domingo, 13 de novembro de 2011

Vocação de estadista

Elogiar políticas de segurança pública ainda é uma espécie de tabu para uma boa parte da esquerda. Pudera. A ditadura militar deixou como herança para as nossas polícias o desrespeito aos direitos humanos e a criminalização dos pobres. Essa ideologia vinha norteando até há pouco as políticas (ou a falta delas) de segurança postas em prática no Rio de Janeiro, quase sempre comandadas pela banda podre da polícia e manchadas pela corrupção e pela violência contra inocentes. Foi preciso um policial federal de carreira, de fala mansa e firmeza de propósitos, para promover uma verdadeira revolução na área da segurança pública. Queiram ou não os do contra, em sua eterna e inglória cruzada contra a realidade, o secretário José Mariano Beltrame é uma estadista a serviço da população do Rio de Janeiro. A tomada da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu sem um tiro sequer, depois de 60 anos de domínio do tráfico, abrindo caminho para a 28ª UPP, é o melhor presente de final de ano que os cariocas poderiam receber.
Já sei que os incapazes de contextualizar as coisas, de entender o processo gradual das conquistas, e que só conseguem ver o mundo através da ótica da disputa política, vão continuar falando nas mazelas da militarização das favelas, das mais diversas modalidades de crimes que persistem nas áreas das UPPs e da truculência de alguns soldados no trato com a população. Ah, também seguirão batendo firme na tecla de que a UPP é uma espécie de samba de uma nota só, uma ilha de ações meritórias, cercada por um mar de omissões, abandono e incompetência.


Primeiro que assalto, roubo e tráfico de drogas existe e vai continuar existindo por todo o sempre em Ipanema, Leblon, Tijuca, Barra, Méier, Gávea, Campo Grande, Penha, enfim, em todos oa bairros do Rio, bem como em Paris, Nova Iorque, Roma, Berlim ou Bruxelas.Simples assim : onde tem ser humano, tem crime. Aos poderes públicos cabe reduzi-los ao mínimo possível.

O alvo da minha preocupação quando penso nesta contenda entre as forças de segurança e as quadrilhas de narcotraficantes é sempre o morador das favelas : centenas de milhares de homens, mulheres e crianças há décadas vivendo sob o jugo do terror e da tirania dos bandidos. Reparem que a maioria dos críticos das UPPs é formada por gente bem nascida, que sequer sonha o que significa perder um filho para o tráfico, ou que faz questão de esgrimir sua pretensa erudição, desde que, é claro, bem distante do drama dos que estão no olho do furacão da guerra do tráfico.

É claro que as UPPs só fazem sentido com o Estado levando serviços, aplicando programas sociais e  implantando os equipamentos urbanos a que todos têm direito. Devemos pressionar sempre para que isso aconteça. Mas nada disso será possível sem a retomada do território por parte dos poderes constituídos. E o projeto vitorioso das UPPs visa essa retomada. Ou seja, é o ínício de um longo processo de resgate da enorme dívida social que o Estado tem com essas populações. Uma vez libertadas, o objetivo a ser alcançado é a transformação dessas favelas em locais de moradia dotados de toda infraestrutura que os demais bairros da cidade possuem. Neste momento me vem à cabeça um pequeno trecho de um funk que diz assim : " Eu só quero é ser feliz e andar tranquilamente na favela onde eu nasci..."

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