quinta-feira, 14 de junho de 2012

O bê-a-bá da CPMI do Cachoeira

Valorosos militantes da esquerda morderam a isca da direita demotucano-midiática e perderam o foco quanto à CPMI do Cachoeira. Vale a pena insistir : essa comissão só foi criada depois que vieram à tona as relações viscerais entre o "paladino da ética" eleito pelo PIG, senador Demóstenes Torres, e o esquema mafioso do contraventor Carlinhos Cachoeira, cujas teias alcançam o aparelho de Estado de Goiás, alguns parlamentares acumpliciados com o bicheiro, a banda podre do Judiciário e a malcheirosa revista Veja. Os efeitos colaterais das denúncias atingiram ainda o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e sua esposa subprocuradora, acusados de prevaricação, já que engavetaram o trabalho da Polícia Federal desde 2009, além da empreiteira Delta, seção Centro-Oeste, braço da quadrilha Cachoeira  É isso. Tudo o que veio depois (Delta Nacional, Sérgio Cabral, mensalão, Agnelo, apoio corporativo do PIG à Veja, mentiras de Gilmar Mendes, ataques a José Dirceu) é manobra diversionista da dobradinha PIG-oposição para tentar trazer PT e aliados para a vala comum do escândalo Cachoeira.

Cabe esclarecer que o esforço para trazer a Delta para o centro da ribalta - a ponto de passar a impressão, em muitos momentos de que o objeto que determinou a criação da CPMI foi a empreiteira - atende a dois objetivos : envolver o aliado do governo federal, governador Sérgio Cabral, cuja amizade com o dono  da Delta é pública e notória, e o próprio governo Dilma, uma vez que a empreiteira tocava várias obras do PAC. Não que os executivos da empresa sejam exatamente anjos de candura. Não que o "modus operandi" da empreiteira seja diferente das outras no que refere à voracidade para abocanhar obras públicas. Mas atribuir-lhe papel central nas investigações não passa de uma rota tentativa de tapar o sol com a peneira. Fora dessa espuma política lançada sobre a CPMI, o governo federal agiu com rigor : devido a uma série de irregularidades praticadas, especialmente no Centro-Oeste, a Delta foi considerada empresa inidônea pela Controladoria-Geral da República (órgão do governo federal) e está proibida de fechar contratos com o governo.

O fato é que com a espada da CPMI apontada para o pescoço os inimigos de sempre de Lula, Dilma, PT e aliados jogaram o mensalão na ordem do dia e bombardearam o STF para que o julgamento fosse marcado em pleno período eleitoral. Passaram a repetir dia e noite o mantra segundo o qual toda e qualquer ação política do PT tem o único propósito de turvar o julgamento do mensalão. Em meio à fumaça da desinformação e da confusão proposital e oportunista disseminada pela mídia, não custa lembrar das várias perguntas sem resposta que deram causa à criação da CMPI :

1) As quase 300 ligações de Poliocarpo Júnior, chefe de redação da Veja em Brasília, para Carlinhos Cachoeira, mostram claramente que ele sabia há muito tempo das ligações figadais entre o senador Demóstenes e o esquema criminoso. No lugar de matérias denunciando que o senador tinha posto seu mandato a serviço do crime, a revista da Abril galgou-o à condição de "mosqueteiro da ética", chegando à canalhice suprema de usar o seguinte título para uma entrevista enaltecedora das "virtudes" éticas do sócio de Cachoeira : "Só se salvou Demóstenes".

2) Não pode haver prova maior da promiscuidade Veja-Cachoeira do que a "prerrogativa" do bicheiro de escolher onde queria ver publicadas (em que seção da revista) as notícias do interesse da sua quadrilha, quase sempre dossiês forjados contra empresas concorrentes, e gente do PT e do governo.

3) Escutas da Polícia Federal mostram que Demóstenes-Cachoeira foram os responsáveis por abastecer a revista  com as mais infames matérias contra os governos de Lula e Dilma, contra o ex-ministro José Dirceu e contra vários ministros, que embora tenham deixado seus cargos, até agora nada restou provado contra eles.

4) Os grampos revelam que o senador Demóstenes transitava com desembaraço em setores do Poder Judiciário, traficando influência em defesa dos interesses do bicheiro e pressionando por decisões favoráveis à quadrilha. A amizade de Demóstenes com Gilmar Mendes certamente era o melhor cartão de visitas do senador para atuar com desembaraço junto a esse poder.

5) Os fortes indícios de envolvimento de políticos tucanos de alta plumagem, como o governador de Goiás, Marconi Perillo, além de vários outras autoridades do estado, com o esquema Cachoeira se tornaram tão evidentes que até expoentes do PIG, como O Globo, abriram manchetes denuciando o goverrnador.

Na minha opinião, desviar a atenção de pontos como esses é dar uma de inocente útil e fazer o jogo da direita. Isso vale tanto para os militantes petistas e demais partidos de esquerda e que apoiam o governo como para os integrantes governistas da CPMI, que muitas vezes parecem se intimidar com o rolo compressor do PIG.

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