A crise política atual é uma crise de poder da Presidência da República. É lá que se cria o vácuo político. Vários grupos tentam prevalecer-se desse vácuo para ampliar seu poder e influência no país. E, nesse jogo oportunista, acabam se constituindo em fatores de desestabilização política.
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O principal fator de desestabilização reside na aliança
pontual - e precária - de três grupos principais: o Ministério Público
Federal, os grupos de mídia e a geleia geral representada pelo
presidente da Câmara Eduardo Cunha, na qual se misturam evangélicos,
baixo clero, interesses econômicos obscuros entre suspeitas mais graves.
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No primeiro momento, há quase um triângulo em que a
hipotenusa são os grupos de mídia e os catetos o MPF e o grupo de Cunha.
Ao mesmo tempo, o MPF investiga Cunha, o que aumenta a confusão e a
instabilidade da tríplice aliança.
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A recente visita do procurador Deltan Dallagnol à Folha e
o prêmio de O Globo recebido pelo juiz Sérgio Moro são a parte mais
visível e menos importante dessa parceria. O MPF e o juiz Moro
conseguiram midiatizar o julgamento da Lava Jato e, com isso, se impor
sobre o Judiciário e sobre as restrições constitucionais ao seu
trabalho.
É sintomática a maneira como levaram o caso José Dirceu
para esse campo. O procurador diz que Dirceu recebeu pagamento de
empreiteiras da Lava Jato. Dirceu mostra que houve trabalho de
consultoria visando abrir mercado em países onde mantém relacionamento
político. As empreiteiras confirmam. Ai o procurador diz que, de fato, o
trabalho ocorreu, mas o pagamento foi descontado da propina do PT.
A informação não está em nenhum prova ou mesmo em
delação premiada. Um dos prisioneiros comentou com um dos procuradores.
Simples assim. Quem necessita de Código Penal tendo a chance de fazer
justiça com as próprias mãos e as próprias manchetes?
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A mídia dá respaldo a essas arbitrariedades, da mesma
maneira que puxou o tapete do MPF quando o alvo foi Daniel Dantas, da
Operação Satiagraha, ou a Camargo Correia, da Operação Castelo de Areia.
Aliás, na consultoria internacional de Dirceu não há nenhuma explicação
para o contrato com uma empresa do grupo de Nizan Guanaes.
A pauta está com a mídia e será tirada sempre que ela
quiser. Os procuradores e o juiz Moro sabem disso, mas aproveitam o
momento para manobras oportunistas.
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Por sua vez, Eduardo Cunha aproveitou o vácuo para
avançar firmemente sobre a estrutura de poder. Como atrapalha Dilma,
recebe blindagem dos grupos de mídia. E aí o jogo fica curioso.
Numa ponta, o MPF investiga Cunha; na outra, a mídia
blinda, escondendo sua biografia da forma mais canhestra possível - já
que não existe político mais notório que Cunha.
Acontece que Cunha representa, também, os grupos
evangélicos, que cada vez mais se apresentam como força política e
midiática - a maior ameaça ao predomínio da Globo vem dos canais
evangélicos e a maior ameaça às democracias têm sido de grupos
religiosos que resolvem militar na política.
Em algum ponto do futuro, a parceria deixará de
interessar ao establishment da mídia. Aí trará à tona a extensa capivara
de Cunha e o MPF dará o golpe final.
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Resta saber qual o grau de influência que cada grupo acumularáæ até a implosão da Santa Aliança.
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