quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

A batalha eleitoral do Rio

O candidato do PT ao governo do Rio, Lindbergh Farias, reúne as chamadas condições objetivas para ganhar a eleição de outubro : tem partido, tempo na propaganda eleitoral gratuita, carisma e usa muito bem a televisão em períodos eleitorais. Sem falar no sucesso que faz com o eleitorado feminino, bem como sua simpatia e reconhecida capacidade de pedir votos 24 horas por dia, no corpo a corpo com o eleitor. Mas enganam-se redondamente os petistas que imaginam que a campanha seja apenas o cumprimento de uma formalidade rumo ao Palácio Guanabara. Ao contrário, uma eleição dura se avizinha contra o candidato da máquina do PMDB.

Embora as pesquisas qualitativas feitas até aqui confirmem as chances concretas de vitória de um candidato com o perfil do senador do PT, o quadro merece ser olhado com mais cuidado. Em relação aos prováveis adversários, de cara, dá para cravar que o líder das últimas pesquisas, o ex-governador Garotinho, não assusta. Isso porque seu altíssimo índice de rejeição faz dele um candidato bom de largada (devido ao seu consolidado prestígio entre setores da população evangélica), mas fraco de chegada. Não seria razoável supor, portanto, uma vitória do deputado do PR num eventual segundo turno.

A possível candidatura do senador Marcelo Crivella padece de problema parecido. Em que pese desfrute de uma imagem de seriedade muito superior a de Garotinho entre os formadores de opinião e, consequentemente, ostente taxas de rejeição menores, Crivella é fortemente carimbado como defensor das causas da Igreja Universal do Reino de Deus, denominação evangélica da qual é uma das lideranças no estado. O senador, no momento, parece hesitar entre se lançar candidato ou não. Há quem diga que os aconselhamentos de Lula, de quem não esconde seu respeito e admiração, terão peso fundamental na sua decisão.
  
Já o candidato do DEM, o ex-prefeito César Maia, a despeito de marcar até certo ponto surpreendentes 10% ou 11% nas pesquisas, carece de potencial eleitoral para passar disso. Com a credibilidade como gestor público bastante arranhada pelas suas passagens pela prefeitura, especialmente em razão do seu desastrado último mandato, seu discurso parece condenado a alcançar apenas setores conservadores mais empedernidos, além de uma parcela expressiva de servidores públicos municipais do Rio, para os quais César foi um prefeito sensível aos seus pleitos. Como se vê, suas chances de crescer na campanha, a ponto de chegar a um segundo turno, são praticamente nulas. Sua alta rejeição é um obstáculo quase intransponível, uma vez que é profundamente enraizada.

O Psol correu da raia nessa eleição para governador. Optou por escalar suas duas mais importantes lideranças no Rio, Marcelo Freixo e Chico Alencar, para puxarem a legenda nas eleições para Assembleia Legislativa e Câmara dos Deputados, respectivamente. Para o governo, apenas cumpre tabela com a indicação do desconhecido professor Tarcísio.Ainda assim, o prestígio e força eleitoral de Marcelo Freixo, notadamente entre os jovens, tendem a fazer com que o professor Tarcísio obtenha votação superior aos candidatos que o Psol lançou ao Palácio Guanabara até hoje, que obtiveram pífios apoios do eleitorado.

Por fim, chegamos ao Pezão, o candidato do governador Sérgio Cabral, do PMDB e da continuidade. Não me iludo com as análises apressadas das pesquisas feitas desde junho do ano passado, no olho do furacão das manifestações, que apontam Pezão como carta fora do baralho devido à queda acentuada na aprovação do governador Cabral.

É que não dá para subestimar a máquina do PMDB fluminense. Pragmáticos e profissionais da política até a medula, as lideranças do partido costumam imprimir um ritmo de campanha extremamente ágil, com presença visual marcante de seus candidatos e, principalmente, com muito dinheiro. Enquanto não houver uma ampla reforma política no Brasil e a adoção do financiamento público das campanhas, leva clara vantagem quem pode arrecadar mais dinheiro com empreiteiros, banqueiros e empresários de uma forma geral. E o PMDB fluminense tem se revelado craque nessa especialidade, ao longo de tantos anos à frente do Poder Executivo do estado e da prefeitura do Rio.

Mais importante ainda que a montanha de dinheiro de que disporá o PMDB para a campanha é a estratégia de realizações montada para este ano. Só para citar dois exemplos,depois da posse de Pezão, já em março com o afastamento de Cabral, estão previstas as chegadas  do exterior de várias composições, estalando de novas, para os trens e para o metrô, além de uma velocidade frenética na instalação de novas UPPs na Zona Oeste, Baixada Fluminense e Niterói e São Gonçalo. Com todos os problemas enfrentados pelo projeto das UPPs, que a rigor vivem seu pior momento, vamos combinar que ainda é  um cabo eleitoral e tanto.

Além de tudo isso, é preciso levarmos em conta que os mais ilustres e influentes apoiadores de Lindbergh, Lula e Dilma, terão dificuldades para pedir votos a céu aberto para o candidato do PT, já que no estado a base aliada concorrerá com mais de um candidato.Cabe à militância do partido pressionar pela tese dos dois palanques para a presidenta Dilma no Rio. Preocupa também a ligação estreita do governo Cabral com o Judiciário do estado, o que pode dar margem a jogadas no "tapetão" contra Lindbergh.

Contudo, penso que Lindbergh será o próximo governador do Rio. Desde que sua campanha se prepare adequadamente para enfrentar a máquina do PMDB no segundo turno das eleições e fuga da armadilha do salto alto.

 


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