Os responsáveis pela crise grega (banqueiros e políticos que lhes dão sustentação) fazem de tudo para que sua vítima, a população grega, pague a conta amarga produzida por anos a fio de desregulamentação financeira, de especulação desenfreada e de rendição completa aos ditames do mercado. Mas faltou combinar com o povo grego, que resiste heroicamente. O que a mídia ocidental chama de vandalismo e banditismo são, isto sim, atos legítimos de resistência cívica diante de uma injustiça brutal. Os prédios e carros incendiados na Praça Sintagma, em Atenas, expressam a indignação de um povo espoliado pela banca, a ponto de engrossarem a fila do desemprego 22% dos gregos. Entre os jovens até 24 anos, o índice de desocupação atinge alarmantes 48%.
Com a aprovação do pacote neste domingo, o salário mínimo sofrerá uma redução de 22%, as pensões serão reduzidas drasticamente e 150 mil funcionários públicos serão demitidos. Tudo para economizar, só em 2012, 3,3 bilhões de euros e garantir o recebimento da segunda parcela de "ajuda" ( 130 bilhões de euros) por parte dos verdadeiros carrascos da economia da Grécia : a União Européia e o Fundo Monetário Internacional. A chantagem é explícita : ou o governo e o parlamento do país aceitam a imposição de sacrifícios descomunais ao povo grego, ou a Grécia mergulha nas trevas do calote e da saída da União Europeia.
Contudo, não é preciso ser especialista em economia para perceber o quanto esses pacotes de alltíssimo custo social são inúteis. Se o governo dito social-democrata grego não tivesse se rendido ao poder dos bancos e aderido às teses neoliberais, faria as contas tão simples quanto impactantes : refém da agiotagem dos bancos franceses e alemães, especialmente, não há empréstimo do Banco Central Europeu e FMI capaz de resgatar,de sanear a economia da Grécia, que pelas contas mandrakes do mundo das finanças deve mais do que o dobro do seu Protudo Interno Bruto. Ou seja, toda a penúria de trabalhadores, sevidores públicos, aposentados e pensionistas gregos será, inevitavelmente, em vão.
Está na cara, portanto, que a sanha dos bancos por impôr pacotes sobre pau e pedra visa apenas a sugar da economia grega o máximo possível antes que se consume a inevitável moratória. Fora da órbita de jornalistas comprometidos até a medula com o neoliberalismo mais rudimentar, como Míriam Leitão, Sardemberg e Cia., e dos porta-vozes do rentismo de todos os matizes, há a certeza de chegou a hora de a Grécia seguir o modelo argentino e drecretar a moratória da dívida o quanto antes. A Argentina, depois que tomou essa decisão soberana, apertou os cintos, atravessou uma forte recessão por dois anos, mas saiu do outro lado. Desde então, sua economia não para de crescer e se dinamizar.
A tática sangue-suga da banca em relação à Grécia não hesita também em apelar para a retórica mais terrorista possível. Dizer que o eventual colote grego teria um efeito dizimador sobre a União Europeia, levando de roldão, por contágio, toda a Zona do Euro, é uma bobagem que não resiste a um mínimo de confrontação com a realidade e só serve para apertar o torniquete da chantagem. Sobre o assunto, vale a pena ler as declarações do prefessor de Economia Internacional da UFRJ, Reinaldo Gonçalves, publicadas na edição de O Globo desta segunda-feira (13/2). Ele lembra que essa crise é um problema da própria Grécia e não se refletirá com força na Europa e nos países emergentes, uma vez que os bancos alemães e franceses, principais credores da dívída grega, já se capitalizaram à espera do pior :
- A Grécia é um país pequeno. Se quebrar não var ter problemas para os bancos, que se prepararam. Se eu fosse grego, seria contra o pacote. Quem está no poder propondo os ajustes são os políticos e os bancos, os culpados pela crise, que querem socializar os prejuízos. Se saísse da Zona do Euro, o país teria uma crise de uns dois anos e, talvez, menos dolorosa - afirma Reinaldo Gonçalves.
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