domingo, 10 de março de 2013

PT do Rio : hora e vez da candidatura própria

Como já escrevi aqui no blog, sou daqueles que consideram que as mudanças essenciais na vida das pessoas estão diretamente ligadas aos instrumentos e às prerrogativas de que dispõe o governo federal. Os Executivos estaduais e municipais, é claro, também são importantes. Só para citar um exemplo muito caro a cariocas e fluminenses, cabe ao governo do estado a gestão da segurança pública. Mas, no geral, acabam tendo papel complementar no que se refere à formulação e implementação de políticas públicas de real interesse coletivo. A partir desse entendimento, não tenho objeções à política nacional de alianças do PT, cujo eixo central aponta para a garantia da governabilidade dos governos Lula e Dilma e a manutenção da aliança com o PMDB e demais partidos da base visando a reeleição da presidenta ano que vem. Só que o Rio de Janeiro, do ponto de vista do interesse estratégico do PT, pode e deve ser tratado como uma excepcionalidade, como um ponto fora da curva. Aqui, a candidatura própria ao governo do Rio é vital para a sobrevivência do partido no estado.

A necessidade de deixar de ser mero coadjuvante e retomar o protagonismo na cena política do estado é uma imposição dos fatos. Senão vejamos : com votação declinante nas últimas eleições para os Legislativos muncipais, estadual e nacional, o PT do Rio segue uma trajetória de queda acentuada de prestígio entre os formadores de opinião no estado.

Se por um lado perdemos terreno para a ultraesquerda nos estratos médios das sociedade, os quais em passado recente tinham no PT sua referência político-eleitoral, no povão disputamos o reconhecimento pelas realizações do governo federal com políticos de partidos aliados, o que é natural e legítimo, e com aproveitadores, aventureiros e oportunistas de todos os calibres, sem falar na praga dos milicianos.

O diabo é que não é preciso ser cientista político para perceber que o eleitorado do Rio de Janeiro é o mais influenciado pelos humores da classe média. Seja pela geografia, que aproxima os abastados  dos menos favorecidos, seja pela tradição da ex-capital da República de pólo de irradiação política da ex-capital da República, no Rio de Janeiro quem conta com a antipatia de setores de classe média -  não daquela banda conservadora até a medula, racista e udenista, que é caso perdido, mas do seu pedaço progressista - encontra sérias dificuldades de crescimento.

Deixando de lado as táticas e estratégias eleitorais equivocadas do PT no estado, que marcam a trajetória do partido, é hora de olhar para a frente, aprender com os erros e aproveitar as janelas abertas no presente para pavimentar o futuro. E a candidatura do senador Lindbergh cai como uma luva nesta encruzilhada histórica que vive o partido. Primeiro que ele apresenta as credenciais essenciais para o sucesso de qualquer projeto eleitoral : o senador possui potencial e densidade eleitoral suficientes para concorrer com boa chances de vitória. Ou seja, gera expectativa de poder, o que atrai aliados, aumenta o tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV e turbina as contribuições financeiras à campanha. Depois, na certa, será um instrumento valioso para trazer de volta para a área de influência do PT a tal classe média hoje refratária ao partido.

Esse contingente do eleitorado não tolera ver o PT relegado à condição de satélite do PMDB por tanto tempo. O mesmo sentimento domina a maioria esmagadora dos militantes e ativistas do partido. A verdade é que a política de alinhamento ao PMDB no estado se exauriu. Contudo, essa guinada não pode ser algo assemelhado a um cavalo de pau. É preciso responsabilidade e, sobretudo, civilidade política para conduzir esse processo.

Trocando em miúdos,  no Rio, teremos dois palanques de apoio à reeleição da presidenta Dilma, com o senador Lindbergh e o vice-governador Pezão na condição de favoritos. Seria de bom tom que os xiitas de ambos os lados (tanto os que no PT querem fazer uma oposição visceral ao governo de Sérgio Cabral como os Piccianis da vida) entendessem que a postura no primeiro turno é condição sine qua non para a aliança no segundo.

Quem duvida de que dois partidos aliados podem concorrer ao mesmo cargo sem destruir as pontes entre eles é só observar o que aconteceu em São Paulo, nas eleições para a prefeitura vencida por Fernando Haddad. Lá, o PMDB lançou Gabriel Chalita, que, no calor da refrega eleitoral, assumiu muitas vezes discurso crítico ao PT. Mas tudo de forma respeitosa, sem enveredar para a agressão despropositada e o denuncismo barato. Resultado : Chalita apoiou Haddad no segungo turno, carreando para o candidato petista boa parte dos seus nada desprezíveis 13% dos votos. Hoje o PMDB não só integra a base de sustentação do prefeito paulistano na Câmara de Vereadores, como também indicou secretários.

Por fim um alerta aos petistas que pregam uma campanha com "sangue nos olhos" contra o governo de Sérgio Cabral : o eleitor, que está longe de ser bobo, há de se perguntar : "ué, mas então por que o PT participou do governo e o apoiou por oito anos ?" Pano rápido.

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