Izaias Almada responde a Vladimir Saflate e a Olívio Dutra, em artigo publicado no portal Carta Maior e no Viomundo
Imoral não é a posse do deputado José Genoino, como querem alguns,
inclusive em nichos de esquerda. Imoral é atacar a democracia pelas
costas, desrespeitar a Constituição e vender o Brasil por trinta
dinheiros, tentando se criar um clima de violência e insegurança.
O deputado José Genoino ao declarar em Brasília na última semana, um
dia antes da sua posse legal e garantida pela Constituição, que o atual
jornalismo brasileiro se transformou em nova forma de tortura dos
cidadãos, escancarou para o país a sua divergência com o governo quanto à
necessidade de uma reforma da Lei de Meios no Brasil.
Não que o tenha feito com essa intenção, o que posso garantir por
conhecer o deputado, mas foi o desabafo de um brasileiro que se sente
perseguido e injustiçado pela forma com a qual a imprensa e o judiciário
trataram a questão do “mensalão” (que ainda não se provou, é bom que se
diga) e que mostra claramente a diferença entre os que lutam toda a
vida, como dizia Bertolt Brecht, e os que lutam por pouco tempo, em
particular aqueles que se deixam levar pelo canto da sereia do poder.
O episódio é emblemático para a agenda política de 2013, ano em que o
xadrez eleitoral mexerá suas peças com muito cuidado por parte do
governo e – para não fugir ao figurino – incivilizadamente por parte da
oposição. A atitude da presidente Dilma, adiando a discussão sobre a Lei
de Meios, poderá sair cara ao governo, pois evidencia uma estratégia,
se é que se pode chamar assim, no mínimo incoerente para um governo que
fala e age democraticamente, promove distribuição de riqueza, é verdade,
mas que a distribui desproporcionalmente, considerando-se o número de
contemplados, quando despeja milhões e milhões de reais a mais para o
maior inimigo da democracia brasileira no momento, a imprensa venal e o
oligopólio de seis famílias em que se sustenta
.
A tese do “controle remoto”, tão ao gosto da presidente Dilma
Roussef, é uma falácia que depõe contra a sua sensibilidade e
inteligência. Uma metáfora recorrente e de gosto e constatação
duvidosas, que se contrapõe a realidade, pois poderemos mudar de canal,
emissora de rádio ou jornal e a má qualidade do que se vê e lê, bem como
a manipulação da informação, será sempre a mesma. E nessa manipulação
no terreno da política, nos últimos dez anos, a vítima tem sido
invariavelmente o governo, em particular o ex-presidente Lula e o
Partido dos Trabalhadores.
Para não voltar muito no tempo, basta que olhemos as recentes e
indefectíveis retrospectivas das revistas semanais, dos jornalões e dos
canais de televisão do ano que findou e lá estará estampada entre outras
e sem o menor pudor esta pérola: o ano em que se começou a combater a
corrupção no Brasil. Dá para levar a sério?
A quem querem enganar? Quem começou combater a corrupção, o STF? De
qual corrupção está se falando? A do Banestado… lembram-se? A da lista
de Furnas, onde até o assassinato de uma modelo tenta-se encobrir? Da
Privataria tucana? Da CPMI Veja/Cachoeira, que não ouviu a bandidagem? E
as concorrências para obras do metrô na cidade de São Paulo, a Alston e
a corrupção investigadas na Europa? O Rouboanel e inúmeros outros casos
de corrupção comprovada contra o patrimônio público em vários estados
da federação que sequer são lembrados pela mídia, envolvendo do DEM, O
PSDB, o PPS, etc?…
A propósito, aguardo com ansiedade o novo livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr.
Chega a ser indecente, para dizer-se o menos, essa tentativa de parte
da oposição brasileira em querer tapar o sol com a peneira,
esquecendo-se da corrupção em que está atolada até o pescoço e que já
ultrapassou há tempos qualquer limite de irresponsabilidade, e querer
imputá-la aos seus principais adversários.
Tudo sob o exercício do jornalismo irresponsável e de mão única,
selvagem e mentiroso, esse que a presidente procura defender sob
argumentos pouco sólidos.
E assim entramos em 2013. Dúvidas, esperanças, temores. Cada ano novo
se inicia da mesma maneira para qualquer um de nós. Aos mais velhos
resta a amargura de ver que pouca coisa muda no terreno das esperanças,
que aumentam as dúvidas e – dependendo do otimismo ou do pessimismo de
cada um – revigoram-se os temores.
O mundo continua a digerir a crise econômica iniciada em 2008, com o
governo de muitos dos principais países ricos ainda às escuras e às
apalpadelas, buscando apagar o incêndio, mas sem saber se não sobram
brasas adormecidas que o possam reacender sob pequenos ventos a surgir
não se sabe bem de onde. A propósito, recomendo a leitura do artigo do
economista Paul Krugman e se encontra traduzido no portal Carta Maior.
O estrago causado pelo neoliberalismo econômico com as suas teses de
estado mínimo e mercado máximo, os prejuízos causados a milhões de
trabalhadores na Europa, nos EUA, parte da Ásia e África, o salve-se
quem puder geral, mesmo com o surpreendente desempenho da América Latina
nesse novo cenário nos últimos anos, configuram o traçado de uma nova
geopolítica de atenção, com viés de sinal amarelo, deixando a humanidade
em suspense e ansiosa para o que poderá acontecer nesse 2013 que se
inicia.
O estado de saúde de dois grandes líderes, Nelson Mandela e Hugo
Chávez, não trazem bons augúrios, bem como a possibilidade de nova
intifada na Palestina. Por aqui, teremos que agüentar a direita
relinchar pelas páginas dos jornais, câmeras de televisão e microfones
de rádios, destilando o seu veneno de falsa democracia e exercendo (ou
impondo) o seu direito de crítica sem resposta, num dignificante exemplo
de como entende e pratica da democracia.
Imoral não é a posse do deputado José Genoíno, como querem alguns,
inclusive em nichos de esquerda. Imoral é atacar a democracia pelas
costas, desrespeitar a Constituição e vender o Brasil por trinta
dinheiros, tentando se criar um clima de violência e insegurança.
Exigir a autocrítica e a renúncia de homens como Genoíno e Dirceu
pode, a princípio, parecer um ato de sabedoria política, mas no fundo
implica em aceitar a condenação imposta por um julgamento de exceção,
por um tribunal de atitudes parafascistas. E com o fascismo, todo
cuidado é pouco! Venha ele de onde vier…
Escritor e dramaturgo. Autor da peça “Uma Questão de Imagem”
(Prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos) e do livro “Teatro de
Arena: Uma Estética de Resistência”, Editora Boitempo.
PS do Viomundo: O artigo de Izaías Almada é uma réplica à coluna de Vladimir Safatle, publicada na Folha, que reproduzimos (aqui), e à entrevista de Olívio Dutra, na Rádio Guaíba, pedindo a José Genoino que renuncie ao cargo de deputado federal (comentário de Almerindo aqui).
Daí o título que Izaías deu, embora não mencione Safatle e Olívio ao
longo do texto.
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O moralismo sempre atende aos anseios do fascismo. Ver Safatle e Olivio Dutra embarcando nessa, faz com que nossas lutas por Justiça se fragilizem...
ResponderExcluirÓtimo texto, claro e realista. Também estou abismado com seo Olivio... êta gauchada cagona...
ResponderExcluir`Ótimo. Sinto-me de alma lavada.
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