Depois da primeira eleição de Lula, em 2002, muitos quadros do movimento sindical cutista passaram a ocupar cargos no governo. Nada mais natural, dada a gênese comum entre o PT e a CUT e a identidade política entre seus militantes e dirigentes.Na maioria esmagadora dos casos, cutistas são petistas e vice-versa.
A uni-los o projeto de emancipação da classe trabalhadora e a construção de uma sociedade justa e igualitária. É evidente que cada instituição tem seu papel. Central sindical organiza os trabalhadores na luta por seus direitos, sem descuidar também das demandas dos trabalhadores como cidadãos, enquanto partido disputa hegemonia na sociedade, para chegar ao poder e aplicar seu programa.
Contudo, ao contrário do que acontece na Europa, onde ligações e identidades políticas entre sindicatos e partidos fazem parte da cultura e da tradição política do continente, no Brasil, isso ainda é objeto de ataques conservadores e mesmo alvo de críticas por parte de alguns militantes do campo democrático, progressista e de esquerda. Quem nunca ouviu o mantra "a CUT é uma mera correia de transmissão do PT ?"
Tirante casos de outrora aguerridos dirigentes sindicais que se acomodaram na burocracia refrigerada de cargos na máquina do governo, não é verdade que a CUT tenha perdido seu poder de fogo e muito menos "traído" a classe trabalhadora, acusação recorrente que lhe é feita pelos seus detratores da ultraesquerda, conhecidos pelos seus insanáveis déficits de responsabilidade.
O abrandamento da postura de guerra da CUT depois que o PT chegou ao governo da República foi correto. Não era racional manter nos governos Lula e Dilma as mesmas táticas e estratégias dos tempos em que Collor, Sarney e FHC comandavam governos nos quais a tônica era o arrocho salarial, o desemprego e a retirada de direitos dos trabalhadores.Todavia, a CUT nunca abdicou de criticar vários aspectos da política econômica dos governos petistas, tais como os juros altos, o dreno de recursos para pagar o serviço da dívida pública, além do ajuste fiscal atual que penaliza os trabalhadores.
Mas há um dado que reduz a pó a tese de que a CUT abandonou as lutas durante as gestões petistas no governo federal : nos dois governos de FHC, a CUT liderou, no âmbito do serviço público federal, quinhentas e poucas greves. Já nos oito anos da era Lula, a CUT deflagrou mais de mil e quinhentos movimentos grevistas do funcionalismo federal. Que central chapa branca, então, é essa ?
A marca da CUT ainda é muito forte. Maior central sindical do país e da América Latina, e quarta do mundo, a CUT ao longo de sua história firmou no imaginário coletivo uma imagem de combatividade. Para boa parte da população, mobilizações, greves e luta dos trabalhadores são sinônimos de CUT. E, enquanto várias outras centrais eram criadas, algumas exclusivamente de olho na fatia do imposto sindical garantida pela lei que legalizou as centrais, a CUT seguia liderando as principais lutas da classe trabalhadora e obtendo conquistas.
A política de valorização do salário mínimo é obra da CUT. Todas as correções da tabela do imposto de renda tiveram a CUT à frente. Quem há muito lidera as lutas pela redução da jornada de trabalho para 40 horas é a CUT. Quem batalha no Congresso pela ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT é a CUT. Quem conquista os maiores aumentos reais de salário é a CUT. Quem se destaca nas mobilizações pela democratização da mídia no Brasil é a CUT. Quem tem interlocução e capacidade de negociação em defesa dos interesses de classe é a CUT. A única central que prega o fim do imposto sindical é a CUT.
Os ditos esquerdistas e revolucionários de todos os matizes tentam esconder essa realidade com o discurso pobre de argumentos, segundo o qual a CUT padece do mal da acomodação e do governismo crônico. Mas a vida real aponta em outra direção, pois hoje a CUT dá as cartas na resistência popular à avalanche conservadora que tenta fazer o Brasil retroceder décadas em termos sociais, políticos e econômicos, e até civilizatórios.
Nas ruas e nas redes, seja pressionado parlamentos e governos ou defendendo a reforma política, a democracia e a Petrobras, a central tem ocupado muitas vezes o lugar que deveria ser do PT. É inegável o protagonismo da CUT na atual conjuntura. Eduardo Cunha, Beto Richa e Alckmin que o digam.
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