domingo, 11 de setembro de 2011

"Baião de dois" no coração da UPP

Por um ranço comodista pequeno burguês, a gente acaba limitando o nosso mundo aos espaços de lazer de classe média. Depois de fazer corpo mole por mais de um ano, acabei aceitando, neste sábado (10/9), um convite da Mônica, minha mulher, para conhecer de perto um projeto idealizado e dirigido por ela, o Rio Top Tour, programa social que faz dos moradores das comunidades pacificadas pela UPPs empreendedores de turismo dessas áreas populares. E foi saboreando um "baião de dois", regado a cerveja, na barraca da Salete, no "Pé da escada" do Morro Santa Marta, que reforcei ainda mais a convicção de que as UPPs são uma revolução. Só não lhes dão a importância devida os que as atacam por interesses políticos mesquinhos ou alguns bem-sucedidos militantes da esquerda que não podem sequer imaginar o que significa ser subjulgado todos os dias por quadrilhas armadas de narcotraficantes, bem como os pobres de espírito em geral.


Numa semana em que as UPPs estiveram sob fogo cerrado, seja de forma literal pela bandidagem renitente no Complexo do Alemão, seja pela velha mídia com os propósitos escusos de sempre, é importante repetir uma obviedade que até mesmo "especialistas" em segurança pública parecem desconhecer : o objetivo estratégico das Unidades de Polícia Pacificadora é a retomada de territórios sob controle de quadrilhas armadas de narcotraficantes por parte do Estado. Tem a ver, portanto, com a afirmação do Estado Democrático de Direito em áreas em que suas premissas foram duramente atingidas.

Definitivamente, gente vendendo e comprando droga existe em Ipanema, Leblon, Barra, Copacabana, Méier, em todos os bairros de São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Roma, Paris, Nova Iorque, Londres, enfim, em todas os bairros de todas as cidades do planeta. Por isso, dizer que o projeto da UPP está fazendo água por conta do reaparecimento de bandidos nessas comunidades, deculpe, mas só pode ser ignorância ou má-fé, pois o territórios continuam sob o controle do poder público, status que não sofreu nenhuma ameaça real, noves fora a espuma tola da imprensa sobre o assunto.

De volta ao Santa Marta e de volta à Salete, vale a pena observar a transformação na vida desta mulher, moradora da comunidade de Botafogo outrora conflagrada pela guerra das drogas. Além de ser estagiária remunerada do Rio Top Tour, ela estuda espanhol num Cetep ( Centro de Ensino Técnico e Profissionalizante do Estado) e francês na Aliança Francesa, beneficiada por uma bolsa concedida por turistas franceses que se encantaram com o projeto. E mais : ainda é dona de uma barraca de bebidas e quitutes, situada num ponto estratégico da comunidade, conhecido como "Pé da escada". E foi ali que ela organizou ontem seu primeiro evento turístico próprio, não só voltada para os moradores, mas também para quem chegar. Ela segue a trilha do  famoso "Fumaça", também integrante do projeto Rio Top Tour, cujos enventos hoje  chegam a reunir 300 pessoas.

No Santa Marta, milhares de turistas brasileiros e do exterior já percorreram os 34 pontos de interesse e curiosidades da comunidade, tais como o próprio " Pé da Escada", o "Mirante do Pedrão", além do badalado "Mirante Michael Jackson", onde o rei do pop gravou um clipe em 1996. O projeto Rio Top Tour, da Secretaria Estadual de Esporte e Lazer, está em processo de expansão para outras áreas pacificadas como Cantagalo e Providência.

Por fim, um recado para os elitistas que torcem o nariz para as UPPs : vale muito a pena observar o semblante de felicidade dos moradores e a harmonia que salta aos olhos entre os visitantes e a comunidade, tudo temperado pela sensação de liberdade impregnada no ar. É só conferir.

Um comentário:

  1. Camarada,
    ótima a abordagem no melhor estilo "aquele que conhece, porque esteve lá".
    O debate sobre a UPP hoje começa a incomodar principalmente porque junto com a perda do território, houve uma considerável baixa nas vendas de drogas, aquele que ia ao morro comprar hoje prefere pagar mais caro e comprar por telefone. Com a diminuição do lucro, o poder das quadrilhas começa a ser ameaçado, e as ações destas começam a ficar mais violenta.
    Quem não sabia que as UPPs iriam gerar uma contra-ofensiva do crime organizado é porque não acreditava na organização do crime... ai, haja ingenuidade.

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