A campanha encetada contra o prefeito de São Paulo Fernando Haddad é a prova incontestável de como o país gosta de devorar seus principais ativos intelectuais.
Haddad não
é apenas prefeito de São Paulo, eleito pelo PT. Provavelmente é o
melhor quadro público que o país produziu nas últimas décadas. Seu
trabalho técnico e político à frente do MEC (Ministério da Educação)
mostra uma visão de futuro e uma capacidade de formulação inédita na
administração pública brasileira - federal ou de qualquer estado.
Haddad demonstrou não
apenas ser um iluminista, perseguindo as mudanças e antenado com os
temas contemporâneos - ao contrário dos retrógrados e conformados que
pululam no seu partido e nos demais - como um formulador de
primeiríssima, casando visão técnica com política - entendido, aí, a
capacidade de identificar resistências e contorná-las.
Graças
à sua insistência, conseguiu criar o Fundeb (Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação), que significou um corte na educação brasileira, enfrentando
com persistência e argumentos a visão míope-fiscalista do então MInistro
da Fazenda Antonio Pallocci.
Sua insistência
com o ENEM abriu possibilidades sem precedentes para os jovens de menor
poder aquisitivo, uma matrícula única permitindo a 8,5 milhões de
candidatos prestar um único exame e ter acesso - de acordo com sua nota -
ao universo de faculdades públicas e privadas.
Não
existe paralelo em outro país de exame com tal amplitude - e absoluta
ausência de problemas. O ENEM só foi notícia na fase inicial de
implantação, quando apresentava alguns problemas. Depois que ficou
azeitado, deixou de ser notícia.
Há
outras revoluções feitas por ele, como a política nacional de inclusão
de pessoas com deficiência na rede regular de ensino. São 800 mil
crianças, que antes dependiam do modelo de exclusão das APAEs
(Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e que foram incluídas na
rede regular com amplo suporte garantido pelo MEC.
O Reuni (Recuperação e Expansão das Universidades Federais) permitiu a abertura de centenas de novos campi, descentralizando o ensino superior.
Em todos esses momentos, Haddad mostrou-se impermeável tanto à pressão do liberalismo educacional inconsequente quanto do corporativismo que existe no meio.
Quando resolveu ampliar o número
de vagas nas universidades públicas, enfrentou uma manifestação de
professores considerando absurdo salas de aula com mais de 15 alunos.
Respondeu que ficaria mais satisfeito se visse cartazes protestando
contra salas de aulas com menos de 15 alunos.
O Pronatec, o PROUNI, o FIES foram montados em parceria com o setor privado. E Haddad enfrentou as pressões corporativas, que o acusavam de pretender privatizar a educação.
Em todos os momentos, jamais fugiu da procura e da viabilização das grandes soluções.
Todos esses projetos foram montados sem preconceitos ideológicos, juntando forças já existentes, articulando ações entre agentes públicos e sociedade civil.
E foi esse espírito
que levou para a prefeitura de São Paulo, enfrentando problemas
seculares que todos seus antecessores recusavam-se a encarar.
Resolveu enfrentar o desafio do transporte coletivo, com os corredores de ônibus;
o desafio da desospitalização dos dependentes de drogas, com a Operação
Braços Abertos; o desafio de reduzir a segregação social que marca a
cidade.
Se a velha mídia
quer bater no PT, tenho uma infinidade de dicas. No Ministério de Dilma
tem meia dúzia de ministros acomodados, sem espírito público, jogando
apenas para a plateia.
Mas deixem Haddad trabalhar. Não
privem a vida pública brasileira de alguém do seu quilate. É algo tão
atrasado quanto seria as esquerdas crucificando Prestes Maia ou Olavo
Setubal, devido à sua origem política.
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