Ler e ouvir notícias sobre os debates das primárias do Partido Republicano, que vão definir o candidato que enfrentará Obama este ano, é de dar calafrios. É terrível constatar como em plena era do conhecimento, da revolução tecnológica e afirmação de valores civis imperativos como os direitos humanos, candidatos a presidente da ainda maior potência do planeta disputem, com ampla cobertura da mídia ocidental, uma espécie de rali ultradireitista e até medieval. Quem se mostrar mais xenófobo, inimigo de conquistas civilizatórias, contrário aos interesses dos trabalhadores, avesso à saúde e educação públicas e beligerante contra os países que não rezam na cartilha dos EUA leva o troféu de candidato do partido.
Obama agradece. Mesmo tendo feito um governo medíocre, que atirou bóia de salvação com dinheiro público para os banqueiros responsáveis pela megracrise das hipotecas imobiliárias e que condenou ao desemprego mais de 15 milhões de trabalhadores americanos, é difícil acreditar que a maioria do eleitorado dos EUA opte por um retrocesso político, social, comportamental e de valores jamais visto. Aqui,acho importante manifestar minha decepção com Barack Obama.
Não que esperasse dele um governo revolucionário impulsionado pela novidade simbólica e política avassaladora de um negro chegar à Casa Branca. A frustração vem de sua submissão total ao establishment financeiro e bélico dos EUA. Os episódios dos assassinatos de Bin Laden e Kadafi sem o devido julgamento justo, o apoio incondicional a Israel e a campanha contra o Irã dão bem a dimensão das escolhas do presidente americano.
Hoje, terça-feira, 28 de fevereiro, acontecem as prévias republicanas no estado de Michigan. Certamente, os principais candidatos republicanos seguirão firmes na defesa de suas teses e propostas programáticas, que são de corar de vergonha até mesmo gente de cabeça conservadora, mas com um mínimo de sensibilidade social e apreço pelas conquistas da humanidade ao longo da história.
Um dos favoritos, o ex-governador de Massachusets, Mitt Romney, continuará acusando os sindicatos e suas reivindicações e conqusitas pela crise americana. Em Detroit, na semana passada, ele atacou ferozmente o socorro governamental às fábricas da GM e da Chrysler, embora essa ajuda, na forma de desoneraçaão temporária de impostos, tenha salvado um milhão de empregos.
- Na minha opinião, a indústria automobilística entrou em crise porque a UWA ( sigla americana do sindicato que representa os trabalhadores da indústria automobilística de Detroit) exigiu demais e por tempo demais - disse o bilionário candidato republicano, que prega também o aumento da idade mínima para o acesso ao Medicare ( programa de saúde publica para idosos), que é de 65 anos, e a idade mínima para aposentadoria, atualmente de 67 anos para todos que nasceram depois de 1960.
Seriam somente bizarras, se não fossem deploráveis do ponto de vista social e humanitário, as pregações de outro forte candidato republicano, Paul Santorum, ex-senador da Pensilvânia. Além de se declarar inimigo nº 1 dos métodos anticoncepcionais, o candidato inovou na sua obsessão antiaborto. Se eleito, pretende proibir os exames pré-natal (pasmem, mas é isso mesmo), pois segundo suas convicções imbecis, esses exames induzem ao aborto de fetos com problemas genéticos. Veja a gravidade disso : para um dos candidatos a se tornar, como diz a mídia, o homem mais poderoso do mundo, que se dane a saúde da gestante e do feto.
Outro postulante de peso, o ex-presidente da Câmara dos Representantes ( Deputados), Newt Gringrich, bate insistentemente na tecla de que é preciso armar a oposição síria. Saída negociada, opção diplomática para a crise síria ? Nem pensar. São pontos comuns dos programas de todos os candidatos republicanos a redução drástica do pagamento de impostos por parte da classe média e dos ricos, a sustentação radical (política e militar) do expansionismo de Israel e do massacre do povo palestino, uma solução militar para o caso do Irã (cujo crime é não se dobrar aos EUA, ser rico em petróleo e querer deselvolver tecnologia nuclear) e a ampliação do embargo econômico a Cuba, inclusive apoiando as ações de sabotagem dos grupos anticastristas da Flórida.
Não, decididamente, nas eleições norte-americanas não é correto dizer, com o simplismo que nos é peculiar, que tanto faz, como tanto fez. Que democratas e republicanos são farinhas do mesmo saco. Até que em muito aspectos são mesmo. Mas, nada é tão ruim que não possa piorar. E os republicanos no poder repressentam a certeza de uma descida muito abaixo do fundo do poço atual.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário