Por Washington Quaquá, no blog do Zé Dirceu
Acabamos de fazer em Salvador o nosso Congresso do PT… ou melhor, o
nosso “quase” Congresso. Esta é a melhor palavra para definir o momento
do nosso partido.Não podemos dizer que tenha sido um congresso. Congressos devem ser
convocados em momentos de grandes decisões e de necessidade de definição
de novos rumos.
Não que este não seja um momento para isso. Mas os
congressos devem ser precedidos de uma ampla discussão em torno de
teses. Devem ser feitos com antecedência e amplitude de alcance. O que
fizemos em Salvador foi até bastante positivo, mas não passou de uma
plenária de delegados eleitos em outra conjuntura.
Deveríamos convocar imediatamente, para que o debate e a mobilização
já se iniciem, um congresso para depois das eleições de 2016, portanto
em meados de 2017. Um grande e verdadeiro congresso partidário com muita
participação, debate aprofundado envolvendo todos os filiados, a
intelectualidade e a militância de esquerda brasileira, até para além do
PT. Abrir em universidades, escolas, favelas, periferias, fábricas,
ocupações o debate sobre o futuro e a necessidade de fortalecimento das
lutas do povo e de seu maior instrumento político: o PT.
Também “quase” decidimos sobre a conjuntura política e a situação
econômica. Uma emenda garantindo uma visão crítica das micromedidas de
ajuste do governo, com todo o cuidado para não dar munição aos
adversários, foi aprovada. A CUT e seu texto distribuído no congresso
eram mais precisos na crítica às medidas equivocadas tomadas pelo
governo Dilma.
Dilma é nossa! O governo, discordemos ou não dele, é nosso! Para o
bem e para o mal. Devemos deixar isso bem claro para não deixar a
imprensa ou quem quer que seja achar que não estaremos na defesa da
Dilma e de nosso governo. Mas o partido é uma coisa e o governo outra,
sempre, seja no plano federal, estadual, estadual ou municipal. O
partido é sempre um intelectual coletivo e um agente crítico, agindo
dialeticamente na interação entre o governo e a luta social. Por isso
não podemos nunca abrir mão da contribuição crítica ao governo. E não
fizemos isso em Salvador.
No que diz respeito à questão organizativa, ficamos “quase” na
mesmice. A questão foi resumida a uma votação sobre o fim ou a
continuidade do PED, o Processo das Eleições Diretas. Eu, que cheguei na
Bahia contra o PED, por falta de alternativas sobre o que colocar no
lugar e diante de um pedido de Rui Falcão, decidi abrir mão do voto e
afunilar na proposta de uma conferência ampla sobre a questão
organizativa, a ser convocada pela direção nacional. Essa é uma questão
essencial!
O Lula fez um discurso por escrito, o que perde muito em emoção e
genialidade, duas de suas principais características. Muitos acharam que
Lula fez “quase” um discurso. Eu, como sempre tenho um tom a mais de
otimismo e também não estou mais no tempo de ver as coisas pela
negativa, fixei no centro de sua fala: “Enquanto o PT estiver ao lado
das lutas e dos anseios do povo e dos trabalhadores, o PT não vai
acabar!” Essa frase valeu a ida ho a Salvador!
Com todas as contradições, deficiências, medos, incapacidades de
definição, pobreza de conteúdo que tivemos na plenária de Salvador, o
espírito que estava presente em todos era de buscar energias para
continuar mudando o Brasil e continuar defendendo os interesses dos
trabalhadores. Os partidos de esquerda só acabam quando traem os
trabalhadores e são capturados pelo interesse do capital. Não é o caso
do PT!
Claro que temos que continuar mudando o Brasil e que as mudanças que
fizemos na vida de milhões precisam ser aprofundadas. Precisamos
urgentemente de um programa mínimo de ação que dê conta de algumas
reformas estruturais para o Brasil, como a reforma agrária, a
tributária, a educacional, a da mídia, a do Judiciário, a sanitária, a
urbana, a da segurança pública… Precisamos que o partido mobilize a
sociedade para elaborar essa pauta mínima. Mas para isso precisamos
voltar a ter autoridade política.
Eu gosto muito do Rui Falcão e deixei de ser trotskista faz bastante
tempo (embora ame Trotsky e Rosa Luxembrugo). Portanto nosso problema
está muito mais embaixo do que uma “crise de direção”. Mas é fato que
falta a nós um rumo dirigente. E mais que isso, um pensamento dirigente…
Por isso cheguei na Bahia defendendo que se criasse um Conselho de
Notáveis. Se quisesse usar um linguajar mais tupiniquim, mais tribal e
menos elitista, podia chamar de um Conselho de Anciãos, inclusive Zé
Dirceu e Genoíno, e mais algumas figuras como Raul Pont, Benedita da
Silva, Jaques Wagner, Paul Singer, Suplicy, João Pedro Stédile, Marco
Aurélio Garcia, Gilberto Carvalho, Luiz Dulci, Patrus… Para que
tivéssemos um núcleo político intelectual que animasse a discussão e a
ação do partido até um congresso a ser convocado para 2017. O dia a dia
burocrático do partido continuaria a ser tocado pela atual direção. Não
teve clima para discutir isso.
Vivemos um momento difícil, por mais contraditório que possa parecer a
um observador de fora. Um europeu ou marciano teria dificuldade para
entender porque um partido que está há 13 anos de posse do governo
federal e que implantou políticas que mudaram a vida de muitos milhões
de cidadãos vive um inferno astral tão grande e consegue ser tão
vilipendiado na sociedade.
Nós bem sabemos porquê! Estamos sendo um “quase” partido, sem coragem
de nos defender e de voltar a ser o que somos e o que fomos. Um partido
aguerrido, radical, militante, sem medo de defender os seus
companheiros e companheiras e as suas ideias, presente organizadamente
nas favelas, ocupações, escolas, universidades, fábricas… Chega de
quase!!!
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