sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Por que as manifestações fizeram do Brasil um pais pior

1) Porque criou um ambiente de esculhambação urbana generalizada, no qual a primeira vítima é o direito constitucional de ir e vir. Hoje qualquer meia dúzia de gatos pingados, diante do olhar complacente e acovardado das autoridades, interrompe sem qualquer aviso prévio ruas, avenidas e rodovias. Que se dane o direito de todos à locomoção, mesmo dos que precisam de atendimento médico urgente ou pretendem simplesmente descansar depois de um dia de trabalho.

2) Porque no Rio de Janeiro e em outras capitais a democracia representativa, uma conquista do povo brasileiro, vem sendo degradada a céu aberto em nome da tentativa golpista de implantação de um arremedo de democracia direta. Não tenho dúvida que quem ganha com o cerceamento do funcionamento do parlamento, como no caso da Câmara dos Vereadores do Rio, são os setores mais obscurantistas da sociedade. Seria perda de tempo imaginar que os grupos e partidos de ultraesquerda que patrocinam a baderna se deem conta disso, já que não adotam a democracia como valor fundamental.

3) Porque a desmoralização ampla e profunda dos partidos, dos políticos e da prática da política não interessa a ninguém que tenha apreço pele regime democrático.Vale lembrar a célebre frase de Winston Churchill, primeiro-ministro inglês durante a segunda guerra : "a democracia é o pior de todos os regimes, com exceção de todos os outros." Fora da  política, só existe a barbárie. E o descrédito das instituições republicanas cria o terreno fértil para o florescimento de  aventuras autoritárias e antidemocráticas.

4) Porque fascistas e nazistas de todos os matizes e calibres sairam da toca, afiam suas garras e defendem abertamente suas teses xenófobas e racistas, pregando inclusive a interrupção do regime democrático. Ser radical de direita até há pouco era motivo de vergonha e discrição por parte dos seguidores dessas doutrinas totalitárias. Agora, não. De forma mais velada ou explícita, seus representantes dão o ar da graça nas redes sociais, no parlamento, na mídia e na academia.

5) Porque mesmo as bandeiras progressistas desfraldadas nas manifestações, tipo saúde, educação e transporte, foram apresentadas com tanta superficialidade e falta de conteúdo que serviram mais à desqualificação e rebaixamento das conquistas e avanços do país nos últimos 10 anos do que à melhoria efetiva nessas áreas, com exceção da queda na tarifa dos ônibus e as desonerações do setor aprovadas pelo Congresso.Com o bombardeio e o oportunismo corriqueiro da velha mídia, muita gente passou a acreditar que nada de bom foi feito pelo governo federal, assanhando a oposição neoliberal e abrindo a possibilidade de a eleição de 2014 provocar retrocessos sociais e econômicos.

6) Porque o país do futebol projetou para o resto do mundo uma imagem pra lá de negativa daquilo que teria de ser celebrado como uma grande conquista : a Copa do Mundo. Depois de terem transformado em praças de guerra os arredores dos estádios na Copa das Confederações, é de se esperar que algo parecido ocorra durante a realização da Copa do Mundo, ano que vem. Uma coisa é questionar legitimamente modelos de concessão e privatização nitidamente lesivos ao interesse público, como o do do Maracanã e de outras arenas. Outra bem diferente é a tentativa de sabotar eventos importantes para o Brasil. Não se vê o mesmo ímpeto militante no questionamento do vergonhoso preço dos ingressos nos novos estádios, excluindo o povo e elitizando uma paixão popular.Preferem bater seguidamente na tecla de que uma montanha de dinheiro foi gasto com a Copa, cerca de R$ 40 bilhões. Esquecem que o retorno esperado é de R$ 140 bilhões para o país. Mais : em três dias, já são mais de 2 milhões de pedidos de ingressos para a Copa. Ou seja, queiram ou não os "revolucionários" de junho, a Copa está condenada ao sucesso.

7) Porque se formou um lamentável cordão de tolerância em torno dos bandos mascados e fascistas que quebram tudo que veem frente, sob o pretexto da destruição dos símbolos do capitalismo (aqui recorro ao jornalista Paulo Nogueira do blog Diário do Centro do Mundo : "pausa para risada"). Como já escrevi outras vezes, desde quando pardais, sinais de trânsito e orelhões tem a ver com a opressão do capital ? Chega a ser inacreditável ver alguns intelectuais e e militantes de esquerda quase verterem lágrimas ao enaltecer o papel de "autodefesa das manifestações" desempenhado por essa turba. Pausa para risada outra vez. Para risada não, para gargalhada.

8) Porque, conforme a professora Kátia Baggio, da Universidade Federal de Minas Gerais, em recente artigo, é inimaginável o exercício da democracia sem negociação e interlocução acreditada. Grupos horizontalizados, sem lideranças e um mínimo de estratégia de negociação, como vemos nas ruas, apostam apenas na radicalização anárquica e no impasse como mecanismos de sobrevivência de suas táticas de luta.

9) Porque a maioria das autoridades estaduais perdeu a noção de suas responsabilidades na preservação do direito de todos, e não só dos que se manifestam. Nos episódios de rua e de ocupação e depredação de prédios públicos, a Polícia Militar vem dando show de incompetência e prevaricação. Ao mesmo tempo em que comete excessos, agredindo até não manifestantes, a PM se omite diante de ações de vândalos, baderneiros e bandidos infiltrados, especialmente seu serviço de inteligência que é incapaz de mapear, monitorar e impedir a violência praticada por esses hordas.

10) Porque as polícias civis resolveram dar sua contribuição para a arruaça generalizada. Ao arbitrar valores irrisórios para pagamento de fiança do presos por depredações, ela devolve às ruas em tempo recorde gente pronta para vandalizar outra vez, realimentando a espiral de violência. Com isso, tem sido efêmera a passagem pela cadeia desses "presos políticos" (olha a gargalhada aí outra vez).


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