sexta-feira, 1 de março de 2013

O que há por trás da ira do PMDB do Rio

As mal-educadas e grosseiras declarações de Jorge Picciani, presidente do PMDB do estado do Rio de Janeiro, repletas de ofensas ao senador Lindbergh e ao PT do Rio, merecem algumas reflexões. A primeira de ordem psicanalítica, caso para divã, uma vez que o cacique do PMDB revela uma mágoa profunda por ter sido derrotado por Lindbergh e Crivela nas eleições para o Senado em 2010. Depois, o destempero do peemedebista só traz à tona o que há muito já se sabe nos bastidores da política fluminense : o senador petista tem potencial e densidade eleitoral suficientes para vencer as eleições para o governo do estado. É o que revelam pesquisas e sondagens, qualitativas e quantitativas, instrumentos cada vez mais utilizados pelos grandes partidos para orientar decisões e definir táticas e rumos estratégicos.

Bravatas e ameaças de não apoiar a presidenta Dilma à parte, a subida do tom do PMDB em relação ao seu aliado lança no ar algumas importantes indagações. Imaginando que um ambiente radicalizado, de parte a parte, leve à ruptura entre os partidos no estado, qual a chance de o PMDB nacional (que na convenção deste sábado vai ungir o vice-presidente Michel Temer  pré-candidato à reeleição na chapa de Dilma) se solidarizar com sua seção fluminense e abandonar o barco governista ? Rigorosamente nenhuma, seja pela característica peculiar do PMDB de ser uma federação de partidos regionais, seja pelo espaço que detém no governo federal, seja pelo favoritismo de Dilma ano que vem, seja pelo fato de o partido, mais do que nunca, se sentir o fiador da governabilidade por presidir a Câmara dos Deputados e o Senado.

Outra chave para entender o quanto a questão é complexa é a administração propriamente dita tanto do governo do estado como da prefeitura da capital. É simples : se retirarmos das gestões de Sérgio Cabral e Eduardo Paes todas as parcerias, projetos e acordos com o governo federal, bem como os financiamentos e investimentos quem vêm de Brasília  (administração direta, estatais e bancos públicos), na certa, prefeito e governador pouco mais fariam além de pagar a folha salarial dos servidores.

 Ora, como o pragmatismo está no DNA peemedebista, também não se enxerga no horizonte um confronto aberto com o PT, que leve, por exemplo, à entrega imediata dos cargos do partido na prefeitura e no governo do estado. É claro que o afastamento do PT das secretarias que ocupa tende a ser uma imposição natural da conjuntura política, em 2014, com a disputa nas urnas entre Lindbergh e Pezão, o candidato do governador Sérgio Cabral e do PMDB.

Não parece restar outro caminho, portanto, ao PT e ao PMDB fora da realidade dos dois palanques de apoio à presidenta Dilma, no estado, na sua campanha pela reeleição. Não restam dúvidas de que o centro da estratégia deve ser a continuidade do projeto democrático-popular em curso no país há dez anos. Cada dia mais estou convencido de que, no nosso sistema federativo, são as prerrogativas e os instrumentos de que dispõem o governo federal que produzem mudanças essenciais na vida das pessoas. Contudo, é preciso entender e respeitar as especificidades e as diferenças regionais. É evidente que uma candidatura única da base governista é sempre ideal. Só que às vezes não é possível construí-la.

E ter dois palanques, aqui entre nós, não é nenhum fim de mundo. Mesmo sendo inevitáveis as caneladas recíprocas, próprias da disputa eleitoral, vale o esforço para que a refrega se dê num ambiente de civilidade. São dois aliados que numa determinada quadra político-eleitoral têm propostas e projetos diferentes para o Rio, a par de suas afinidades. O governador Sérgio Cabral vem sendo um fiel aliado do projeto nacional do PT. Mas, como político, ele deve saber que o PT do Rio chegou numa encruzilhada : em nome de sua sobrevivência política, o partido tem de retomar seu protagonismo no estado, abandonando a condição de satélite do PMDB.

Volto a esse assunto no próximo post.


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