Há mais de um ano,
postei aqui no blog artigo sobre a metamorfose do ministro do STF, Dias
Tofolli. Depois dos posicionamentos e votos do ministro no julgamento da Ação
Penal 470 e, principalmente, neste primeiro semestre de 2013, resolvi atualizar
o texto acerca do mais novo aliado de Gilmar Mendes no Supremo.
Depois de uma meteórica atuação
em bancas de advocacia, Antonio Dias Toffoli, pelas injunções políticas da
vida, foi guindado à Advocacia-Geral da União no governo Lula. Era homem da
confiança do ex-ministro José Dirceu. Sua destacada atuação como defensor-mor
dos interesses da União cativou também o presidente Lula, que acabou por
indicá-lo para o STF.
Não demorou muito para o doutor
passar uma borracha nessa trajetória. Em entrevista ao jornal O Globo,
publicada nos últimos dias de 2011, ele se disse um liberal, e não mais um
homem de esquerda.
Inebriado pelas togas e pompas da
Suprema Corte, suas novas posições políticas e concepções de Estado passaram a
ser emolduradas por uma soberba pose de jurista. O tipo que é capaz de levar os
menos iniciados nas regras que regem a composição dos tribunais superiores no
Brasil a imaginar que o ministro Toffoli chegou ao Supremo através de um
inexistente concurso público.
Toffoli é contra o financiamento
público das campanhas eleitorais. Os demotucanos também. Toffoli reclama do
tamanho do Estado, acha que oprime o cidadão. O dispositivo midiático golpista
também.
Depois de ter se omitido no caso
Cesare Battisti, alegando um mal explicado conflito de interesse, ele encarou o
caso do mensalão como a oportunidade de ouro para se tornar confiável para o
establishment, enterrando as desconfianças geradas pelo seu passado petista.
Depois de fazer um joguinho de cena sobre a conveniência ou não de sua
participação no julgamento, o doutor optou por julgar os 39 réus da Ação Penal
470.
E, embora tenha absolvido José
Dirceu por falta de provas, teve a pachorra de condenar José Genoíno, sobre
quem pesava uma única acusação : assinar, na condição de presidente do PT, um
pedido de empréstimo bancário, efetivamente legal e que foi pago pelo partido,
conforme atesta perícia da Polícia Federal. Para ser aceito pela Casa Grande,
no entanto, o ministro ignorou tudo isso.
Era só o começo.2013 seria o ano
da conversão definitiva do ministro. Num curto espaço de tempo, ele já investiu
contra a operação Satiagraha, quebrando o sigilo bancário do delegado
Protógenes Queiroz e do empresário Luis Demarco, determinou uma estranha quebra
de sigilo também do senador Lindbergh Farias, do PT, e se perfilou junto a
ninguém menos do que Gilmar Mendes na batalha para atropelar as prerrogativas
do Legislativo.
Para o bem da democracia, porém,
os dois morreram abraçados, com a derrota fragorosa no STF da liminar de Gilmar
Mendes, defendida ardorosamente por Toffoli, que impedia a tramitação no Senado
de um projeto que cria novas regras para a formação de novos partidos.
Ninguém em sã consciência
deve achar que uma cadeira no STF pode se transformar em caixa de ressonância
da militância e das convicções políticas e ideológicas dos juízes indicados
pelos presidentes da República.
Contudo, ao se despir da noite
para o dia de valores humanistas, de determinadas visões de mundo, de escolhas
filosóficas e, por que não, de opções políticas, em nome de uma vã isenção e de
uma imparcialidade plena que simplesmente não existe, o ministro Toffoli parece
não se dar conta do triste papel que desempenha.
O que deve ser cobrado de um
magistrado é equilíbrio, sensatez e que se paute pelos autos dos processos. Não
há deslize ético algum em interpretar o texto legal com base em suas convicções
jurídicas, ideológicas e políticas. É evidente que em determinados casos e
julgamentos a lei não dá margens a interpretações, restando sua aplicação pura
e simples.
O caso de Toffoli, todavia, está
longe de ser isolado. No campo da esquerda, não são raras as metamorfoses
sofridas por militantes e dirigentes partidários ao ocuparem cargos importantes
na administração pública. A chave para entender esses surtos de deslumbramento
pode estar numa formação política rasa e precária , no plano objetivo, ou nos
intrincados e complexos meandros da alma humana, se focarmos o vasto e, muitas
vezes, insondável universo das subjetividades.
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