Por José Garcia Lima, da direção Executiva da CUT-RJ
As manifestações que temos vivido não são democráticas. Podiam ter sido, mas não são! Descrevê-las como compostas de uma vanguarda pacifista, um miolo
apartidário e uma retaguarda violenta, como se fossem atos distintos,
que apenas convivem no espaço comum, é um exercício inútil de reparação
de quem percebe que o monstro criado era mais feio do que supunha.
Verdadeira caricatura, sejam lá quais forem os adjetivos utilizados para tintá-las: participativa, direta, contra-pontual etc.
Até porque a criatura já não reconhece o criador e, na sanha destrutiva, também o ataca. Vida difícil...
As mais diversas reivindicações, algumas notavelmente
contraditórias, costuradas por umas poucas palavras de ordem, como “vem,
vem, vem pra rua vem!” – pelo que a montadora automotiva,
penhoradamente, agradece – e “o gigante acordou”, que propõe coisa
alguma além do ajuntamento.
Os pacifistas, da comissão de frente, em determinados momentos, e se necessário, impõe o pacifismo na porrada!
Os apartidários, do miolo, se revelam realmente anti-partidários e também professam seus princípios na porrada!
A retaguarda – as redes de televisão e os meios de
comunicação não desprezam, jamais, o implemento de audiência e vendas
que os apreciadores do bizarro e do inaudito proporcionam – é exposta
permanentemente no exercício da destruição apenas aparentemente
gratuita. E tome porrada!
O que unifica, então, as manifestações? A porrada!
Não há potência na porrada generalizada. O rastro de destruição e ódio não é constituinte!
A Caixa de Pandora foi aberta!
Um sentimento difuso parece alimentar o desejo do
porradaria geral. Anos de mantra, ad nauseam repetido, de “tudo isso que
aí está é muito ruim e resulta de corrupção” gerou, inicialmente, um
desalento, que evoluiu para alguma depressão e, somado às frustrações
cotidianas, eclode em revolta que se expressa na rejeição geral do
institucional, do constituído, desde que não atinja a cada um,
individualmente – a água já cobrindo o outro me leva a teorizar; quando
bate na minha bunda, me faz buscar socorro!
O que foi projetado e implementado como instrumento de
desleal disputa de projeto político revelou-se veneno excessivo e
descontrolado. Agora, quem pariu Mateus vai ter de, ao menos, ajudar a
embalá-lo.
Mas como o capeta habita certos corações, não à toa, o
vício leva às manifestações habituais. Já há festejadas advertências de
que “se os mensaleiros forem poupados, o monstro sairá de casa”. A
canalha, que o criou em boa medida, ao invés de pensar em domar o
monstro, se pergunta como saciar a sua fome e sai na escolha dos
joãobatistas que vão entrar com as cabeças.
Como um Dom Joaquim, o Torquemada de sei lá onde e sua ridícula
capinha de Batman, não se pense em estabelecer justiça, mas em alimentar
a criatura com o que se imagine necessário.
O ovo da serpente chocou?
“O sujeito foi linchado porque era salgueirense!
– Que absurdo!
– Mas também era torcedor do América e, por isso, merecia ser linchado!
– Ah, tá legal: que se foda, então, o motivo. Importa que tenha sido linchado”.
Nas manifestações no Rio de Janeiro, a expressão do poder
institucional, a ser banido, parece se concentrar no governador Cabral e
no prefeito Paes. Então, “fora Cabral” e “fora Paes”. No que tange ao
prefeito, por exemplo, não em decorrência de a política habitacional do
município incluir as violentas remoções – odiosas! –, mas por ser parte
“disso tudo que aí está!”. Se vai ser linchado, então que se foda o
motivo do linchamento!
A defesa da democracia vai obrigar os que se preocupam em preservá-la
a buscar alianças com todos que o sejam. Possivelmente um ato que
encontra alguns conservadores, no centro do espectro político.
Levando,
ainda mais, ao travamento de algumas possibilidades de avanços. Recuo
tático para defender as trincheiras. Para quem achou que pudesse tirar
uma casquinha nas ações do monstro buscando acelerar...
E porque não há democracia nas manifestações e, ao contrário, elas
parecem encomendas para derrogá-la, esse vira o centro da disputa: na
defesa da ordem democrática, primeiro, para que se garantam os direitos
de todos, em seguida. Como já fizemos.
Antes que chamem o general.
Vida difícil...
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