quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entra em campo o Bom Senso Futebol Clube

No mundo do futebol, surge no horizonte um brilho de esperança. É o movimento independente dos artistas do espetáculo, os jogadores de futebol, em defesa de um calendário que preserve sua saúde e integridade física e zele pela qualidade das partidas, cada vez mais comprometidas por uma quantidade massacrante de jogos. O movimento, batizado por seus idealizadores de Bom Senso Futebol Clube, tem também o mérito de tentar romper com a secular tradição de subserviência dos jogadores de futebol à insanidade gananciosa da cartolagem e com a ditadura da TV Globo, senhora absoluta de todas as competições. De quebra, a articulação dos craques do gramado deixou  pendurados na broxa os arremedos de sindicatos da categoria, incapazes desde sempre de organizar um única luta coletiva.

Para se ter um ideia da inércia e da perpetuação no poder nessas corporações de jogadores, no longínquo 1996 fiz uma entrevista com o presidente do Sindicato dos Jogadores de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Alfredo Sampaio. Passados 17 anos, quem aparece na mídia para comentar a polêmica sobre o calendário ? Ninguém menos que o ainda presidente da entidade, o mesmo Alfredo Sampaio. Só um detalhe : há muitos anos ele não é mais jogador de futebol, mas sim técnico. Sem comentários.

O Brasil é o país do futebol. Mas quem dá as cartas no "nobre esporte bretão" é o conluio formado por uma cartolagem da pior espécie, empresários inescrupulosos e as Organizações. Obcecados por faturar cada vez mais, nem que seja sobre pau e pedra, ignoram o papel do futebol em nosso país como traço cultural marcante do povo brasileiro, lazer de massas, paixão popular, fator de mobilidade social e identidade nacional.

Somente a frieza e a insensibilidade ditadas por razões comerciais que não levam em conta o bem comum podem explicar a realização de jogos de futebol nos horários mais esdrúxulos, tipo 22 horas de um dia útil. O trabalhador sai do estádio depois da meia-noite, padece à espera de transporte, se expõe diante da insegurança das metrópoles e chega em casa já de madrugada, tendo que acordar cedo para mais uma jornada de trabalho.

Nada disso comove a Rede Globo de televisão, que, para patrocinar as competições, garantir o monopólio das transmissões e ganhar rios de dinheiro  não abre mão de manter sua grade de programação. Futebol, só depois da novela das 21h e ponto final. E os clubes, muitos deles instituições centenárias admiradas e amadas por milhões de brasileiros, são incapazes de defender o interesse do público, dos seus atletas e deles próprios. Em troca da verba da Globo, cujo valor é desproporcional ao faturamento milionário da emissora com as transmissões, curvam a espinha e vida que segue.

Antes dos estádios brasileiros terem se transformado em "arenas" para a Copa do Mundo, eles reservavam espaços para todas as classes sociais (geral, arquibancada e cadeira). Hoje, os preços são proibitivos para os pobres. E a elitização e o abuguersamento do futebol acontece com o total beneplácito dos cartolas dos grandes clubes. Alienados e alheios à dimensão do que significa dirigir um clube de massa, muitos mandatários dos grandes do nosso futebol chegam a apoiar os preços exorbitantes cobrados pelos consórcios privados que administram as tais arenas. E pior : admitem  que, de agora em diante, futebol para os menos favorecidos só pela televisão.Um absurdo.

Enquanto isso, a Lei Pelé, que veio para libertar o atleta da famigerada lei do passe, que fazia do jogador de futebol a única categoria profissional a quem era negado o direito de escolher onde trabalhar, provocou o efeito colateral de abrir caminho para a farra dos empresários "mandrakes", também conhecidos como agentes.

Fugindo das generalizações, uma vez que existem várias exceções, é público e notório que esses empresários vivem a rondar as divisões de base dos clubes, assediando adolescentes, jovens e até crianças com propostas e projetos de futuro, não raros descolados da realidade. Quem paga a conta é o clube formador que investiu a vida toda no garoto e ,de repente, perde a promessa de craque diante da primeira abordagem sedutora.

São tantas as mazelas do nosso esporte mais popular que somente a sofisticada, plástica e artística escola brasileira de futebol pode explicar tantos títulos e conquistas dentro do campo, estreladas por alguns dos maiores craques já produzidos pelo mundo da bola.



Nenhum comentário:

Postar um comentário