quinta-feira, 8 de março de 2012

O PIB como ele é

O consumo das famílias brasileiras permanece em alta e o mercado interno aquecido. Mas a mídia diz que o PIB de 2,7% representou um “baque” na economia do Brasil. O nível de emprego continua elevado – ano passado foram gerados mais de 2 milhões de novos postos de trabalho. Mas a mídia joga essa informação para o rodapé da matéria. O Brasil suplantou mesmo o Reino Unido e se consolidou como a 6ª maior economia do planeta.  Mas, para a mídia, isso é apenas uma variação transitória.A julgar pelas manchetes dos jornalões brasileiros, não existe crise econômica na Europa, tampouco recuperação lenta nos EUA depois de um tombo histórico. Pouco importa também a pisada no freio da economia chinesa e a desaceleração do comércio global. Como não há meios do império midiático brasileiro entender que a função da imprensa é falar a verdade e informar com decência, resta-lhe o discurso de viés político de que o baixo crescimento do PIB de 2011 é de inteira responsabilidade do governo federal.

A oposição fez a sua parte, levando a bola para mídia cortar e vice-versa. A reação demotucana seguiu a toada de sempre : o problema é que o governo não fez a sua lição de casa, não cortou custos com a máquina, nem estancou os gastos públicos. Tudo eufemismo para esconder o que realmente pensam, mas nem sempre revelam à luz do dia. Para o dueto mídia/oposição, o governo gasta demais com programas sociais, torra rios de dinheiro com o Programa de Aceleração do Crescimento, insiste em conceder aumentos reais para o salário mínimo e teima em reequipar a máquina pública desmontada pelo vendaval neoliberal.

Mas, o fato é que a visão catastrófica do PIB brasileiro não resiste a um simples cotejamento com a realidade das economias da Comunidade Europeia, notadamente as da Zona do Euro, que hoje já se encontram tecnicamente em recessão. Sem falar na insolvência grega e o caminho para o matadouro do rentismo seguido por Irlanda, Portugal, Espanha e Itália.

Constitui-se também em flagrante desonestidade intelectual não apontar a guerra cambial (o tsunami denunciado pela presidenta Dilma) levada a cabo pelos países ricos como fator de rebaixamento e contração das economias emergentes. Os desenvolvidos decidiram enfrentar suas sérias dificuldades de caixa inundando os emergentes de dólares. Um dos principais hospedeiros dessa montanha de moeda americana tem sido o Brasil, vítima de uma crescente sobrevalorização do real, o que encarece os nossos produtos, fazendo com que eles percam competitividade no mercado externo. Isso abre caminho para a nefasta invasão dos produtos importados . Assim, já que exporta menos, e sofre no mercado interno a concorrência desleal dos importados, a indústria se retrai e produz menos. Conseqüentemente, o Produto Interno Bruto cai.

Já as medidas chamadas macroprudenciais tomadas no ano passado para domar a inflação, como restrições ao crédito e enxugamento da liquidez do sistema bancário, respondem por outra parcela de responsabilidade pela  retração do nível da atividade econômica brasileira. Vale notar que essas políticas se mostraram acertadas, uma vez que afastaram a tragédia inflacionária trombeteada pelos do contra de sempre, criando as condições para as sucessivas quedas de juros (no momento em que escrevo este texto, acabo de saber que o Copom reduziu mais uma vez, na reunião desta quarta , 7 de março, em 0,75%, a Taxa Selic, que agora é de 9,75%, menor patamar desde meados de 2010) e para as medidas desoneração tributária dos setores mais atingidos pela valorização do câmbio e pela chuva de importados.

A continuidade da queda da taxa de juros, somada à ampliação das medidas para fortalecer ainda mais o mercado interno, blindando o país contra os efeitos mais perversos da crise financeira internacional, certamente farão com que 2012 seja bem melhor que 2011 no que toca ao crescimento da economia do país. Aí a mídia vai fazer como em 2010, quando, diante do crescimento extraordinário de 7,5%  do PIB, não se cansou de alertar para “ os perigos de se crescer a um ritmo chinês”. Não tem jeito. É questão de índole.



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