Depois que a tropa de choque oposicionista entrou em campo para, com o costumeiro apoio dos seus partidários da mídia corporativa, tentar blindar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, impedindo que ele dê as explicações necessárias à CPI do Cachoeira sobre o engavetamento da Operação Vega, em 2009, os fatos trataram de produzir um efeito bumerangue contra a operação abafa. Primeiro vem à tona a esquisita participação na história da subprocuradora Cláudia Sampaio, esposa de Gurgel. Depois, a Polícia Federal divulga uma nota desmentindo de forma cabal a versão do casal de procuradores. Moral da história : brigar com a realidade é missão das mais inglórias.
O discurso em defesa do procurador-geral, endossado pelo próprio, é um primor de antipetismo : tudo não passaria de uma manobra do PT para atingir a imagem do chefe do Ministério Público, titular do processo do mensalão e responsável, portanto, pela peça de acusação. É nessa linha que vociferam da tribuna do Senado todos os dias senadores como Alvaro Dias e Pedro Simon.
A eloquência de suas excelências, no entanto, não á capaz de avançar uma palavra sequer na resposta à questão central da polêmica : por que diabos, de posse do relatório da PF sobre a Operação Vega, em setembro de 2009, repleto de indícios sobre a atividade criminosa de Cachoeira e suas ramificações no mundo da política, Gurgel optou pelo engavetamento ?
O problema é que vai se tornando cada vez mais difícil para o procurador esclarecer o nebuloso episódio. Desde 2009 nehuma providência foi tomada em relação a todas as evidências que pesavam contra o senador Demóstenes Torres. Só em março deste ano, depois que o vazamento dos grampos das conversas entre Cachoeira e Demóstenes escandalizaram o país, Gurgel pediu ao STF abertura de inquérito contra o senador e outros parlamentares.
E a nota da Polícia Federal desmonta de vez a tese do casal de procuradores. Eles alegavam que nada fizeram com os resultados da Operação Vega porque aguardariam os desdobramentos do caso trazidos pela Operação Monte Carlo, a que acabou levando à prisão de Cachoeira e à execração pública de Demóstenes. Desculpas esfarradas, uma vez que a PF esclareceu que a Operação Vega começou em 2008 e foi encerrada em setembro de 2009.
Já a Monte Carlo só foi iniciada em novembro de 2010. Ou seja, quando o delegado Raul Alexandre se reuniu por três vezes com a subprocuradora Cláudia Sampaio, para tratar do relatório da Vega, não estava em curso qualquer outra operação visando desmontar o esquema do contraventor Cachoeira. Em vez que ficar enxergando estrela do PT até na própria sombra, o procurador-geral deve, e como deve, uma explicação : pode o chefe do Ministério Público Federal, a quem cabe institucionalmente zelar pelos interesses da sociedade, ter conhecimento de uma megaesquema mafioso e ignorá-lo por longos três anos ?
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