal da Era Lula fez mais de 500 operações contra criminosos do colarinho branco; FHC só oitenta e poucas. Também não há termos de comparação entre a atuação da Controladoria Geral da União nos dois governos. Foi no período de Lula que a CGU ganhou musculatura institucional  e autonomia para agir. O procuradores-gerais da República nos governos de Lula investigavam, apresentavam denúncia ( até contra gente do governo), atuavam. Já o de FHC entrou para a história com a alcunha de "engavetador-geral da República."

E mais : tem moral para apontar o dedo acusador para Lula um presidente como FHC que mudou as regras com o jogo em andamento e conquistou mais um mandato às custas da compra de votos na Câmara dos Deputados ? E a Vale vendida a preço de banana ? E o escândalo da privatização das teles ? E os leilões fianciados com dinheiro público do BNDES das empresas de siderurgia ? E "pasta-rosa", "Sivam" e tantos outros casos nebulosos abafados pela mídia e por sua maioria parlamentar da época ?

O povo não é bobo.

Ilustração : Bira, publicada no blog do Miro : altamiroborges.blogspot.com


                                    









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