sexta-feira, 25 de outubro de 2013

PT : eleições diretas internas não podem interditar debate político

Os que prezam a democracia não podem ser contrários a um processo de eleições internas como o do PT, do qual devem participar, em novembro, cerca de 600 mil filiados em todo o país, dos 800 mil com direito a voto. Nenhum partido do país seria capaz de tão robusta demonstração de vitalidade. Lembro que o PED (Processo de Eleições Diretas) foi responsável por uma baita demonstração de força do partido, no auge da crise do mensalão em 2005. Isso posto, quero jogar luz sobre a outra face da moeda. Ou seja, um dos mais notórios efeitos colaterais do PED tem sido o bloqueio do debate político interno. Não defendo, que fique bem claro, o fim das eleições diretas. Mas sim o debate sobre um modelo híbrido, capaz de combinar essa gigantesca consulta direta aos filiados com mecanismos que permitam a tão necessária discussão política no partido. Embora não tenha essa fórmula, apenas algumas propostas embrionárias, estou convencido de que esse caminho existe.

Fazendo a ressalva de que não pretendo enveredar por uma argumentação nostálgica e saudosista, afinal os tempos são outros, bem como as demandas da sociedade, a militância, a realidade, a correlação de forças e o Brasil, não dá para deixar de ter como parâmetro a época em que que as concorridas e polêmicas convenções do PT eram um acontecimento político e tanto, um espaço rico para os debates táticos e estratégicos do partido.

Nesses encontros respirava-se política. Cansei de ver gente mudar de posição depois de se confessar convencida pelo brilho intelectual e político de um discurso. Cada militante que subisse à tribuna era, no mínimo, prestigiado pela atenção dos convencionais. Podia ser aplaudido ou até vaiado, mas não condenado à indiferença.

Lembro de uma das primeiras convenções do PT-RJ, realizada na Câmara dos Vereadores de  Duque de Caxias, na qual ouvi do secretário-geral do PT nacional à época, Francisco Weffort, o mesmo que mais tarde se bandeou para o ninho tucano, a seguinte frase : "Nossa, estou com dificuldades para escolher um grupo para acompanhar os debates, pois um é melhor do que o outro." Ele se referia ao conteúdo do debate feito nos grupos, que antecedia à plenária do dia seguinte, algo impensável nos dias de hoje.

Agora, as convenções assumiram caráter meramente protocolar e burocrático, com o debate político sendo substituído pela confirmação legal dos eleitos no PED, conforme as regras da Justiça Eleitoral. Os botecos do entorno do local das convenções é que costumam lotar. Lá, embalado pelos eflúvios do álcool, pelo menos os militantes falam de política.

Outros aspectos marcantes, e deprimentes, da era PED são as ações caciquistas e antiéticas de lideranças partidárias no sentido de "contribuir" para pôr em dia as contribuições financeiras partidárias obrigatórias dos filiados (exigência para se ter direito a voto), ou bancar os custos do transporte do eleitor, ou até mesmo patrocinar um suculento churrasco regado à cerveja, para saciar a fome e deixar a alma mais leve.

Contudo, para não ficar só na crítica, arrisco algumas propostas que poderiam ajudar a trazer de volta a política para a posição de principal protagonista da vida partidária, embora saiba que a possibilidade de o PT topar encarar esse debate é a mesma de Rubem Barrichello ganhar uma corrida. Como papel e computador aceitam tudo, vamos lá :

1) As convenções municipais, estaduais e nacional antecederiam ao PED. A essas convenções seriam restituídas as prerrogativas de definição das diretrizes políticas, das táticas eleitorais e dos planos de ação do partido.

2)  Núcleos e zonais escolheriam os delegados da convenção municipal, que por sua vez elegeria os delegados da estadual. Dessa convenção sairia a delegação para a nacional.

3) Depois das convenções, aí sim, viria o PED. Os candidatos mais afinados com as políticas aprovadas na etapa das convenções concorreriam com mais chances, o que seria salutar para o partido. Mas os que viram suas posições não serem contempladas nas convenções, assegurariam espaço para seguir defendendo suas teses minoritárias mas importantes para o equilíbrio de posições no interior do partido.

4) Fim da contribuição financeira partidária obrigatória. Essa contribuição deve ser facultativa e voluntária. Partido de massa não deve exigir contribuição de seus filiados. Paga quem puder. Afinal, já existem o fundo partidário e a contribuição dos parlamentares. Essa decisão poria fim ao mandonismo e ao desvio ético de dirigentes e correntes que pagam as contribuições dos filiados, ganhando votos e, consequentemente, espaço na máquina partidária na base do cabresto.




Um comentário:

  1. É camarada Bepe, uns dos efeitos colaterais da chegado do PT ao poder foi a 'dificuldade' de debate interno. Não so em tempos de PED. O nivel de discussao tb era, outro. Nao se discutiam mandatos e estruturas e sim politica.
    mais uma vez direto ao ponto, parabens

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