terça-feira, 18 de junho de 2013

Tentando entender o movimento "contra tudo que aí está"

Primeiro era difícil entender tanta mobilização por conta de 0,20 centavos. Não que seja pouco para o bolso de milhões de pessoas. Mas outros gêneros de primeira necessidade, como pão e leite, por exemplo, subiram bem mais nos últimos meses sem gerar protestos nas ruas. Depois, os manifestantes passaram a pregar contra os gastos bilionários com a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Pouco ainda para explicar a gigantesca espiral de manifestações que toma conta do país. No entanto, nesta segunda-feira, 17 de junho, ápice das mobilizações que reuniram cerca de 250 mil pessoas em várias cidades do país, o fenômeno ganhou contornou mais claros.Depois de assistir a cobertura ao vivo pela TV, varei a madrugada observando cartazes, faixas, palavras de ordem, perfil dos manifestantes, a falta de comando ou estrutura hierárquica do movimento, ou seja, tentando esquadrinhar as passeatas. Tudo isso deixando de lado a ação dos bandidos travestidos de manifestantes que se infiltram para quebrar tudo que veem pela frente. E o resultado do que pude observar é pra lá de preocupante para todos os atores envolvidos na política institucional, especialmente para o governo federal.

De cara, é preciso resgatar o fato de que é bem-vinda à democracia a forte presença dos jovens, que voltam a lutar por causas coletivas e a se interessar pelos rumos da sociedade e do país. O problema é que boa parte dos jovens está nas ruas para negar o sistema representativo e democrático. Bombardeada por um mídia monopolista que há longos anos desqualifica, abastarda e, muitas vezes, criminaliza a atividade política, a juventude agora não cobra a substituição de determinada política por outra, não preconiza a troca de políticos corruptos por políticos honestos, não propõe novos programas de governo nem ações sociais e mais investimento público como soluções para os problemas que afligem o povo brasileiro. Não. O que se vê é uma negação difusa e despolitizada de "tudo que está aí", inclusive do modelo de sistema democrático vigente no país.

É claro que são incontáveis as exceções. Tem muita gente de convicções democráticas e de sensibilidade social aguçada que protesta por um país melhor. O que falo é do sopro majoritário que emana dessas manifestações, nas quais vinculação partidária virou palavrão. Instituições como Congresso Nacional, assembleias legislativas e câmaras de vereadores se tornaram exemplos acabados de coisas abjetas e nojentas. Dilma, Sérgio Cabral, Paes, Alckmin e Haddad são vistos como farinhas do mesmo saco, políticos tradicionais, de costas para o povo, que devem tomar, o mais rápido possível, um pontapé no traseiro. Nenhuma iniciativa ou ação de qualquer governo tem méritos. Todas são insuficientes, precárias e demagógicas.

Os manifestantes olham com desdém também para os movimentos social e sindical, que, para eles, são velharias ineficientes e hierarquizadas, que acabam servindo ao establishment. Como não tem comando, estratégia de negociação, tampouco tática e bandeiras prioritárias de luta, é natural que o movimento atraia uma grande número de jovens, e até gente madura, alienada até a medula. Também cabem no seu escopo o pessoal das natimortas campanhas antipetistas como "Chega" e "Cansei". Dia desses um blogueiro carioca publicou declarações de um líderes do Movimento Passe Livre de São Paulo. O cara, entre outras pérolas reacionárias, se disse contra o Bolsa Família, a política de cotas, etc.

Para os que só enxergam glamour e vigor democrático nesse movimento que toma conta do Brasil, um convite à reflexão : será mesmo que a maioria anarquista desses manifestantes preconiza um país melhor? Não terá chegado o momento de começarmos a nos preocupar com a preservação das conquistas democráticas tão arduamente conquistadas pelo povo brasileiro, em defesa das quais muitos deram os seus melhores anos e pagaram com a própria vida ?

Exagero ? Quem acha que sim é só dar uma olhada nas redes sociais, que hoje (18 de junho) amanheceram cheias de mensagens pregando o impeachment da presidenta Dilma. Já tem até petição online com esse objetivo circulando na internet e já com milhares de assinaturas. Para mim, as principais inspirações desse movimento são o antipetismo e o antigovernismo viscerais, turbinados pelo senso comum de se responsabilizar o governo federal por todas as mazelas do país, o que é amplificado pelo monopólio midiático.O bravo blogueiro Eduardo Guimarães, do Blog da Cidadania, conta que ouviu, na passeata de São Paulo, várias vezes o coro : "Ei PT, vai tomar no c.." Penso, portanto, que quem mais perde com tudo isso é o projeto democrático-popular representado por Lula, Dilma, PT e aliados.

Da minha parte, começo a me preparar para ir à ruas defender a democracia e o governo Dilma. No momento, considero que o movimento "contra tudo que ai está" pode refluir depois da Copa das Confederações. Mas o meu temor é que diante da atávica falta de comunicação e reação do governo federal ( que hoje paga  por não ter feito a Ley de Medios e por não responder à altura a tantos ataques da mídia) as manifestações descambem para o golpismo, para o questionamento explícito do mandato da presidenta Dilma.

Devemos estar prontos para isso.

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