quinta-feira, 6 de setembro de 2012

" A única luta que se perde é a luta que se abandona"

A frase acima tomei emprestada de uma camiseta usada por Lúcia Caldas Vieira, filha do jornalista e combatente contra a ditadura militar Mário Alves, sequestrado e torturado até a morte pelo aparato repressivo, no inicio dos anos 70. Lúcia aparece em matéria publicada há dias atrás por O Globo, na qual ela narra sua saga e de sua família para desvendar o desparecimento do pai. Aliás, a rua em que a minha mãe mora em Niterói, para o meu orgulho, leva o nome desse mártir da democracia, da liberdade e do socialismo.  Pois bem, diante de assunto tão comovente, lembrei da Lúcia nos remotos tempos da fundação do PT lá em Niterói, no comecinho dos anos 80. Rapidamente confrontei a luta heróica de tantos homens e mulheres que não esmorecem um minuto sequer e dedicam suas vidas ao elucidamento das barbaridades de que foram vítimas seus entes queridos com a situação atual do PT. É inaceitável o comportamento omisso e até mesmo autista do partido no que toca à rendição do STF ao monopólio midiático brasileiro.

Há muito me incomoda uma praga que se dissseminou pelo PT: o excesso de moderação. Errou quem imaginou que me refiro à política de alianças do partido. Esta, com uma derrapada ou outra, tem se revelado acertada e mostra um bem-vindo amadurecimento político. Para os que torcem o nariz, e sei que não são poucos, para os nossos parceiros táticos, vale lembrar uma coisinha : como diz o José Dirceu, nós não temos maioria eleitoral, política e social para dispensarmos as alianças. O PT, embora seja o partido preferido da população brasileira, por larga margem em relação aos outros, alcança sozinho, no máximo, 30% do eleitorado, ficando longe, portanto de formar maioria em voo solo. O fato é que se não fossem as alianças, não se viabilizariam as importantes transformações econômicas e socias dos últimos dez anos.

Feita essa ressalva, vou direto ao ponto :  até quando um dos maiores e mais bem sucedidos partidos de esquerda do planeta vai assistir passivamente ao seu enxovalhamento público  por uma minoria derrotada, sem projetos, mas que tem nos veículos da mídia seus porta-vozes ? Será que ainda nos meus dias verei o PT alçar à condição de prioridade política a luta pela democratização da comunicação no Brasil ? Por que na página do PT na internet não encontramos uma linha sequer sobre o tribunal político de exceção em que se transformou a mais alta corte do país ? Por que os nossos deputados, senadores e lideranças não contrapõem o linchamento do partido, por meio de toneladas de notícias sobre o "julgamento do século" (nada menos do que 65 mil matérias em agosto), com o mensalão mineiro do PSDB ? Por que a privataria tucana não é objeto de efetivas tentativas de se criar uma CPI, ou, no mínimo, não é usada como arma política para acuar a oposição na CPI do Cachoeira e a mídia golpista ? Por que os nossos parlamentares não denunciam com o vigor necessário a blindagem da Veja e de Policarpo Júnior ?

No que se refere ao julgamento do mensalão, causa indignação a cegueira política de cunho pragmático que tomou conta do partido. O partido faz questão de ignorar que esse julgamento de exceção não passa de uma mal disfarçada ofensiva contra o projeto democático-popular que está em curso no país há dez anos, de uma tentativa de atingir Lula e manchar a imagem de seus governos e fazer do PT um exemplo de corrupção. Diante dessa avalanche, a cúpula dirigente do partido lava aos mãos, com base em pesquisas dando conta da pouca ou nenhuma influência do julgamento do mensalão nos homores do eleitorado.Isso sem falar na fatia do partido que, no fundo, torce por uma condenação generalizada, a partir da análise mesquinha de que ganhará mais espaço na máquina partidária.

É isso. Enquanto no universo dos operadores do direito (advogados, juízes, promotores, procuradores,etc) percebe-se uma exasperação crescente com a liquidação por parte do STF de premissas republicanas e civilizatórias do Direito Penal e do Código de Processo Penal, tais como a presunção da inocência e o ônus da prova a cargo do acusador, o PT finge que não é com ele e cuida das suas pesquisinhas e da possibilidade de ganhar uma ou outra prefeitura. A propósito, o PT asssistirá calado à eventual prisão de João Paulo Cunha e de outros que, pelo andar da carruagem, devem ser condenados ? Ao que tudo indica, infelizmente, sim. Acorda, PT ! Ou, então, se prepare para a corda... no pescoço.

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