quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A cegueira diante do ovo da serpente

Lula ganhou as eleições pela primeira vez em 2002. Mas antes o PT já havia sido vítima de incontáveis canalhices da mídia golpista, tais como o debate fraudado Lula x Collor, o sequestro de Abílio Diniz, o assassinato de Celso Daniel e as contas de Lula no exterior. Presidente por oito anos, Lula pouquíssimo fez institucionalmente por um novo marco regulatório para a radiodifusão no Brasil, embora tenha convocado a 1ª Conferência Nacional de Comunicação e, ao apagar das luzes do seu segundo mandato, demandado um projeto de regulação da mídia para o seu ministro das Comunicações, Frankilin Martins. Ah, para não sermos injustos, o melhor presidente da história do Brasil fez vários discursos criticando o monopólio midiático brasileiro.

Depois vem a Dilma com sua política de distensão ingênua e equivocada com os barões do PIG, pontilhada por platitudes que ninguém suporta mais ( "Prefiro o barulho da imprensa livre ao silêncio da ditadura"). Lamentável a confusão que a presidenta faz entre liberdade de expressão e liberdade de monopólio. Fiel ao discurso alienado da chefe sobre o assunto, o ministro Paulo Bernardo engaveta o projeto do Frankilin, enquanto a Globo e os grandes veículos abocanham nacos cada vez maiores, e milionários, do bolo publicitário do governo. Pois bem, durante esses 10 anos nos quais a classe dominante sofreu três derrotas acachapantes, vêm sendo gestado por ela, bem visível contra a luz dentro do ovo da serpente (salve Ingmar Bergman), o monstro da quebra da ordem constitucional, única maneira encontrada pela elite mais retrógada do planeta, como dizia o grande Darcy Ribeiro, para tentar voltar ao poder.

As feições desse ser, inimigo da democracia e da soberania popular, foram ganhando contornos ainda mais horrendos com as nomeações de ministros para o STF feitas por Lula, e depois por Dilma. O Supremo acabou ganhando uma leva de ministros com déficit de consciência democrática e republicana e há anos luz de distância do exigido "notório saber jurídico." Meu Deus, onde o presidente Lula estava com a cabeça quando nomeou um poetinha do colete do PIG como Ayres Brito ? Ou um playboy do Leblon ,de cabelos tingidos e pouca vocação para o batente, como Luis Fux ? Ou um conservador quatrocentão paulistano como Peluso ? Ou um deslumbrado como Tófoli ? Ou respeitáveis senhoras, como Carmem Lúcia e Rosa Weber, mas de poucas luzes intelectuais ? Ou um desequilibrado, mal educado e despreparado até para ser juiz de primeira instância como Joaquim Barbosa ?

Tudo isso para se juntar a Gilmar Mendes, do grampo sem áudio, do coronelismo em sua cidade natal e de tanta coisa nebulosa ; a Marco Aurélio de Mello, para quem "o golpe de 1964 foi um mal necessário" e a Celso de Melo, o decano reacionário até a medula. Pelo que ouvi dizer e li  aqui e acolá, o ex-presidente Lula teria se deixado levar pela cantilena jurídica de Márcio Tomáz Bastos, pela retórica católica de Frei Beto, pela lábia de Antonio Palocci, pelos apelos do conselheiro Delfim Neto, e até pelo discurso combativo de João Pedro Stédile. Embora o estrago já esteja feito, confesso que tenho imensa curiosidade para ouvir um dia uma entrevista do Lula sobre os bastidores dessas nomeações, que expectativas e critérios nortearam as indicações, a partir de que convicções e objetivos elas se consumaram. Sonhando acordado, seria o caso mesmo de uma autocrítica do Lula.

Agora que cada vez mais juristas, jornalistas de fora do âmbito do PIG (e até alguns de dentro) e lideranças do sociedade começam a despertar para a grande farsa montada pelo ministro Joaquim Barbosa para criminalizar o PT é que nos damos conta de como faz falta uma Ley de Medios à brasiliera. Tivéssemos emissoras de rádio e tv com audiência capaz de quebrar o monopólio da mídia golpista, um jornal de circulação nacional, enfim meios de comunicações mais plurais, desconcentrados e democratizados, seria mais fácil desmascarar uma das maiores fraudes da história do Judiciário brasileiro. Até porque só com a blindagem da mídia se sustenta a história inventada por Barbosa à revelia das toneladas de documentos que constam dos autos do processo mostrando que não houve desvio de um centavo de dinheiro público. Ou seja, que o  pilar de sustentação da Ação Penal 470 tem pés de barro.Também só o escudo protetor da imprensa pode esconder o estupro da teoria do domínio do fato, por parte do STF, para condenar os petistas.

Hoje a maioria do povo brasileiro, bombardeada 24 horas por dia há mais de três meses pelo dispositivo midiático de direita, acha que o STF está fazendo justiça e combatendo a corrupção e a impunidade. Mal pode imaginar as consequências nefastas futuras da nova jurisprudência criada pelo Supremo, principlamente para os mais humildes. Mas agora também não adianta chorar o leite derramado. Embora o monstro incubado no interior do ovo da serpente tenha se aproveitado da cegueira política dos nossos governos e do PT para crescer e ganhar poder de destruição, a hora é de resistir com todos os instrumentos de que dispomos : partidos, movimentos sindical e social, redes sociais, blogosfera, mídia alternativa, intelectualidade, estudantes. Um dia a história da Ação Penal 470 haverá de ser recontada.










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