segunda-feira, 4 de junho de 2012

Jornalismo tipo latrina

As acusações do ex-diretor do DNIT ( Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), Luiz Antônio Pagot, publicadas na edição da revista  ISTOÉ desta semana, segundo as quais tucanos de alta plumagem abastaceram um caixa 2 na campanha eleitoral de 2010 através de aditivos ilegais às obras do Rodoanel, em São Paulo, sumiram dos jornalões. Só mesmo o jornalismo de esgoto praticado pelo dispositivo midiático brasileiro pode conceber critérios tão escandalosamente antijornalísticos e partidários na hora de decidir o que é ou não notícia. Quando as denúncias atingem seus protegidos demotucanos, o roteiro semanal do denuncismo é ignorado. Fosse uma das tantas matérias asquerosas da Veja contra Lula, Dilma, governo, PT e aliados, o scripit seria outro : a semanal dos Civita a publicaria no sábado, o Jornal Nacional do mesmo dia  repercutiria, e no domingo e na segunda-feira feira a notícia já se esparramaria por todo o PIG.

A denúncia de Pagot é de extrema gravidade : o butim proveniente do desvio do Rodoanel foi repartido da seguinte maneira : 60% para a campanha de José Serra à presidência da República, 20% para Alckimin e 20% para o então demista Gilberto Kassab. Cabe mencionar a forma golpista como o site UOL, da Folha de São Paulo, divulgou, no sábado, a matéria da ISTOÉ, que já estava nas bancas desde sexta-feira. Na sua chamada, o site iguala situações absolutamente distintas para tentar salvar as penas dos tucanos : "Pagot diz que tucanos deviaram dinheiro do Rodoanel para fazer caixa 2 e que ele arrecadou para o PT". O apressado ou o incauto que se limite a dar uma passada d'olhos nesse título há de concluir que tucanos e petistas são atingidos na mesma proporção.

Nada mais falso. Quem se deu ao trabalho de ler todo o texto, logo perceberá o ardil embutido nesse título mandrake. O ex-diretor do DNIT diz com todas as letras que ele ajudou a arrecadar dinheiro para a campanha eleitoral do PT, pedindo a empresas que fizessem doações. Segundo Pagot, 15 empresas contribuíram com a campanha. Só que tudo dentro da lei, com todas contribuições devidamente declaradas e aprovadas pela justiça eleitoral.

Ou seja, para confundir as pessoas e fazer política, o grupo Folha não tem o menor pudor em embaralhar o caixa 2 do PSDB com o caixa 1 do PT, escondendo a informação essencial :  um procedimento é ilegal, enquanto  o outro tem o amparo da lei. Infelizmente, pelas regras atuais do jogo, a única maneira de se fazer frente aos custos cada vez mais absurdos das campanhas eleitorais, especialmente as majoritárias, é através da doação de empresas, prevista em lei. Essa é, sem dúvida, a maior anomalia do sistema eleitoral brasileiro. E é por isso que o PT e boa parte dos partidos do campo popular e progressista defendem o financiamento público. Mas um fato é um incontestável : se estivesse o PT até hoje vendendo estrelinhas e adereços para  bancar suas campanhas, não teria chegado a lugar algum.

Voltando ao caso do Rodoanel, hoje, segunda-feira, é o dia que O Globo dedica a reverberar as denúncias da Veja contra Lula, Dilma, governo, PT e aliados. O jornal costuma fazer  a sua parte cortando a bola levantada pela revista, à espera da edição do Jornal Nacional, na qual Ali Kamel se esmera em dar ares de escândalo ao "detrito sólido de maré baixa" (genial definição de Paulo Henrique Amorim) produzido pela publicação da Abril.  Mas Veja não estampou neste final de semana nenhuma das suas imundícies tão características. Isso não impediu O Globo, porém, de estender sua  sua mão corporativa, publicando, em alto de página, uma história sem pé nem cabeça de um suposto documento da liderança do PTorientando seus parlamentares que participam da CPI do Cachoeira. Nenhuma linha sobre o caixa 2 tucano.

Já a CBN, "a rádio que troca notícia", foi mais explícita na sua missão de atirar bóias de salvação para a tuacanada em apuros. Quando é contra o PT os acusadores (inclusive notórios bandidos) têm todo o espaço do mundo para apresentarem suas versões. Mas quando "a porca torce o rabo" de gente da oposição, o autor da denúncia some do noticiário e só os acusados aparecem se defendendo nas matérias. O Jornal da CBN de hoje pela manhã não só ouviu  um "indgnado" Alkimin negando todas acusações e ameaçando a revista com processo, como leu trechos de nota de Serra também vociferando contra a ISTOÉ e atacando o PT. Já Luis Antônio Pagot, ninguém sabe, ninguém viu. Sequer foi ouvido.

 É duro ter que aturar uma mídia tão pusilânime, cretina, manipuladora e covarde.

Ilustração publicada no blog do Diego Novaes

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