terça-feira, 5 de maio de 2015

A terceirização que jogou o Ministério Público no show bizz

Por Luis Nassif, no GGN

A Lava Jato marca uma inflexão na imagem do Ministério Público Federal. Não pela extensão do caso, em si, mas pelo fato de ter consolidado uma imagem institucional de um poder atrás de holofotes. Nos anos 90 houve participações individuais de procuradores atrás de manchetes. Na gestão Rodrigo Janot tornou-se prática institucionalizada, mais adequada a um candidato político, com necessidade de aparecer diariamente nos jornais. A maneira de criar fatos, factoides, de vazar qualquer nome que apareça nos depoimentos, independentemente da apuração dos fatos, a disputa de protagonismo midiático com a Polícia Federal é um comportamento indigno, ainda mais para um órgão com as responsabilidades institucionais do Ministério Público Federal.

A criação do hotsite foi uma boa iniciativa. A prática de entrevistas coletivas diárias, um desastre institucional de responsabilidade do secretário de comunicação da Procuradoria Geral da República, Raul Pilatti. E o viés dado à divulgação e ao vazamento de fatos, algo que contaminou a imagem de isenção que deveria ser a marca do MPF.

Tive um contato com Pilatti, quando obtive informações sobre algumas atividades do MPF, mas recorrendo a um procurador. Pilatti enviou as informações para um email que constava no site do GGN, não se preocupou em saber se havia chegado.  Depois, telefonou para alertar que "não participa de discussões desinformadas" e que só prestara esclarecimentos porque solicitado pelo procurador".

Julguei tratar-se de algum jovem procurador deslumbrado e ignorante em relação ao jornalismo. Houve uma discussão rápida. Depois de desligar o telefone fui conferir e descobri tratar-se de um jornalista. Voltei a telefonar para ele para manifestar minha absoluta surpresa com o fato de ele ser jornalista e brandir argumentos tão rasos e arrogantes.

Agora, a revista Forum divulgou um manifesto de funcionários da comunicação do MPF, protestando contra a nova política de comunicação do órgão (http://goo.gl/vBnVw2). E aí é possível entender a barafunda em que a PGR se meteu com a Lava Jato e com o fator Raul Pilatti.

O manifesto dos assessores de comunicação

Em uma Carta ao Procurador Geral, o grupo fala de seu orgulho de trabalhar para o MPF e as preocupações com a imagem do órgão em um momento delicado, como da operação Lava Jato. Depois, aponta os problemas que vêm enfrentando.

Em dezembro passado transmitiram ao PGR a preocupação com a contratação da Oficina da Palavra, a assessoria a quem Janot conferiu a gestão de informações críticas do MPF. A carta denuncia a desarticulação da informação interna, um descontentamento generalizado que provocou, inclusive, a paralisação dos funcionários do órgão.


Menciona, então, criação de um Centro de Comunicação Integrada, que deveria implementar uma estratégia de comunicação mas terminou a reboque da assessoria privada, sendo demandado para " ações totalmente descoordenadas e descontextualizadas", de apagar incêndios.

A carta menciona claramente os problemas advindos do vazamento de informações. "Pode ser que exista uma diretriz de segurança de informação que visa impedir vazamentos de detalhes que comprometem não só a instituição mas o destino de um processo que afeta de todas as maneiras a vida e os direitos de todos os brasileiros".

O diagnóstico é duro: "A análise que fazemos é que a estratégia adotada tem redundado em uma série de ações questionáveis que prejudicam a imagem e a reputação institucional". Prossegue o relato: "Não só na imprensa mas mesmo nos mais diversos círculos de convivência, a instituição tem sido ridicularizada e sua isenção questionada por certas declarações e imagens consideradas demagógicas e personalistas".

Na reportagem da Fórum, há um printscreen de conversas de Pilatti com jornalistas que têm sido beneficiados por vazamentos, demonstrando uma militância política inconcebível com quem comanda a comunicação na PGR.

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