segunda-feira, 12 de maio de 2014

Dilma estável e a seleção de Parreira

Por Rodrigo Vianna, no blog Escrevinhador

Apesar dos recuos, Dilma controla o jogo, feito
a seleção de Parreira em 1994
Começa a se cristalizar, entre analistas e observadores dos fatos políticos, a impressão de que “o pior já passou” para a campanha de Dilma. Não se trata de torcida. Mas de observação da realidade.Concordo com essa avaliação. Os primeiros quatro meses do ano foram de repique da inflação – que já começa a recuar agora em maio; esse quadro (somado ao bombardeio midiático contra a Petrobras e ao episódio Andre Vargas) jogou Dilma para as cordas. Apesar dessa conjuntura muito complicada, a presidenta não caiu abaixo dos 37% dos votos. Aécio, apesar de todo esforço dos parceiros midiáticos (aqueles mesmos que, em 2010, torciam o nariz – ops – para o perfil pessoal “complicado” do mineiro), chegou a 20%, e Eduardo patina em 11% – segundo o DataFolha.


O bombardeio midiático seguirá. Mas o governo petista retomou a iniciativa. E isso se deu depois da entrevista de Lula aos blogueiros e, principalmente, após o pronunciamento de Dilma no Primeiro de Maio (leia aqui – E Dilma falou: tarde, mas não tarde demais). Ali, ficou claro que a dinâmica da campanha obriga Dilma a se mover alguns graus para a “esquerda”, e que ao fazê-lo é capaz de demarcar território e manter intacto o núcleo duro de sua base de apoio (não falo da base parlamentar, mas da base social).
Isso tudo não é surpresa nenhuma. No início de 2013, quando Dilma surfava com mais de 45% de intenções de voto, afirmei aqui neste blog que essa é eleição para dois turnos. Sempre foi. Aécio (com ou sem Petrobras, com ou sem inflação) tem alianças, base social e uma conjuntura a empurrá-lo para pelo menos 20% ou 25% dos votos no primeiro turno. Daí pra cima. Eduardo Campos, da mesma forma, é candidatura para 10% ou 15%.
Isso significa que os dois candidatos da oposição, juntos, terão ao menos 35% dos votos no primeiro turno. Somados aos “nanicos” (pastor Everaldo, Eduardo Jorge do PV, Randolfe do PSOL), os votos da oposição chegariam a pelo menos 40% ou 42%.
Se levarmos em conta que teremos 20% de brancos e nulos, Dilma teria que obter 40% mais um dos votos totais pra vencer. Isso parece improvável.
Se o quadro permanecer estável, ou seja, se não houver nenhuma tragédia durante a Copa (e não falo de a Argentina ganhar do Brasil na final com gol no último minuto – toc, toc, toc), o mais provável é que Dilma ainda caia mais um ou dois pontos até agosto e Aécio suba mais um pouco.
A candidata petista, então, teria o horário eleitoral para oferecer um fogo de barragem ao bombardeio midiático – mostrando que o quadro do país não é maravilhoso (sejamos honestos, está longe de ser maravilhoso), mas que melhoramos muito desde que abandonamos o programa neoliberal puro que aécios, armínios, mervais, marinhos e civitas querem agora trazer de volta. Ou seja: Dilma pode oscilar para 35%, depois voltar a 37% ou 38%…
Aécio, por sua vez, depois de chegar a 20% no DataFolha, já começou a apanhar da dupla Eduardo-Marina (Aécio é candidatura que “cheira” a derrota, avisou Marina). O que deve impedir o tucano de subir em ritmo mais rápido. Quando começar o horário gratuito, no entanto, Eduardo ficará em péssima condição, e Aécio deve-se consolidar como oponente do lulismo.
Esse blog admite que superestimou a capacidade de dupla Eduardo-Marina. Parecem destinados a acumular forças para 2018, o que já não será pouco.
O segundo turno deve ser ainda mais duro do que em 2010. Mas Dilma segue favorita, porque a comparação com os anos do tucanato servirá para manter a coesão da base social do lulismo.
A presidenta, no entanto, parece ter percebido que não adianta seguir a receita marqueteira para ganhar “sem marola”. Numa eleição tão dura, em que a diferença entre ela e o oponente no final pode ser de apenas 3 ou 4 pontos, será preciso endurecer no discurso.
A direita já endureceu, até o paroxismo. Nas ruas, nos bares e ambientes sociais, o ódio e o antipetismo atingem um ponto sem volta. Muita gente, impressionada com o que diz a classe média, apavora-se e acha que Dilma já perdeu.
Não é verdade. O jogo será duro até o fim. E Aécio até agora nadou de braçada, sem ser questionado. Aloysio “vá a PQP” Nunes mostrou que tucanos tem queixo de vidro. Qualquer sopapo e já se desmancham pelo chão.
Tucanato, Globo, velha mídia judiciário gilmariano e parte do peemedebismo velhaco terão que ser tratados como inimigos – pura e simplesmente. Dilma precisa fazer uma campanha na ofensiva. O segundo mandato, se vier, será de uma oposição ainda mais pesada. Na defensiva, na base do tecnicismo e da marquetagem, Dilma terá dificuldades para ganhar. E, mais que isso, terá dificuldade para governar.
À direita, restará jogar na instabilidade durante a Copa. Mas mesmo essa operação será arriscada. Entre os petistas, consolida-se a certeza de que – se Dilma cair para menos de 35% – Lula volta, terá que voltar.
Engana-se quem pensa que isso é apenas discurso da oposição para “confundir”. Lula sabe que a direita judiciária e midiática (dos mervais e gilmares) quer vê-lo preso. Com o PT fora do poder, o alvo seria Lula.
O ex-presidente vai insistir até o limite com Dilma. Mesmo que seja para ganhar na disputa de pênaltis – com Aécio chutando a ultima cobrança pra fora, feito um Baggio tucano.
Ganhar, com Lula, seria ganhar com Pelé em campo. Mas uma vitória – como a da seleção de Parreira em 94 – também vale a taça.

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