quinta-feira, 18 de junho de 2015

'Quase um Congresso'

Por Washington Quaquá, no blog do Zé Dirceu

Acabamos de fazer em Salvador o nosso Congresso do PT… ou melhor, o nosso “quase” Congresso. Esta é a melhor palavra para definir o momento do nosso partido.Não podemos dizer que tenha sido um congresso. Congressos devem ser convocados em momentos de grandes decisões e de necessidade de definição de novos rumos.

Não que este não seja um momento para isso. Mas os congressos devem ser precedidos de uma ampla discussão em torno de teses. Devem ser feitos com antecedência e amplitude de alcance. O que fizemos em Salvador foi até bastante positivo, mas não passou de uma plenária de delegados eleitos em outra conjuntura.

Deveríamos convocar imediatamente, para que o debate e a mobilização já se iniciem, um congresso para depois das eleições de 2016, portanto em meados de 2017. Um grande e verdadeiro congresso partidário com muita participação, debate aprofundado envolvendo todos os filiados, a intelectualidade e a militância de esquerda brasileira, até para além do PT. Abrir em universidades, escolas, favelas, periferias, fábricas, ocupações o debate sobre o futuro e a necessidade de fortalecimento das lutas do povo e de seu maior instrumento político: o PT.

Também “quase” decidimos sobre a conjuntura política e a situação econômica. Uma emenda garantindo uma visão crítica das micromedidas de ajuste do governo, com todo o cuidado para não dar munição aos adversários, foi aprovada. A CUT e seu texto distribuído no congresso eram mais precisos na crítica às medidas equivocadas tomadas pelo governo Dilma.

Dilma é nossa! O governo, discordemos ou não dele, é nosso! Para o bem e para o mal. Devemos deixar isso bem claro para não deixar a imprensa ou quem quer que seja achar que não estaremos na defesa da Dilma e de nosso governo. Mas o partido é uma coisa e o governo outra, sempre, seja no plano federal, estadual, estadual ou municipal. O partido é sempre um intelectual coletivo e um agente crítico, agindo dialeticamente na interação entre o governo e a luta social. Por isso não podemos nunca abrir mão da contribuição crítica ao governo. E não fizemos isso em Salvador.

No que diz respeito à questão organizativa, ficamos “quase” na mesmice. A questão foi resumida a uma votação sobre o fim ou a continuidade do PED, o Processo das Eleições Diretas. Eu, que cheguei na Bahia contra o PED, por falta de alternativas sobre o que colocar no lugar e diante de um pedido de Rui Falcão, decidi abrir mão do voto e afunilar na proposta de uma conferência ampla sobre a questão organizativa, a ser convocada pela direção nacional. Essa é uma questão essencial!

O Lula fez um discurso por escrito, o que perde muito em emoção e genialidade, duas de suas principais características. Muitos acharam que Lula fez “quase” um discurso. Eu, como sempre tenho um tom a mais de otimismo e também não estou mais no tempo de ver as coisas pela negativa, fixei no centro de sua fala: “Enquanto o PT estiver ao lado das lutas e dos anseios do povo e dos trabalhadores, o PT não vai acabar!” Essa frase valeu a ida ho a Salvador!

Com todas as contradições, deficiências, medos, incapacidades de definição, pobreza de conteúdo que tivemos na plenária de Salvador, o espírito que estava presente em todos era de buscar energias para continuar mudando o Brasil e continuar defendendo os interesses dos trabalhadores. Os partidos de esquerda só acabam quando traem os trabalhadores e são capturados pelo interesse do capital. Não é o caso do PT!

Claro que temos que continuar mudando o Brasil e que as mudanças que fizemos na vida de milhões precisam ser aprofundadas. Precisamos urgentemente de um programa mínimo de ação que dê conta de algumas reformas estruturais para o Brasil, como a reforma agrária, a tributária, a educacional, a da mídia, a do Judiciário, a sanitária, a urbana, a da segurança pública… Precisamos que o partido mobilize a sociedade para elaborar essa pauta mínima. Mas para isso precisamos voltar a ter autoridade política.

Eu gosto muito do Rui Falcão e deixei de ser trotskista faz bastante tempo (embora ame Trotsky e Rosa Luxembrugo). Portanto nosso problema está muito mais embaixo do que uma “crise de direção”. Mas é fato que falta a nós um rumo dirigente. E mais que isso, um pensamento dirigente… Por isso cheguei na Bahia defendendo que se criasse um Conselho de Notáveis. Se quisesse usar um linguajar mais tupiniquim, mais tribal e menos elitista, podia chamar de um Conselho de Anciãos, inclusive Zé Dirceu e Genoíno, e mais algumas figuras como Raul Pont, Benedita da Silva, Jaques Wagner, Paul Singer, Suplicy, João Pedro Stédile, Marco Aurélio Garcia, Gilberto Carvalho, Luiz Dulci, Patrus… Para que tivéssemos um núcleo político intelectual que animasse a discussão e a ação do partido até um congresso a ser convocado para 2017. O dia a dia burocrático do partido continuaria a ser tocado pela atual direção. Não teve clima para discutir isso.

Vivemos um momento difícil, por mais contraditório que possa parecer a um observador de fora. Um europeu ou marciano teria dificuldade para entender porque um partido que está há 13 anos de posse do governo federal e que implantou políticas que mudaram a vida de muitos milhões de cidadãos vive um inferno astral tão grande e consegue ser tão vilipendiado na sociedade.

Nós bem sabemos porquê! Estamos sendo um “quase” partido, sem coragem de nos defender e de voltar a ser o que somos e o que fomos. Um partido aguerrido, radical, militante, sem medo de defender os seus companheiros e companheiras e as suas ideias, presente organizadamente nas favelas, ocupações, escolas, universidades, fábricas… Chega de quase!!!

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