quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

E o bloqueio econômico a Cuba ?

A polêmica sobre a pretensão da blogueira Yoani Sánchez de visitar o Brasil vem sendo usada fartamente pela mídia para jogar luz sobre uma dos seus temas prediletos : a falta de liberdade de expressão e de direitos humanos em Cuba.O que nenhum colunista do PIG menciona, no entanto, é que o principal fator a impedir a abertura do regime é o criminoso embargo econômico à Ilha, que já dura mais de 50 anos.


Falar sobre a realidade cubana sem levar em conta as agressões militares sofridas pelo regime desde  a revolução, as tentativas de invasão, os atentados contra seus líderes, as explosões de bombas patrocinadas pela CIA e por grupos anticastristas da Flórida e o bloqueio econômico que asfixia o país há cinco décadas significa jogar lenha na fogueira de um sentimento tão reacionário quanto hipócrita, tão preconceituoso como oportunista. O fato é que o governo e o povo cubano têm fundadas razões para se sentirem em permanente estado de guerra.

De pronto, quero dizer que reformas democráticas são bem-vindas em qualquer parte do mundo, que a liberdade de expressão para todos e todas é um valor inegociável, que o pluralismo partidário e sindical é uma conquista da cidadania, que a liberdade de ir, vir e empreender é um ponto crucial da democracia e que não inventaram mecanismo melhor de aferição da votade da maioria do que eleições livres.

Nada disso me impede de enxergar, porém, o que há por trás da campanha da mídia ocidental pela  democratização da Ilha. Senão vejamos : Por que as barbaridades cometidas pelos EUA na prisão de Guantánano, na qual réus sem acusação formal e direito de defesa são supliciados, não ganham o mesmo espaço ? Por que não são condenadas as incontáveis execuções em cadeira elétrica, câmara de gás e injeção letal nos EUA, país que usa e abusa da pena de morte ?

Outra coisa : mesmo sabendo que é pedir demais ao PIG brasileiro algum respeito pelos princípios mais elementares do jornalismo, que é ouvir todas as partes envolvidas numa  notícia, não custa salientar que as autoridades cubanas insistem em informar que Wilman Villar Mendonza, que morreu na cadeia depois de uma greve de fome de 50 dias, não era um dissidente político do regime, mas sim um prisioneiro comum, condenado por agredir sua esposa.

O silêncio da imprensa encobre também a situação dos cubanos que cumprem pena nos EUA por terem atuado, nos anos 90, na Operação Vespa, tão brilhantemente descrita pelo escritor Fernando Moraes no seu livro "Os últimos soldados da guerra fria". A Operação Vespa consistia no envio à Flórida por parte de Cuba de agentes de inteligência para conter os seguidos atentados ao território cubano levados a cabo pelos grupos anticastristas encastelados em Miami.

Eles hoje estão presos em cadeias norte-americanas, sentenciados a penas absurdamente pesadas (um deles inclusive à prisão perpétua). Recentemente, depois de cumprir sua pena, um desses "soldados da guerra fria" foi posto em liberdade, mas impedido de deixar os EUA pelos próximos dois anos. Essa decisão estapafúrdia, registre-se, não encontra paralelo em nenhum país do planeta.

E não se vê no horizonte político dos EUA uma solução para a questão do bloqueio. Seja pelo conservadorismo da sociedade americana, seja pelo poder de fogo eleitoral da comunidade anticastrista da Flórida, nada aponta para uma distensão. Aliás, se depender do Partido Republicano, vem chumbo grosso por aí. Isso porque os pré-candidatos do partido têm dito em alto e bom som durante os debates que pretendem fortalecer o embargo, impondo não só mais restrições para viagens e envio de remessas ao país, mas também participando de operações secretas contra Cuba.

Um comentário:

  1. Yoani Sánchez: Se ilude quem quer. Esta é a nova peça no tabuleiro de jogo da mídia, da direita e dos Estados Unidos contra Cuba. Ela usa a mídia internacional para se promover e ganhar dinheiro – muito dinheiro, como indicam ao menos as premiações que recebe. Seu blog, e suas opiniões, estão a serviço do interesses canibais dos EUA e dos abutres da direita internacional para sufocar a revolução cubana. Professor Helder Molina

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