Por Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo
Uma das palavras da moda nestas eleições é “desconstrução”.Ela tem sido usada pelos colunistas VPs, em tom de pretensa
indignação, para definir o que o PT teria feito com Marina, no primeiro
turno, e Aécio, no segundo.Ah, sim: entenda, por VPs, as Vozes dos Patrões. Marina é história. Tratemos da “desconstrução” de Aécio.Desconstruir implica torcer fatos, manipular informações, inventar coisas que prejudiquem determinada pessoa.Nada, absolutamente nada disso foi feito com Aécio.
Examinemos alguns dados da alegada “desconstrução”.
O aeroporto de Cláudio, por exemplo. Ele existe, ele custou cerca de
12 milhões, ele está situado num terreno que pertencia ao tio de Aécio e
ele, embora pretensamente público, era usado privadamente por Aécio e
uns poucos.
Desde que o caso apareceu, Aécio não conseguiu dar uma única
explicação que fizesse sentido. Porque não há como defender o que é
moralmente indefensável.
Construir o aeroporto de Cláudio acabou por desconstruir Aécio. Como
quem construiu foi ele, podemos dizer que ele se desconstruiu.
A partir dali, falar em decência e em ética, pregar sobre o uso de
dinheiro público, bradar contra a corrupção – tudo isso soou farisaico,
cínico, mentiroso em Aécio.
Consideremos agora os familiares e agregados empregados por Aécio.
Para quem fala compulsivamente em “meritocracia” e “aparelhamento”,
praticar o nepotismo é particularmente acintoso.
A expressão maior do nepotismo de Aécio é sua irmã, Andrea Neves. Em
seu governo em Minas, Andrea controlou as verbas de publicidade, uma
atividade vital para o exercício de uma censura branca.
Você premia, com dinheiro, quem dá boas notícias sobre você. Pune,
fechando as torneiras das verbas, quem faz jornalismo verdadeiro.
É uma situação que desconstrói quem quer que esteja no comando dela.
Quem deu poderes a Andrea Neves? Foi Aécio. Não fui eu, não foi você,
não foi o papa, não foi FHC.
Logo, também aqui, ele próprio se desconstruiu.
Não deve ser subestimado um fato, neste capítulo, que agrava as
coisas. A família de Aécio tem pelo menos três rádios e um jornal em
Minas, e para tudo isso foi destinado dinheiro público em forma de
publicidade.
É, em si, uma indecência. Mas, para quem se apresente como guardião da moral, é pior ainda.
Ainda no capítulo do nepotismo, a trajetória de Aécio é o exato oposto da “meritocracia” de que ele fala abusivamente.
Aos 17 anos, o pai deputado federal lhe deu um emprego na Câmara, em
Brasília. Só que, com esta idade, ele se mudara para o Rio para estudar.
Aos 25, um parente o nomeou diretor da Caixa Econômica Federal.
Isto não é desconstrução: é verdade. É biografia real. A verdade só
descontrói quando o objeto dela fez coisas que merecem desconstrução.
Aécio era uma desconstrução à espera do momento em que luzes
clareassem as sombras que sempre o acompanharam. Este momento veio
quando ele se tornou candidato à presidência.
Não bastassem os fatos, em si, houve as atitudes nos debates. A
grosseria primeiro com Luciana Genro e depois com Dilma, o riso cínico e
debochado: assim se desconstruiu a imagem de “bom moço”.
Mas de novo: Aécio não tem ninguém a quem culpar, também aí, senão a si próprio.
Aécio, ao longo da campanha, promoveu uma minuciosa autodesconstrução.
Ganhou a sociedade. Quem votar nele sabe em quem está votando.
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