terça-feira, 3 de abril de 2012

Uma bandeira esfarrapada

O caso Demóstenes é o prego no caixão da única bandeira política da oposição contra o governo Dilma, assim como foi contra Lula : o falso discurso de cunho moralista/udenista, amplificado pelo PIG. Não que os democtucanos e seus apoiadores na mídia pretendam aposentar essa estratégia. O problema é a eficácia dessa linha de atuação. As últimas eleições presidenciais revelaram uma influência cada vez menor do denuncismo como elemento formador da convicção de voto.Nada mais equivocado (o PT que o diga) do que fazer de um valor pessoal e intransferível como a ética mero objeto de proselitismo político.Onde tem ser humano, tem virtude e tem vício.Tem qualidade e tem defeito. Tem luz e tem trevas.

Mas a direita brasileira tem companhia nesta bobagem de posar de vestal da política ; os nanopartidos radicais de ultraesquerda. É o caso do Psol que, embora formado em sua grande maioria por ex-militantes do Partido dos Trabalhadores, se mostra incapaz de aprender com o grave erro cometido pelo PT, que durante boa parte dos seus 32 anos de vida se jactou de possuir uma espécie de monopólio da lisura no trato da coisa pública.

Na semana passada, me chamou a atenção, no programa partidário do Psol na TV, como esse partido trocou a política pelo moralismo e as formulações factiveis para o Rio de Janeiro e o Brasil por um punhado de frases feitas e clichês contra tudo e contra todos. Nenhuma política de governos do PT e aliados é meritória. Todos os adversários praticam a "velha política". Só eles são inovadores e revolucionários. Um desfile de senhores de cabelos brancos, seus parlamentares e lideranças cuja experiência na militância parece de nada valer, se revezavam  para desfiar um rosário de exemplos de pureza, de não contaminação do partido, tais como não aceitar aumento de salário na Câmara dos Vereadores do Rio e nem carro novo. Ora, faça-me o favor !

Voltando ao caso Demóstenes, ele só reforçou um antigo sentimento meu. Todo defensor obssessivo da moral e dos costumes, que não hesita em acusar sem provas e vociferar na direção dos pecadores, no fundo, busca erguer um dique de proteção dos seus próprios malfeitos. Mas também acredita quem quiser. A mídia não conta, pois vive a incensar a "retidão moral" dos cardeiais da oposição por puro interesse político. Por isso, apesar da privataria tucana, Ali Kamel concede espaços generosos do JN para o senador Álvaro Dias atirar contra o governo. Por isso, os mensalões do DEM, em Brasília, e dos tucanos, em Minas Gerais, são muito menos graves que o do PT. Por isso, Civita, Frias e Mesquita  tanto insistem em colocar a bandeira da ética nas mãos da oposição.

É de um cinismo atroz a "surpresa" da imprensa diante das revelações estarrecedoras a respeito da sociedade Demóstenes/Cachoeira. Por que tamanha perplexidade ? Se a política fosse vista pelo PIG como uma atividade voltada para a promoção do bem comum, não poderiam jamais serem alçados à condição de paladinos da moral  integrantes de partidos como o DEM, notório por combater programas sociais que beneficiam os mais  pobres, ignorar as desigualdades, alimentar preconceitos e visões excludentes em relação a negros, quilombolas, homossexuais, mulheres e deficientes físicos.

Vale lembrar que o DEM é contra a política de afirmação das cotas raciais e socias. Para tentar barrá-las, recorreu ao Supremo. O DEM não se conforma com o fato de o Prouni ter levado à universidade centenas de milhares de jovens das classes menos favorecidas. Para tentar acabar com o programa, ingressou com Ação Direta de Inconstitucionalidade do STF. Não é preciso dizer mais nada.

Ilustração publicada no blog do Miro

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