terça-feira, 26 de novembro de 2013

Governo e PT fogem da mãe de todas as batalhas

Desde 2005 a sociedade vem sendo brutalmente manipulada pelo conglomerado midiático de direita sobre a questão do mensalão. Mas o PT a tudo assiste passivamente. A farsa montada por  Barbosa e acatada pela  maioria dos ministros do STF, segundo a qual houve desvio de dinheiro público e compra de deputados, só pôde ser construída com o apoio maciço e decisivo da mídia velhaca e venal. Mas o governo do PT continuou  empanturrando de dinheiro os jornalões, as revistas semanais do PIG e a Rede Globo. Ao longo de oito anos, gente com vasta folha de serviços prestados ao partido, à democracia e ao país foi linchada dia e noite. Mas o partido se calou. A campanha insidiosa dos derrotados nas urnas visando a criminalização do PT já ultrapassa os limites da classe média mais tacanha e reacionária e faz eco em alguns estratos populares. Mas o governo Dilma não é capaz nem mesmo de enviar ao Congresso Nacional o projeto de regulação da radiodifusão elaborado pelo ex-ministro Franklin Martins e engavetado por Paulo Bernardo, naturalmente cumprindo ordens da presidenta. Está certo que não se pode travar todas as batalhas ao mesmo tempo. Mas se o governo continuar se negando a enfrentar a mãe de todas as batalhas, a democratização da mídia, será um verdadeiro desastre para o PT, com potencial até mesmo para comprometer seu futuro. Não basta colher assinaturas para um Projeto de Lei de Iniciativa Popular e apoiar formalmente a regulação. É necessário pressionar a presidenta e o Congresso Nacional. Fazer da questão prioridade absoluta.

E não me venham com a historinha de que estamos bem nas pesquisas eleitorais para 2014, nas quais Dilma lidera com folga, etc e tal. Não é esse o debate. Para um partido de esquerda com a origem e a trajetória do PT é de uma mediocridade abissal tratar vitórias em eleições como um fim em si mesmo, como único objetivo estratégico, como razão de ser do partido. É claro que é preciso fazer das tripas coração no ano que vem, lutar com unhas e dentes e mobilizar a militância para derrotar a matilha feroz da direita , dando continuidade ao projeto que há quase 12 anos está mudando a vida de milhões de brasileiros e brasileiras

Mas, que diabos, será mesmo que para se manter no governo o PT deve abdicar da luta pelo imaginário das pessoas ? Será que o pragmatismo inerente à lógica do poder justifica a omissão do partido na defesa da sua imagem e da sua história ? Será que as táticas eleitorais e as estratégias de marketing político devem prevalecer  ante à luta mais subjetiva pela hegemonia moral na sociedade? Por falar em moral, será que encontra amparo moral e ético permitir sem a reação adequada que companheiros sejam encarcerados depois de um julgamento político e de exceção repleto de erros e afrontas à Constituição ? Onde foi parar a solidariedade, a fraternidade e a camaradagem típicas dos militantes de esquerda ?

Ressalve-se que é preciso fazer justiça às manifestações de solidariedade aos presos políticos por parte de alguns deputados, senadores, governadores e outras figuras públicas do partido. O alvo da minha crítica é a postura institucional do PT. Fiquei sabendo, por exemplo, que na última reunião do Diretório Nacional, ocorrida já com os petistas presos, um influente dirigente disse que a questão do mensalão não se encontra no "centro tático do partido" no momento. No bom português, isso equivale a um "que se dane os presos". E, a julgar pela resolução recuada e tímida do DN ao fim da reunião, essa visou fez sucesso entre os dirigentes. Infelizmente.

Outra coisa : pode e deve haver quem admire Lula tanto quanto eu. Mais, no entanto, é impossível. Mas já estou literalmente de saco cheio do seu silêncio sobre o mensalão. Ainda mais porque essa postura acaba influenciando todo o partido.

Vamos tentar analisar com mais detalhes esse mutismo :

1) Dá para entender o embaraço institucional da presidenta Dilma diante do mensalão. Como presidenta da República deve mesmo tratar de governar e evitar crises entre os poderes;

 2) O caso de Luta é completamente diferente. Ele está sem mandato e é a maior liderança do partido.

3) A população tem o direito de saber o que pensa o maior líder popular do país sobre o mensalão;

4) Não custa lembrar que o episódio se deu no seu governo, sendo inclusive amplamente manipulado para tentar derrubá-lo;

5) Arrisco, sem medo de errar, que se o o melhor presidente da história do país tivesse se confrontado com o PIG e com o STF desde o início do julgamento, na condição já de ex-presidente, as coisas não chegariam onde chegaram. O peso político de Lula faria a diferença.

6) Já se tornaram patéticas as declarações de Lula de que um dia, quando tudo terminar, falará sobre o mensalão. Ver companheiros presos não o faz mudar de ideia ? |Por que ?

7) Dizem que o silêncio sepulcral de Lula diante do mensalão tem a ver com orientações nesse sentido do marqueteiro João Santana. Se for verdade, é lamentável que o marketing esteja cima de questões cruciais de natureza política e humanitária.








Um comentário:

  1. O silêncio do PT, de seus parlamentares e, principalmente, de Lula é uma vergonha. Até que o julgamento estivesse prestes a começar, até poder-se-ia relevar sob argumento de não por lenha na fogueira. Mas, a partir daí, sabendo-se com toda a clareza o papel desempenhado e a desempenhar pela mídia, era a hora de por a boca no trombone, gritar, ir para as ruas, ... Aqui é preciso reconhecer que até a realização do julgamento, mesmo a militância se calou. Não há inocentes nessa história. Mas, é preciso reconhecer que agora a militância faz a sua parte e as lideranças se acovardam.
    Sobre o enfrentamento da questão da regulação da mídia, o que penso está exposto em: http://markozero.blogspot.com.br/2013/04/a-midia-o-governo-e-sociedade.html

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