quinta-feira, 7 de julho de 2011

Jornalismo movido a ódio

Por dever de ofício, preciso ler, com frequencia, os jornalões. Não, não é um sintoma da Síndrome de Estocolmo (estado psicológico em as vítimas acabam simpatizando por seus algozes), mas pura obrigação profissional. Pago um alto preço por isso. No momento em que escrevo este post, estou com o estômago revirado pela asquerosa manchete de capa de O Globo de hoje, 7 de julho, sobre o afastamento do ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento : " Dilma desmonta esquema de corrupção da época de Lula."

A obcessão da vellha mídia em tentar contrapor Dilma e Lula deve acompanhar todo o mandato da presidenta. Embora os formuladores dessa política saibam que suas chances de êxito nesta empreitada são nulas, o que importa é emoldurar o noticiário com uma espécie de cotejamento permanente entre o presente e o passado recente. Estilo comedido versus presidente falastrão. Conhecedora da máquina pública versus palanqueiro contumaz. E agora, governo íntegro versus governo corrupto. E o público alvo é o de sempre : aquela banda da classe média conservadora, mais ou menos 4% de brasileiros renitentes que apareciam em todas as pesquisas avaliando o governo Lula como ruim ou péssimo.

E mais : a fidelidade desse pessoal, que forma sua opinião a partir de leituras, sem um pingo de crivo crítico, de O Globo, Veja, Folha e Estadão, é a bóia de salvação de mercado dessas empresas jornalísticas, que hoje respiram por aparelhos, duplamente enfermas : 1) grave crise de credibilidade, fruto de um nível de partidarização absurdo que levou de roldão os princípios mais elementares do jornalismo; 2) a revolução causada pela internet, as mídias sociais e a blogosfera, que virou pelo avesso o padrão de formação de opinião no Brasil e no mundo, tirando da velha mídia o monopólio desta mediação.

Voltando à edição nauseante de O Globo de hoje, a chamada do alto da página 4 ( "Crise ajuda Dilma a se desfazer de mais uma herança maldita de Lula") é mais um exemplo acabado do ódio que as Organizações Globo dispensam ao presidente mais admirado, respeitado e querido da história do Brasil. Fiel à sua conhecida estratégia de embaralhar informações e conceitos para extrair dividendos políticos, O Globo revela também o quanto é grave a crise de inteligência e criatividade pelos lados da Rua Irineu Marinho. Na falta de uma ideia melhor, simplesmente transportou a expressão "herança maldita", usada largamente por Lula , para tentar colar na testa do próprio ex-presidente.

A presidenta Dilma, é bom que se diga, agiu com a rapidez e o rigor necessários na crise que culminou com a demissão do ministro dos Transportes. Desta vez se negou a ficar sangrando por dias a fio e fez o que tinha de ser feito. Sem ter como atacar a presidenta, diante do desfecho do episódio, a metralhadora da velha mídia se volta contra o ex-presidente. Coisa de gente desesperada, que há muito trocou o jornalismo pelo jogo político mais rasteiro e nebuloso.

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