terça-feira, 24 de janeiro de 2012

A receita de um massacre

Pegue a ojeriza a pobre de um determinado agrupamento político-ideológico que governa o estado de São Paulo há 16 anos e adicione os interesses de um megaespeculador amigo e parceiro desde os tempos da privataria. Depois tempere com a truculência de uma polícia militar moldada ao estilo desses governantes. Não esqueça de incluir pitadas generosas de um Poder Judiciário estadual comprometido até a medula com eles. Está pronto para ser servido um dos pratos mais indigestos e covardes dos últimos tempos : O massacre à la tucano, na ocupação de Pinheirinho, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, interior de São Paulo.

Cerca de 1.500 famílias foram açoitadas com cacetetes, bombas de gás lacrimogênio, balas de borracha, gás pimenta e até tiro de arma de fogo. Contra esses homens, mulheres, crianças e idosos pesa o crime de serem pobres e sem-teto.Há oito anos eles foram à luta, ocuparam uma área desabitada pertencente à massa falida do trambiqueiro Naji Nahas e criaram uma comunidade. As casas foram levantadas na base do mutirão : "eu ajuda a levantar a sua, você me dá uma força amanhã." Desde domingo, o sonho de uma vida um pouco melhor terminou em pesadelo. E um pesadelo sangrento : centenas e centenas de feridos, um homem baleado em estado grave e todas as casas destroçadas pelos tratores encomendados pela PM paulista.

Contudo, um vergonhoso muro de silêncio foi erguido pela PM e prefeitura. De acordo com essas versões chapa-branca, não há feridos graves, ninguém morreu e os desalojados estão sendo bem atendidos em centros de acolhimento. Pura balela. Parlamentares que tentaram em vão uma solução negociada que impedisse o massacre, e chegaram a ser alvejados por balas de borracha, militantes de organizações de direitos humanos e jornalistas não vinculados ao PIG relatam um quadro de terror provocado pela desocupação violenta. Há informações de mortos, feridos graves, gente espancada sem dó não apenas por resistir ao ataque covarde, mas por tentar pegar um pertence, uma muda de roupa.

Nesta quarta-feira (25/1), aniversário de São Paulo, está sendo convocada por várias entidades da sociedade uma manifestação no centro da capital contra os  graves atentados aos direitos humanos perpetrados pelos governos de Alckimin e Kassab, que estão virando rotina em São Paulo. Os direitos civis e algumas das mais comezinhas conquistas da cidadania vêm sendo transformadas em letra morta pelo jeito tucano de governar. Que o digam os mortos-vivos da Cracolândia que vagam em procissão pela cidade até que "o sofrimento e a dor da abstinência os levem a procurar tratamento", como disse um graduado coloborador do governador Alckimin. Que o digam as milhares de pessoas abandonadas à própria sorte depois que a favela em que  moravam pegou fogo recentemente. Que o digam as vítimas do massacre do Pinheirinho.

O brilhante jurista Fábio Comparato defende que o governo paulista deve ser denunciado à Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA.Quem assistiu às cenas de Pinheirinho sabe que o professor decano está coberto de razão.

Um comentário:

  1. PSDB faz história. Esse é o Carandiru de Alckmin. Revoltante foi ver O Globo, defendendo a ação covarde e criminosa da polícia militar de São Paulo, e a "legalidade" da da violente e truculenta decisão da justiça. No Brasil, questão social é caso de polícia, desde a escravidão, os pobres, os trabalhadores, os movimentos sociais são considerados "classes perigosas", como prova a atitude da tucanalha paulista. Helder Molina

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