"Mensalão" : o craque entra em campo quando o jogo acabou

Ao ler as muito bem-vindas críticas do ex-presidente Lula aos ministros do STF que avacalham seu papel institucional e se transformam em agentes políticos, fui tomado por sentimentos contraditórios. De um lado, a enorme satisfação de ver uma liderança amada pelo povo brasileiro como Lula chamar às falas e botar nos seus devidos lugares anões da República como Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. De outro, a angustiante  constatação de que a dura fala de Lula veio tarde.

Tarde porque ninguém me tira da cabeça que se o ex-presidente, do alto da sua condição de maior líder popular do país, tivesse peitado desde o início a maior farsa da história do Judiciário brasileiro, muito provavelmente o resultado do julgamento da Ação Penal 470 teria sido outro.

Caso Lula tivesse reagido a tempo e a hora, o PT certamente viria junto. Seus vereadores, prefeitos, deputados, senadores, enfim suas figuras públicas, teriam encarado o julgamento da Ação Penal 470 de outra forma.

Muitos militantes do PT, que até hoje ainda não entenderam que o alvo dos conservadores sempre foi a destruição do partido, certamente teriam se somado à minoria de ativistas que desde o início lutam por justiça. Só que no melhor estilo David x Golias.

Aí está o nó da questão. A tempestade de mentiras e infâmias  lançada sobre a população pelos meios de comunicação, ao longo de oito anos, acabou fazendo estrago também entre os petistas. É claro que esse panorama começa a mudar. As bem-sucedidas vaquinhas para pagar as multas absurdas impostas aos presos petistas revelam que um contingente expressivo da militância despertou.

Mas só o Lula teria o condão de liderar o conjunto do partido na guerra contra o linchamento público dos petistas, a criminalização do partido, a máquina de moer reputações montada pelo aparato midiático de direita  e todas as ilegalidades cometidas no curso do julgamento da Ação Penal 470. Sua liderança poria a serviço da grande causa da não condenação de inocentes a imensa capilaridade e influência do PT na sociedade brasileira.

Tudo leva a crer, porém, que Lula optou por seguir uma linha fria e pragmática no decorrer do julgamento. Quem sabe tenha dado ouvidos em excesso às pesquisas qualitativas, as cerejas do bolo do marketing político.

Examinemos uma fala pública recorrente de Lula, para justificar seu silêncio, e outra atribuída ao seu círculo mais próximo de assessores e marqueteiros. Elas nos dão algumas pistas para entender a estratégia equivocada do ex-presidente.

"Na condição de ex-presidente, não posso tecer comentários sobre julgamentos do STF que ainda não terminaram. Quando tudo acabar, falarei." ( Lula)

Comentário : Por que diabos um ex-presidente não pode comentar decisões do Judiciário ? Isso não existe em nenhuma democracia avançada do planeta. A situação da presidenta Dilma dá para entender. É aquela história de risco de crise entre os poderes, etc. Vou além : um líder político da envergadura do Lula tem até a obrigação de denunciar violações do processo penal, da doutrina, da jurisprudência e da Constituição, que aconteceram aos borbotões no julgamento do "mensalão". Outra coisa : a parte que importa de um julgamento, saber se os réus serão condenados ou não, já está terminada desde o segundo semestre de 2013. E por que Lula só foi falar agora ?

"Esta é uma causa perdida na opinião pública. Deve se evitar falar dela para  não permitir a contaminação de Lula, do PT e do projeto." ( visão pragmática dos marqueteiros e da maioria do PT)

Comentário : Afirmação falsa. O que compromete a imagem e atrapalha o projeto em curso é o PT se deixar rotular, sem luta, como partido de corruptos. O maior patrimônio de um partido é a sua imagem. Enganam-se os que pensam que basta que alguns petistas ilustres cumpram suas penas para a vida seguir adiante. Na alça de mira do golpismo conservador sempre esteve o partido e o fim do clico de transformações que ele implementa na sociedade brasileira há 12 anos.