quinta-feira, 29 de março de 2012

Hora de acertar contas com o obscurantismo

O Brasil já é a sexta maior economia do planeta. Nossas políticas de inclusão social e a consolidação de um grande mercado interno de massas são reconhecidas no mundo inteiro. Enquanto a crise financeira internacional provoca o esfarelamento de muitas economias, a brasileira dá sinas de vitalidade, apesar dos problemas causados pela guerra cambial e pela invasão dos importados. Estamos no centro das atenções mundiais com a realização da Copa e das Olimpíadas. Pois bem, esse país que se afirma na cena mundial no presente e projeta um futuro auspicioso, não pode continuar refém do preconceito, da intolerância e do obscurantismo. Muito menos ver interditados debates importantes para a ampliação das conquistas da cidadania, tais como a criminalização da homofobia e a descriminalização do aborto.

Não bastasse a podridão da campanha eleitoral de 2010, quando o candidato Serra e a velha mídia, contando com o auxílio luxuoso de Marina Silva, transformaram a disputa eleitoral num verdadeiro atentado às liberdades civis e republicanas, agora, com a aproximação das eleições municipais, a mesma intolerância de cunho moralista e religioso se volta contra o candidato Fernando Haddad.

O tal kit anti-homofobia, elaborado à época em que Haddad era ministro da Educação, vem servindo de pretexto para que o fundamentalismo católico e evangélico afie as garras contra o candidato do PT à prefeitura de São Paulo. Já se tem notícia de padres e pastores pedindo aos fiéis durante missas e cultos para que neguem o voto em Haddad.

 E a onda fundamentalista só tende a crescer com entrada em cena de Serra e, certamente, de sua esposa Mônica Serra, que na campanha de 2010 disse que a candidata Dilma “era a favor de matar criancinhas”, mas depois submergiu quando uma ex-aluna sua entregou seu relato, em plena sala de aula, de que ela própria já praticara aborto.

Mas o que volta a acontecer em São Paulo está longe de ser um caso isolado. O fundamentalismo evangélico e católico tem acuado a representação política dos setores progressistas e republicanos da sociedade, a ponto de projetos de lei e emendas parlamentares de inspiração laica empacarem no Congresso Nacional, nas assembleias legislativas e nas câmaras de vereadores de todo o país. Tudo para não melindrar as bancadas evangélicas, com seu conhecido poder de barganha, e não afrontar o pensamento católico conservador. O governo federal por sua vez não dá um passo sem medir pragmaticamente as repercussões políticas junto a esses segmentos.

Assim, a classe política brasileira se acovarda diante da necessidade óbvia de encarar o aborto como questão de saúde pública. Enquanto isso não acontece, as mulheres da classe média para cima abortam nas caras clínicas particulares, enquanto centenas de milhares de moças pobres vão morrendo ou sofrendo graves seqüelas, vítimas de abortos caseiros ou feitos por “curandeiras.”

Por se curvarem diante da força política fundamentalista, os políticos também fingem não ver que o preconceito e a intolerância presentes na sociedade contra os homossexuais só faz crescer a espiral de violência contra eles. Dia sim, outro também, tomamos conhecimento de casos de agressões e assassinatos de homossexuais.

Esse quadro alarmante, no entanto, não sensibiliza os deputados federais, pois o projeto que criminaliza a homofobia há anos dorme nos escaninhos da Câmara dos Deputados. E nem mesmo um kit anti-homofobia o governo federal tem coragem de levar às escolas, optando por recuar e pedir desculpas aos evangélicos, como fez o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho.

O fato é que já passou da hora de o Brasil confrontar as teses obscurantistas, jogando luz nas trevas da intolerância de todos os matizes.  Cabe, portanto, aos setores da sociedade que defendem estados laicos e republicanos dar uma espécie de “dá ou desce” nos seus legisladores, ou seja, vereadores, deputados e senadores.

O que está em jogo é o Brasil que queremos. Se uma nação solidária, tolerante, justa e libertária, ou um país que convive passivamente com a violência e o preconceito contra pobres, negros, índios, sem-terra, homossexuais e mulheres.

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