sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

A responsabilidade política do queridinho de O Globo

Se dependesse dos jornalistas da redação de O Globo, o deputado estadual Marcelo Freixo, do Psol, seria eleito para tudo que quisesse na vida. Na rua Irineu Marinho, ele é preferido por nove entre dez profissionais do jornal. Até os irmãos Marinho simpatizam com o rapaz, pegando carona nos ataques de Freixo e seu partido ao PT, o inimigo público número1 dos herdeiros do Doutor Roberto. Fico imaginando como doeu para os editorialistas de O Globo a redação do editorial da última quarta-feira (12/2), no qual o jornal cobrou de Freixo suas contradições e explicações mal dadas sobre o papel de um assessor  na defesa de bandidos mascarados travestidos de manifestantes. Mas, graças aos céus, o Brasil não é O Globo, tampouco o Rio de Janeiro é a vênus platinada.

Faço questão de demarcar uma diferença visceral com os métodos de Freixo e do Psol. Por isso, considero uma leviandade tentar envolver a maior liderança do partido aqui no Rio entre os culpados pelo trágico episódio que levou à morte de Santiago, o cinegrafista da Band. Claro que Freixo não tem culpa .Não é disso que se trata.

Contudo, Freixo e seu partido não podem se eximir de responsabilidade política, na medida em que eles foram protagonistas de um enredo que tinha tudo para terminar em tragédia. Antes de entrar nesse mérito, abro um parênteses para  destacar os espaços generosos que as Organizações Globo e seus irmãos siameses do PIG têm ofertado para Freixo fazer sua defesa. Imaginem se fosse alguém do PT que tivesse no olho do furacão deste episódio ?

Já teria, na certa, sido linchado pela mídia, sem direito à defesa, e condenado sumariamente pelo tribunal udenista, do qual o Psol tem participação relevante, sempre levantando seu dedo acusador contra o PT e aliados diante de toda e qualquer denúncia escrota do PIG. Contra o PT, versão vira fato concreto, capa criminosa da Veja vira pedido de investigação, ataques absurdos como dólar em caixa  de uísque vira pedido de CPI e indício fajuto vira prova.

Retomando o fio da meada deste texto, enumero abaixo os motivos que apontam claramente para a responsabilidade política do Psol .

1) Houve um nítido acordo entre o Psol, o PSTU e os black blocs depois que a população abandonou as manifestações, justamente por não concordar com a quebradeira , o vandalismo e o terror. Antes, para quem não lembra, o Psol era hostilizado como todos os outros partidos. Isso mudou. As bandeiras do Psol e do PSTU tremulam hoje pacificamente entre os gatos pingados arruaceiros das manifestações.São grandes as possibilidades de o cachimbo da paz ter sido fumado mediante acordos de financiamento aos mascarados, além dos respaldos político e jurídico que já se tornaram públicos.

2) Chega a ser risível ouvir e ler declarações de Freixo e de dirigentes do Psol dando conta de seus compromissom com a não violência, à la Mahatma Gandhi, e com a paz. Ora, então por que nunca se ouviu de um psolista uma fala pública sequer condenando os métodos dos black blocs, nem  mesmo uma tímida nota ou um discurso do deputado Freixo da tribuna da Alerj ? E olha que tempo não faltou para isso, afinal, os mascarados infernizam a vida da população carioca e fluminense há pelo menos oito meses.

3) Longe dos holofotes da mídia, cabeças coroadas do Psol defendem abertamente os métodos de atuação dos mascarados. Chegam a festejar sua chegada à cena política brasileira e estendem-lhe tapete vermelho, como foi o caso do secretário-geral nacional do partido, Edilson Silva, que, em artigo publicado no site do Psol, e só retirado diante da comoção causada pelo assassinato do cinegrafista, não escondeu seu entusiasmo com a grande novidade da luta anticapitalista, os black blocs. E previu vida longa ao movimento. "Veio para ficar", comemorou.

4) O Psol leva o oportunismo político-eleitoral às últimas consequências. Vale tudo para surfar nas ondas que aparecem. Esquálido em termos de voto, procura desesperadamente reforçar usa musculatura política, nem que seja sobre e pau e pedra da democracia. Todo mundo estava vendo que a violência que campeia nas ruas produziria cadáveres. Aliás, chega a ser um milagre que outras mortes não tenham ocorrido antes. Mas o que fez o Psol ? Só tinha olhos para a violência policial. Diga-se de passagem, a repressão desmedida e a violência contra tudo e contra todos praticada pela PM em muitas manifestações merece mesmo a condenação da sociedade. Mas os psolistas nunca levantaram a voz para criticar os vândalos  que destroem o patrimônio público e privado. O tempo todo fingiam que não viam o óbvio : a maioria esmagadora dos confrontos entre os black blocs e a polícia acontecia depois que os mascarados atiravam coquetéis molotov contra a PM ou saiam quebrando o que viam pela frente.

5) As figuras públicas do partido nunca se solidarizaram com a drama dos trabalhadores e trabalhadores não manifestantes, que após uma dia estafante de trabalho ou ficavam horas a fio engarrafadas ou tinham que correr para se proteger da fumaça, das bombas e do quebra-quebra. Muito menos passou pela cabeça de dirigentes tão iluminados as necessidades urgentes de locomoção de quem precisa levar uma filho ao médico ou uma mãe ao pronto-socorro.Nenhum parlamentar do partido, por exemplo, ocupou uma tribuna legislativa para se solidarizar com os cariocas que incontáveis vezes viram ser reduzidos a pó equipamentos públicos importantes como paradas de ônibus e sinais de trânsito.Nenhuma palavra também para o estrago causado em prédios públicos de inegável valor histórico e arquitetônico.




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