segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vida longa para Cristina

O título deste post peguei emprestado da última frase de um ótimo artigo do jornalista Renato Rovai, editor da revista Fórum, publicado no seu blog. Desejar longevidade para a presidenta da Argentina é muito mais do que um gesto efusivo movido por afinidades políticas e ideológicas. É uma homenagem à coragem e ao patriotismo de quem não hesita em defender a soberania do seu país e que não se intimida diante da artilharia inimiga. Repetindo o histerismo da época da aprovação da Lei de Medyos, outro golaço de Cristina Kirchner, os colunistas da velha mídia brasileira e latino-americana só faltaram pregar abertamente a invasão da Argentina pelas forças da Otan, depois do anúncio da compra de 51%, por parte do governo, das ações da Repsol-YPF, retomando o controle público sobre a petroleira YPF privatizada por Carlos Menem em 1992/1993.

Os profetas do caos de sempre entraram em cena. Assim como fizeram quando a Argentina se viu forçada a decretar a moratória da dívida externa, no começo dos Anos 2000, eles preconizam agora uma débâcle sem precedentes da economia do país vizinho, mercê de seu isolamento inevitável da comunidade internacional, recuo nos investimentos estrangeiros no país e todas as mazelas decorrentes da decisão de “expropriar”(sim, é assim que a mídia vem tratando a nacionalização) a empresa espanhola.

Fora do mundinho imbecilizado dos yuppies do mercado e do seu braço midiático, quem tem mais de dois neurônios sabe que nada disso ocorrerá. A exemplo do calote da dívida, que o tempo mostrou ser a saída adequada para uma economia em frangalhos depois da tempestade neoliberal que varreu o continente, também a firme determinação do governo argentino em busca da soberania energética certamente trará resultados positivos a médio e longo prazos, impulsionando ainda mais o PIB do país, que, diga-se de passagem, só fez crescer a taxas dignas de nota depois do calote.

Nenhum governo que se pretenda soberano pode assistir de braços cruzados a uma queda brutal de investimentos em gás e petróleo por parte de uma multinacional  que detém o controle de um setor tão estratégico. Afetada pela crise da dívida que leva de roldão as economias da zona do euro, empresas espanholas como a Repsol reduzem seus investimentos em outros países. Isso acendeu a luz amarela no governo Kirchner, pois a queda da produção de petróleo e gás vinha obrigando o governo a gastar cada vez mais com importação.

Assim, a Argentina passou da condição de quase auto-suficiência em petróleo dos tempos em que a YPF era estatal para importadora de cerca de 60% do petróleo e do gás que necessita. E essa situação tendia a se agravar, tornando-se potencialmente explosiva para um país traumatizado por crises institucionais e políticas e que sabe como poucos que o único antídoto contra essas convulsões é o crescimento econômico, desenvolvimento social e a geração de emprego e renda.

Outros pontos importantes que merecem ser destacados no episódio dizem respeito à legalidade da nacionalização da Repsol e a indenização a ser paga à empresa espanhola. É preciso esclarecer que a decisão tem amparo na Constituição argentina e a Repsol será ressarcida. Não com base nos valores estratosféricos cobrados pela empresa e pelo governo direitista da Espanha chefiado por Mariano Rajoy, mas sim a partir dos parâmetros que serão estabelecidos pela arbitragem internacional.




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