domingo, 8 de janeiro de 2012

"Esqueçam o que escrevi"

FHC faz escola entre seus admiradores no dispositivo midiático que o bajula. Não é à toa que a frase-síntese de sua conversão ao neoliberalismo mais visceral ("Esqueçam o que eu escrevi") é seguida ao pé da letra pelo séquito de colunistas e jornalistas de economia da mídia monopolista. O exemplo mais recente de fidelidade absoluta a esse mantra tucano-midiático é o silêncio sobre o fato de a inflação de 2011 não ter estourado o limite da meta (6,5%), conforme preconizaram ao longo do ano que passou os serviçais do PIG. Que eles não acertam uma previsão que seja, todos sabemos; que entendem tanto de economia quanto eu de física quântica, não é segredo para ninguém; que usam sua pena exclusivamente para fazer política partidária, toda a torcida do Flamengo percebe. Mas o que choca é a falta de limites para a cara de pau.

A tragédia inflacionária que se avizinhava passeou com frequência pelas manchetes de O Globo, Folha, Veja, Estadão e Jornal Nacional. Serviu inclusive de pretexto para a defesa das teses do mercado financeiro contrárias à redução da taxa de juros. Mas é importante observar que, para ecoar à farta o estrago causado pelo dragão da inflação, eles lançaram mão de um malabarismo retórico tão mentiroso quanto oportunista.

A malandragem era a seguinte : mesmo careca de saber que o sistema de metas de inflação tem como base as taxas referentes aos 12 meses do ano, de janeiro a dezembro, as chamadas de capa dos jornais focavam os útimos 12 meses. Exemplo : em setembro, o Globo trombeteou : " Inflação sobe e estoura a meta". A conta mandrake levava em conta o periodo de setembro de 2010 a setembro de 2011.

Chama a atenção a falta de compromisso dos colunistas com o que falam e escrevem. Quando começaram a comemorar o pseudo estouro da inflação, já estava em vigor uma série de medidas macroprudenciais da Fazenda e do Banco Central restrigindo o crédito e freando a economia, justamente com o própósito de conter a inflação, trazendo-a para o limite da meta no ano passado e buscando sua convergência para o centro da meta (4,5%) em 2012 ou 2013, na pior das hipóteses. Em suma, é impossível que eles não soubesem que a inflação logo estaria sob controle.

E a  inflação sendo domada aos poucos permitiu ao Copom iniciar o ciclo de queda da taxa de juros. Embora num ritmo ainda tímido e insuficiente para alavancar um crescimento maior da economia, as seguidas reduções da Selic foram bombardeadas pela mídia, em cuja retina política só se enxergava irresponsabilidade e insensatez na nova postura do Banco Central :"como reduzir os juros com a inflação em alta ?", perguntavam os sabujos das corporações da mídia.

Contudo, não há tempo a perder. Afinal,como só farão algo que lembre um pingo de autocrítica no dia em que o sargento Garcia prender o Zorro, o negócio é seguir em frente na luta inglória contra a realidade. Agora, eles acham um horror, como diz o Paulo Henrique Amorim, o Brasil já ser a sexta maior economia do mundo. Igualmente consideram um disparate o salário mínimo chegar a R$ 622, injetando 47 bi na economia. Deixa estar. Essa turma é cada dia lida e ouvida por menos gente. Sem falar que é grande o risco de, no futuro, os cursos de jornalismo no Brasil os utilizarem como referência negativa, como exemplo de como não se deve fazer jornalismo. O lugar deles na história está reservado.

Um comentário:

  1. O mais engraçado é O Globo escrever que a inflação ficou dentro da meta por pouco. Ora, não interessa se foi por pouco ou muito, o que interessa é que ficou dentro da meta. Aliás, mesmo que tivesse passado um pouco não seria nenhum desastre. Também engraçado é ele ter publicado sem qualquer destaque que vários países europeus e asiáticos ultrapassaram suas metas. Bepe, você está certíssimo, esses caras vão virar case nos cursos de jornalismo.

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