terça-feira, 19 de julho de 2011

Era Dunga nunca mais

O vexame do Brasil na Copa América preciptou um bombardeio de críticas à performance dos nossos principais jogadores e ao trabalho do técnico Mano Menezes. Nenhuma surpresa. Afinal, se já seria grave o futebol pentacampeão do mundo penar em jogos contra as Venezuelas, Equadores e Paraguais da vida, que dirá selando a eliminação precoce jogando quatro pênaltis nas nuvens. Contudo, o que preocupa pra valer neste justificado frenesi crítico nacional é que o talento começa a ser visto por alguns como vilão, tal qual aconteceu em 1982, quando a fatalidade de uma derrota para a Itália levou à execração do futebol vistoso, artístico e bem jogado, abrindo caminho para um longo período de trevas, em que ser moderno significava ser medíocre e ser eficiente era sinônimo de usar e abusar de  carrinhos e botinadas. Vade retro. Era Dunga nunca mais.

Tanto nas redes sociais como na participação dos ouvintes e telespectadores das resenhas esportivas realizadas de domingo para cá não faltaram sandices do tipo "Dunga estava certo ao não convocar Neymar e Paulo Henrique Ganso", "chega de jogadores técnicos e armandinhos, queremos raça", "pelo menos o Dunga ganhou Copa América". Teve gente inclusive bradando pela volta do Dunga. Em maior ou menor grau, esta rebelião repentina contra o talento conta com a adesão de alguns influentes integrantes da crônica esportiva.

Na minha opinião, só o fato de adotar a concepção de, na medida do possível, escalar os nossos melhores jogadores, independentemente de jogarem no Brasil ou no exterior, já faz com que Mano Menezes mereça crédito para dar prosseguimento ao seu trabalho de renovação. É claro que nesta trajetória o time vai jogar mal muitas vezes, tomar pancada e oscilar. De que adianta ganhar a Copa América e perder feio a Copa do Mundo ? Não custa lembrar que a conquista pelo Brasil das duas últimas edições desta competição, com Parreira e com Dunga, não evitou o fiasco nas Copas do Mundo que se seguiram.

A derrota, em termos estratégicos, pode até trazer benefícios. Desde que as lições sejam aprendidas. Por exemplo: como lembrou o meu amigo Lima, Mano cometeu um erro grave quando não radicalizou o processo de renovação da seleção. Ele devia ter deixado de fora da Copa América veteranos sem futuro na seleção como Lúcio e Júlio Cesar. Por que não manteve o ótimo zagueiro David Luiz, do Chelsee ? Já os frangos de Júlio “Chester” poderiam ter sido evitados caso fosse dada uma chance a Jéferson ou Vítor, ambos em ótima fase, ao contrário do goleiro da Inter de Milão, que vem mal desde a Copa da África do Sul.

Mano cometeu outro equívoco ao não tratar a Copa América como mera etapa de preparação para a Copa do Mundo do Brasil, em 1914. Ele tinha que deixar claro, para a imprensa e para a torcida, que este era seu propósito na Argentina. Mas aí entraram em cena uma combinação de vaidade do treinador com a avaliação, que na certa ele fez, de que a derrota poderia abalar seu projeto de dirigir a seleção em 2014.Só que, como o ótimo é muitas vezes inimigo do bom, ele acabou colhendo um duplo revés. Nem acelerou o processo de renovação nem conquistou o torneio. Sem falar que, ao contrário de todas as expectativas, viu a seleção regredir em termos táticos e técnicos se comparadas as atuações na Copa América com as dos primeiros amistosos sob seu comando.

Entretanto, ainda há tempo de dar a volta por cima. A primeiríssima atitude é não dar ouvidos às viúvas do Dunga, fãs do futebol estilo brucutu, e dobrar a aposta no que o futebol brasileiro tem de melhor ( o drible, o toque refinado, a improvisação). E as Olimpíadas de Londres em 2012 podem servir, e muito, para dar mais rodagem aos nossos jovens craques e consolidar a base definitiva para 2014.

2 comentários:

  1. Lima e Bepe estão absolutamente certos. Quando o Mano foi escolhido o discurso era de renovação total mesmo com o risco de fracassos no meio do caminho. Como o buraco é mais embaixo e as pressões são brabas, ele acabou cedendo e convocando jogadores que já tiveram seu tempo na seleção. Hoje li na imprensa que as estatísticas indicam que Mano foi o técnico que mais perdeu no comando da Seleção. Na minha opinião, antes de uma crítica isso demonstra que deixamos de jogar contra Gabão, Congo etc para jogar contra Argentina, Inglaterra, Alemanha, Espanha etc. Decisão acertada visto que o Brasil não disputará eliminatórias. Por incrível que pareça, acho que estamos no caminho certo. É difícil, as cobranças são muitas mas acho que não se deve desviar do caminho que parece ser o mais correto. Dunga nunca mais e, eu diria também, para minha própria surpresa, Muricy NÃO !!!

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  2. Tudo certo o dito pelo Márcio e o Bepe em relação à seleção brasileira, o trabalho necesário de renovação que o Mano está vacilando em conduzir, mas não acho que se deva execrar o Dunga. Nesse momento, o Inter, o glorioso colorado gaúcho, está precisando da contribuição inestimável do seu verdadeiro e insuperável ídolo. Deixemos, pois, que sigam, o Dunga e o colorado, a trajetória comum que a vida lhes reservou, que há de terminar no Brejo da Cruz, onde, segundo o Chico, se alimentarão de luz! Para todo o sempre...
    Abraços. Lima.

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