segunda-feira, 26 de setembro de 2011

O batom na cueca de Portella


Para alguma coisa serviu a patética cerimônia de posse de Merval Pereira na Academia Brasileira Outrora de Letras. O discurso de boas vindas do acadêmico Eduardo Portella foi o corpo de delito, a prova cabal do papel da velha mídia na sociedade brasileira. Com a palavra, Portella : “Diante da ineficiência das oposições, quem segura a fleuma da consciência crítica do país são os jornalistas. É aí que existe um núcleo de contestação racional ao poder.” Pronto. Está confirmado o que Judith Brito da ANJ já dissera em alto e bom som e o que há muito os batalhadores pela democratização das comunicações do país denunciam : o PIG faz política partidária e é a verdadeira oposição brasileira. A propósito, não posso deixar de considerar profundamente lamentável a presença do senador petista Lindberg Farias na mesa da solenidade de posse de Merval.

Na certa o senador, a exemplo da presidenta Dilma, incorre no erro infantil de apostar que uma espécie de convivência pacífica com os barões da mídia será capaz de convertê-los da noite para o dia. Ledo engano. Nem a presença da presidenta na festa da Folha de São Paulo, tampouco sua aparição exclusiva nos Fantásticos e Anas Marias Bragas da vida contribuirão para tornar a cobertura jornalística da mídia monopolista minimamente voltada para a verdade factual.

Gestos aparentemente de grandeza e boa vontade não afastarão um milímetro o PIG da sua condição de instrumento de ação política do atraso, do preconceito e do conservadorismo. Por isso, é urgente que o governo desenterre o projeto de novo marco regulatório da mídia elaborado pelo ex-ministro Frankilin Martins.

 Aliás, cabe um registro : setores da militância do movimento pela democratização dos meios de comunicações não esconderam seu otimismo com a indicação de Paulo Bernardo para a pasta das Comunicações. A esperança residia na constatação, segundo esses companheiros, de que o governo não indicaria “um de seus melhores quadros” se não tivesse a intenção verdadeira de democratizar efetivamente as comunicações. Cá com meus botões eu desconfiava que se daria justamente o contrário. A indicação de um tecnocrata e neoliberal enrustido como Paulo Bernardo sinalizava em sentido contrário. Deu no que deu. Saudades, muitas saudades de Frankilin Martins.

Voltando à ridícula posse na ABL de alguém cuja “vasta obra literária” se limita a uma coletânea de artigos publicados em O Globo atacando o ex-presidente Lula (“O lulismo no poder”), insisto, como já escrevi aqui neste meu canto por ocasião da eleição de Merval, que o pai da literatura brasileira e fundador da ABL, Machado de Assis, deve estar se revirando no túmulo. Seja pelo fato absurdo de o “colonista” de O Globo ter vencido, nas eleições internas, um escritor da estirpe de um Antônio Torres, seja pela transformação da Academia Brasileira de Letras num organismo deformado e doente devido à bajulação aos poderosos, merece repúdio a agressão à memória do “bruxo do Cosme Velho”, que um dia sonhou com uma casa literária destinada à preservação e à disseminação da cultura brasileira.






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