domingo, 8 de setembro de 2013

E a montanha pariu um rato

Melancólicas, esvaziadas, despolitizadas, patéticas e mais violentas do que nunca. Assim atingiram o ocaso as manifestações de rua no país neste 7 de setembro. O tão esperado maior protesto da história de 513 anos de Brasil, conforme a "megamanifestação" estava sendo convocada nas redes sociais, não passou de um acerto de contas idiota entre os mascarados (de beicinho por conta da obrigatoriedade de se identificarem ) e a polícia.

No Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Maceió o enredo foi rigorosamente o mesmo. Insuflados por "revolucionários" da estirpe de Caetano Veloso, os black blocs só foram para as ruas para destruir patrimônio público e privado e provocar o confronto com a PM. E só uma mídia mesquinha e partidarizada como a nossa é capaz de derrubar sua grade de programação para mostrar ao vivo alguns gatos pingados quebrando tudo que viam pela frente. Tudo para tentar passar a impressão de que uma convulsão tomou conta do país no feriado da pátria.

Faltou combinar com o povo, que, cansado desse quebra-quebra insano, decidiu, sabiamente, curtir o lindo dia de sol, ir à praia, bebericar com os amigos, ver o jogo do Brasil ou  fazer um churrasquinho. Pudera. Há muito se percebe que o impulso das manifestações no Brasil vem perdendo força, seja pela falta de um mínimo de objetivo estratégico, de reivindicações palpáveis e exequíveis, de lideranças acreditadas, de disposição real para a negociação, de estabelecimento de prioridades ou de táticas visando a conquista desta ou daquela reivindicação.

Sobraram os black blocs. Só que sua inspiração fascista e  prática arruaceira  tratariam de afugentar os manifestantes de boa fé. Era apenas uma questão de tempo. E não deu outra. Por seu lado, em muito boa hora as autoridades deixaram a prevaricação e a conivência de lado e endureceram contra os vândalos mascarados. Com o cumprimento de mandados de prisão contra alguns e a obrigatoriedade de identificação determinada em alguns estados, fora a péssima imagem de que desfrutam na sociedade, o cerco começou a se fechar contra os black blocs Ficaram falando sozinhos os Caetanos da vida e os poucos acadêmicos e estudiosos que insistem em enxergar ímpeto transformador e revolucionário numa horda de reacionários empedernidos, os quais, em pleno regime democrático, se negam a mostrar a cara.

Sobre o convertimento tardio de Caetano Veloso em black bloc, vale a pena ler no Portal 247 a análise crítica do jornalista Gilberto Dimenstein, para quem Caetano ao tentar se passar por jovem se revelou mais velho do que nunca. Assinala o jornalista que na democracia todos podem protestar à vontade, e com rosto à mostra. Aqui abro parênteses para lembrar que o compositor mascarado septuagenário, a par de sua trajetória marcante na música popular brasileira, tem esbanjado preconceito e alinhamento político com o que há de mais conservador e retrógado. Caetano é gente da Casa Grande. Para ele, Lula é analfabeto e quaisquer questionamentos ao papel deletério do monopólio da mídia são ações abomináveis de censura. Sem falar que, na sua opinião, toda a atividade política está contaminada pela corrupção. Especialmente se o caso envolver petistas. Só se salvam, Marina Silva, Gabeira, Fernando Henrique e seus amigos tucanos. É esse o lado de Caetano na política.

Voltando às manifestações, tudo leva a crer que este 7 de setembro entrará para a história como o dia dos seus funerais. Claro que seguirão ocorrendo atos e mobilizações pontuais de categorias em greve ou por determinadas reivindicações específicas nas áreas de transporte, educação, saúde, moradia, terra, etc. E isso é vital para a consolidação da nossa democracia. Claro que os black blocs, aqui e acolá, ainda darão o ar da graça infernizando a vida das pessoas. Mas o "gigante que acordou" já é coisa do passado, tarefa para cientistas sociais e  historiadores.

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