terça-feira, 6 de novembro de 2012

Uma tolice chamada "Novo PT"

Separando o joio do trigo : uma coisa é o bem-vindo surgimento de quadros e lideranças mais jovens, como o prefeito eleito de São Paulo, Fernando Haddad, com potencial até para concorrer à Presidência da República um dia. Outra bem diferente é fazer coro com a onda conservadora dos detratores do PT na velha mídia e em setores da classe média, do Judicário e Ministério Público, deixando de lado as bandeiras que realmente importam para o PT hoje em nome de um "repaginamento" tão ao gosto dos inimigos do partido. A matéria de capa da revista IstoÉ desta semana, por exemplo, sobre o "Novo PT", além de superficial na abordagem e repleta de lugares-comuns, mal disfarça a intenção de jogar água no moinho da campanha de criminalização do partido. E ainda tem gente no PT que morde a isca.

Como entrou em campo para produzir uma matéria-tese, aquela na qual vale tudo para corroborar a ideia pré-concebida que deu origem à pauta, a revista deixa à mostra algumas contradições insanáveis, e até primárias, no seu afã de radiografar o novo momento vivido pelo PT. Está lá, escrito com todas as letras, que o grande líder, o inspirador, o timoneiro do tal processo de renovação é o ex-presidente Lula, justamente a mais antiga, carismática e consagrada liderança do partido. Ora, faça-me o favor !

 No fundo, os editores de IstoÉ sabem perfeitamente que o real foco do faro político privilegiado de Lula  visa dois objetivos : estacar a sangria do prestígio do partido na juventude, atraindo a maior quantidade possível de jovens politicamente promissores (a média de idade verificada nos últimos encontros nacionais do partido, bem como a das suas direções, é preocupantemente alta) e lançar candidatos competitivos em municípios e estados nos quais o perfil do eleitorado é mais conservador e as lideranças históricas do partido vêm de desgastes eleitorais. Ponto. É só isso.

É lamentável, porém, que parte considerável do PT se deixe embriagar pelos eflúvios trazidos pelos "novos ventos" e ponha seus interesses eleitorais ou por ampliação de espaço na máquina partidária à frente dos reais interesses do partido. Antes se dizia que o PT não denunciava a farsa do mensalão porque estava no olho do furacão da disputa eleitoral. Pois bem, fechadas as urnas, a direção Executiva do PT, reunida na semana passada, adiou sine die a elaboração de uma simples nota em defesa dos acusados e denunciando a sórdida campanha movida contra o partido. Pior : a ministra da Casa Civil, Gleise Hofmann, já deu entrevista respaldando as barbaridades do STF, mesmo tom adotado pelo governador Tarso Genro em artigo publicado recentemente.

Oficialmente, o PT deixou para se pronunciar depois que o STF estabelecer as penas de todos os réus, mas, fica cada dia mais claro que o partido foge desse assunto como o "diabo da cruz." E mais : se essa decisão de adiar a nota foi tomada, como diz a imprensa, a pedido de Lula, não resta dúvida que ele errou feio nessa. Fazer o que, Pelé também tinha seus dias de Cafuringa. Também não concordo com o mutismo absoluto do Lula quando é atacado da forma mais vil e covarde pela Veja.

 Decerto não vale a pena colocar azeitona na empada de um lixo jornalístico como a semanal dos Civita, comprando briga de peito aberto com gente de nível tão rasteiro. Mas custava o Lula soltar uma nota oficial lacônica, dizendo que não se manifestaria porque a referida reportagem fora publicada num orgão de imprensa sem nenhuma credibilidade ? Já imaginaram o efeito bombástico dessa curta frase ? O quanto ajudaria na luta por um novo marco regulatório da mídia brasileira ?

Um comentário:

  1. Não vi qualquer prejuízo ao PT na reportagem da Revista Isto É e também acredito que é fundamental para qualquer organização social seja ela política, religiosa, sindical, etc a renovação e oxigenação de seus quadros. Concordo que existe uma força muito grande da mídia para desclassificar pessoas históricas do PT e também concordo que o partido está pecando em não contrapor veementemente este jogo.

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