sexta-feira, 6 de julho de 2012

A caminho do fim do mundo

Estou longe de ser ingênuo a ponto de não entender que o buraco da realpolitk é bem mais embaixo. No parlamento, então, nem se fala. É o espaço no qual a negociação, as concessões e os acordos são sua própria razão de ser. Noves fora tudo isso, não dá para deixar de considerar decepcionante e até constrangedora a performance  da bancada do PT e aliados na CPI do Cachoeira. Vítimas da síndrome do execesso de moderação, nossos deputados e senadores de tanto flexibilizarem suas posições em direção a acordos de proteção mútua com a oposição, empurram a CPI para o abismo da perda de foco, optando por apontar a metralhadora para todos os lados como forma de não atingir ninguém. Esse estilo barata tonta faz lembrar a CPI do Fim do Mundo, criada no Congresso durante o o governo Lula com o intuito de atingir o presidente, mas que logo se transformou em exemplo de Casa da Mãe Joana da política devido à sua total e absoluta falta  de propósitos determinados.

Nunca é demais repetir que a CPI do Cachoeira foi criada para passar a limpo as relações do senador Demóstenes Torres, de grãostucanos de Goiás e da mídia ( Veja à frente) com a quadrilha de bicheiro Carlos Cachoeira. A revelação em doses homeopáticas das escutas da PF trouxeram à tona as visceras de uma organização com ramificações múltiplas, mas com objetivos políticos nítidos : prejudicar o governo e favorecer a oposição, cabendo à revista Veja o jogo sujo de publicar notícias falsas e distorcidas que cumprissem o papel de atender aos interesses da quadrilha.

Mas o tipo de reação da oposição e da mídia a seu serviço era mais do que esperado. Até porque não tinham outra saída.Trataram de trazer para a mesma vala comum prefeitos e governadores do PT e da base do governo, massificaram informações no sentido de transformar a empreiteira Delta no verdadeiro foco da CPI e dispensaram à necessária convocação do chefe de redação da Veja, em Brasília, o jornalista Policarpo Júnior, e do presidente do Grupo Abril, Roberto Civita, o tratamento picareta de sempre : "tudo não passa de mais uma ação contra a liberdade de expressão, algo tão frequente no país nos tempos de Lula e Dilma."

Tudo, aliás, muito previsível. Desde 2002, quando passaram a ser surrados nas urnas por Lula, Dilma, PT e aliados, a oposição midiática, carente de projetos e perspectivas, vem apelando para um tática que oscila entre o moralismo udenista mais imbecil, a ditorção, a omissão e a mentira. Mas, em relação à CPI do Cachoeira, o bombardeio logrou êxito, a ponto de intimidar e acuar os parlamentares da base do governo, que, assustados, abandonaram qualquer resquício de combatividade em nome de uma verdadeira obcessão pela conciliação, pela troca de chumbo de mentirinha e pelos afagos. Um jogo de soma zero. Sem falar que a participação da mídia no esquema criminoso parece ser assunto proscrito entre os integrantes da CPI.

Assim, para cada peixe graúdo da oposição que senta na CPI, logo é convocado um petista ou governista. Cada procedimento investigativo mais ousado é mitigado por uma decisão conservadora e a tropa dos panos quentes é acionada ao menor sinal de "perda de controle institucional". Esse toma lá da cá  parece não ter fim. E a noção de equilíbrio dos parlamentares do governo e da oposição chega a ser matemático. Seguindo a linha de atuação baseada na tática "um depoente anula o outro e no final nada acontece porque  nós todos temos a perder", esta semana foram votados e aprovados requerimos com as seguintes convocações :

Luis Antônio Pagot - ex-diretor geral do Dnit, que vem acusando os tucanos de fraude e desvio de dinheiro nas obras do Rodoanel, mas também dispara contra o PT acusando gente ligada ao partido de ter arrecadado, no âmbito das empresas que prestam serviços ao Ministério dos Transportes, dinheiro para campanhas eleitorais. Assim, é considerado neutro porque ataca os dois lados.

Fernando Cavendish - a convocação do principal acionista da Delta serve ao claro propósito de atingir o governo e aliados, já que a Delta é uma das principais empreiteiras do PAC, embora tenha contratos também com vários prefeitos e governadores da oposição. A amizade pública e notória de Cavendish com o governador Sérgio Cabral, aliado de Dilma, certamente será um dos aspectos mais explorados no seu depoimento.

Paulo Preto - um dos arrecadadores da campanha de Serra à presidência, faz com que os tucanos de alta plumagem, especialmente os paulistas, tenham urticária só de ouvir falar no seu nome e nas patranhas cometidas na Dersa, em São Paulo.

Como se vê, com um gol para cada lado e um empate, nada irá adiante nesta CPI. Dá saudades do aguerrimento de um José Dirceu, na CPI do PC que levou a impeachment de Collor, de um Genoíno na CPI dos Anões do Orçamento, ou de uma Ideli Salvati, na CPI dos Correios. Será que é problema de safra ? Será que o PT já não faz mais deputado e senador como antigamente ?

Um comentário:

  1. Eu acho que já tá mais do que provado que o Cabral não tem nada a ver com a CPI do Cachoeira. Ele não tem porque temer a quebra de sigilo da Delta, afinal não tem nenhuma gravação sequer que prove que ele esteja envolvido. Sem falar que o trabalho dele não tem nada a ver com as suspeitas sobre a Delta.

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