Por Luis Nassif, no GGN
A Lava Jato marca uma inflexão na imagem do Ministério Público
Federal. Não pela extensão do caso, em si, mas pelo fato de ter
consolidado uma imagem institucional de um poder atrás de holofotes. Nos anos 90 houve participações individuais de procuradores atrás de manchetes. Na gestão Rodrigo Janot tornou-se prática institucionalizada, mais
adequada a um candidato político, com necessidade de aparecer
diariamente nos jornais. A maneira de criar fatos, factoides, de vazar
qualquer nome que apareça nos depoimentos, independentemente da apuração
dos fatos, a disputa de protagonismo midiático com a Polícia Federal é
um comportamento indigno, ainda mais para um órgão com as
responsabilidades institucionais do Ministério Público Federal.
A criação do hotsite foi uma boa iniciativa. A prática de entrevistas
coletivas diárias, um desastre institucional de responsabilidade do
secretário de comunicação da Procuradoria Geral da República, Raul
Pilatti. E o viés dado à divulgação e ao vazamento de fatos, algo que
contaminou a imagem de isenção que deveria ser a marca do MPF.
Tive um contato com Pilatti, quando obtive informações sobre algumas
atividades do MPF, mas recorrendo a um procurador. Pilatti enviou as
informações para um email que constava no site do GGN,
não se preocupou em saber se havia chegado. Depois, telefonou para
alertar que "não participa de discussões desinformadas" e que só
prestara esclarecimentos porque solicitado pelo procurador".
Julguei tratar-se de algum jovem procurador deslumbrado e ignorante
em relação ao jornalismo. Houve uma discussão rápida. Depois de desligar
o telefone fui conferir e descobri tratar-se de um jornalista. Voltei a
telefonar para ele para manifestar minha absoluta surpresa com o fato
de ele ser jornalista e brandir argumentos tão rasos e arrogantes.
Agora, a revista Forum divulgou um manifesto de funcionários da
comunicação do MPF, protestando contra a nova política de comunicação do
órgão (http://goo.gl/vBnVw2). E aí é possível entender a barafunda em que a PGR se meteu com a Lava Jato e com o fator Raul Pilatti.
O manifesto dos assessores de comunicação
Em uma Carta ao Procurador Geral, o grupo fala de seu orgulho de
trabalhar para o MPF e as preocupações com a imagem do órgão em um
momento delicado, como da operação Lava Jato. Depois, aponta os
problemas que vêm enfrentando.
Em dezembro passado transmitiram ao PGR a preocupação com a
contratação da Oficina da Palavra, a assessoria a quem Janot conferiu a
gestão de informações críticas do MPF. A carta denuncia a desarticulação
da informação interna, um descontentamento generalizado que provocou,
inclusive, a paralisação dos funcionários do órgão.
Menciona, então, criação de um Centro de Comunicação Integrada, que
deveria implementar uma estratégia de comunicação mas terminou a reboque
da assessoria privada, sendo demandado para " ações totalmente
descoordenadas e descontextualizadas", de apagar incêndios.
A carta menciona claramente os problemas advindos do vazamento de
informações. "Pode ser que exista uma diretriz de segurança de
informação que visa impedir vazamentos de detalhes que comprometem não
só a instituição mas o destino de um processo que afeta de todas as
maneiras a vida e os direitos de todos os brasileiros".
O diagnóstico é duro: "A análise que fazemos é que a estratégia
adotada tem redundado em uma série de ações questionáveis que prejudicam
a imagem e a reputação institucional". Prossegue o relato: "Não só na
imprensa mas mesmo nos mais diversos círculos de convivência, a
instituição tem sido ridicularizada e sua isenção questionada por certas
declarações e imagens consideradas demagógicas e personalistas".
Na reportagem da Fórum, há um printscreen de conversas de Pilatti com
jornalistas que têm sido beneficiados por vazamentos, demonstrando uma
militância política inconcebível com quem comanda a comunicação na PGR.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário