Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador
Caro senador, essa “carta” é escrita sem rancor nem ironia. O senhor
provavelmente nem me conhece. Escrevo depois de vê-lo agredir
verbalmente um blogueiro que tentou entrevistá-lo na última terça-feira,
no Congresso. O senhor xingou o rapaz, avançou contra ele, e depois
tentou se justificar nas redes sociais, dizendo que ele era um
“ex-assessor do PT”. Aqui um tweet do @Aloysio_Nunes: “acha que um senador de oposição pode ser ofendido por um ex-assessor do PT ? Acha que não há câmeras no Senado?”
A mídia ligada ao tucanato rapidamente espalhou a notícia (falsa) de
que um senador reagira a “insultos” de um blogueiro ligado ao PT. O nome
do blogueiro é Rodrigo Pilha. As imagens, senador, não mostram insultos
por parte do blogueiro. Mas um tratamento até respeitoso – apesar de
provocativo. Veja mais detalhes aqui.
Parece-me que o PSDB está mal acostumado: protegido pela mídia
paulista e mineira, tem queixo de vidro. Não sabe apanhar, perdeu a
capacidade de levar uns golpes. Já quer partir pra briga, pedir cabeças,
mandar prender. Lamentável.
Senador, preciso dizer que eu costumava
ter certo respeito pelo senhor, pela sua história. Respeito, justamente,
pela firmeza que o senhor demonstrou nos momentos em que seu partido
esteve na defensiva no segundo governo Lula. Enquanto Serra e Alckmin
“esconderam” FHC, e renegaram o privatismo, o senhor fez campanha ao
Senado com FHC no horário eleitoral em 2010. Defendeu FHC, e foi apoiado
por ele. Gosto de gente que atua assim, de peito aberto. Mesmo
carregando um fardo pesado.
Além disso, quando era Chefe da Casa Civil de Serra no governo
paulista, o senhor alocou recursos para publicar livro importante, sobre
desaparecidos políticos – editado por famílias de gente que morreu
lutando contra a ditadura.
Muita gente não sabe que o senador Aloysio foi um dia o “camarada
Mateus” – guerrilheiro da ALN. Atuou ao lado de Marighella, deu tiros,
assaltou. Jamais renegou esse passado. E nem teria porque fazê-lo:
lutava contra uma ditadura. O senhor foi mais prestativo do que certos
petistas no momento em que famílias de desaparecidos e mortos pela
ditadura precisaram de ajuda. De novo, postura corajosa, na medida em
que contraria posições de eleitores e da base social tucana em São Paulo
– que se deslocou para a direita.
Pois bem. Ao avançar contra o blogueiro no Congresso, o senhor não
mostrou coragem. Ao contrário, confundiu bravura com desrespeito e
autoritarismo. Foi covarde, até.
Mais que isso: o senhor justificou o ataque ao blogueiro pelo fato de
ele ser do PT. Não esperava que o senhor aderisse à lógica justiceira
que já incendeia as ruas e a internet. Há um movimento, um desejo
latente em certos setores, de “exterminar o PT”. E ele gera um clima
violento de parte a parte. “Tucanalha” de um lado. “Petralha” do outro.
Onde isso vai nos levar, senador?
De fato, a abordagem do blogueiro Pilha pode ter irritado o senhor.
Mas já imaginou se Genoíno ou Dirceu reagissem da mesma forma, quando
foram abordados de forma muito mais agressiva por equipe de TV? Imagine
se um parlamentar do PT avançasse sobre um jornalista ou humorista,
gritando e xingando como o senhor fez? Estaria sujeito a pedido de
cassação, por quebra de decoro. Viraria manchete. Sabemos que a mídia
tucana não fará isso com o senhor. Mesmo assim, sua imagem (perseguindo
aos berros o blogueiro) percorre a internet; e não é das mais
edificantes.
Imagine se o ex-presidente Lula fizesse o mesmo com certos blogueiros
da “Veja” que o atacam de forma muito mais virulenta todos os dias? O
Lula teria que dar uns sopapos na turma da “Veja”? Mandar a “PQP”?
Esfolar? Prender?
Caro senador Aloysio, o senhor errou.
Perder a cabeça é algo normal. Quem sou eu pra dar lição de moral
nesse sentido… Quem me conhece sabe que eu também brigo, não aceito
desaforo. Então, senador, o mais grave não foi perder a cabeça. Mas
tentar justificar o ataque porque afinal, do outro lado, estava um
petista.
Senador, isso parece aquela turma que lamenta o linchamento da moça
no Guarujá, porque afinal “ela não fez nada”, “não era a pessoa certa”.
Ah, se tivesse feito, então podia linchar?
Esse clima de “linchamento”, de “criminalização” política, afeta hoje
mais gravemente o PT. Até porque o bombardeio midiático é
desproporcionalmente mais intenso quando há um petista envolvido em
denúncias. Mas essa história de “vai pra puta que te pariu, seu
petista”, pode virar fácil “morte aos tucanos que acabaram com a água de
São Paulo”.
Senador, o senhor deveria pedir desculpas ao rapaz. Isso não o
diminuiria em nada. Não significaria ceder em um milímetro nos duros
embates com o PT. Legítimos, apesar de quase sempre eu estar do outro
lado – e não ao seu lado nesses embates.
A sua história, apesar do PSDB ter ido para a direita, não merecia
esse momento Toninho Malvadeza. O senhor é melhor que isso. Apesar de
todas nossas discordâncias, sei que é.
E acho que o senhor faria bem se respondesse às perguntas que o
blogueiro tentou fazer ao ser interrompido pelo “vai pra puta que te
pariu”:
- por que o PSDB quer CPI em Brasília, mas não admite CPI em São
Paulo para apurar as denúncias graves de “corrupa” no Metrô e nos trens?
- se o senhor acha que não precisa de CPI em São Paulo porque afinal
já há outras instâncias (MP, policia etc) a investigar, por que diabos
esse raciocínio não vale para a Petrobrás?
- e o que o senhor acha do envolvimento de seu nome nas denúncias em
São Paulo? O senhor não deve? Então explique, sem gritar – por favor.
Lembre-se, caro senador, que esse clima de “pega pra capar” costuma
começar com Robespierre cortando cabeças. E depois a cabeça de
Robespierre também vai pra guilhotina.
Com todo o respeito, não perca a cabeça.
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Boa Bepe!!!
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