terça-feira, 10 de setembro de 2013

O que esperar da turma que tira o sapato ?

Nenhum colunista do PIG manifestou um mínimo de indignação diante da bisbilhotagem dos EUA, que teve como alvo empresas, embaixadas, cidadãos e governo brasileiros, além da própria presidenta Dilma. Os jornalões oscilam entre a informação protocolar e a patifaria mais desabrida, como no caso da Folha que chegou a sugerir em manchete que Dilma era culpada por ter sido espionada, já que não tinha levado adiante um plano nacional antiespionagem.Coisas do jornalismo de esgoto praticado no país.Contudo, nada disso deve ser motivo de surpresa. Desde sempre a nossa elite, cujos interesses e ideologia entreguista os meios de comunicação refletem, despreza a soberania do país e rasteja ante os poderosos do mundo. Ao tirar o sapato para pisar em solo americano, o então chanceler de FHC, Celso Laffer, apenas se mostrou coerente com essa cultura de vassalagem.

"Apoio a candidatura da Dilma porque sei que seu governo não falará grosso com a Bolívia e fino com Washington." O genial compositor Chico Buarque de Holanda não poderia ser mais premonitório em sua fala no ato de apoio de intelectuais e artistas à candidata do PT nas eleições de 2010.

Pois não é que no intervalo de poucos dias a presidenta demonstrou respeito à soberania boliviana e às regras diplomáticas que regem a relação entre nações amigas, no caso da fuga do senador boliviano para o Brasil, e indignação e revolta na medida certa com o episódio da arapongagem dos EUA.

Sim, na medida certa porque Dilma não se limitou aos protestos diplomáticos de praxe, a cargo de ministros de Relações Exteriores, embaixadores e ministros da Defesa e da Justiça. Não. Ela cobrou, cara a cara com Obama, tête-à-tête, explicações cabais por escrito, pedidos de desculpas e punição dos responsáveis pela espionagem.

E a cada dia a presidenta tem sido mais assertiva e contundente. Nesta segunda-feira, por exemplo, em nota oficial, ela acusou diretamente os EUA de praticarem espionagem com intuitos comerciais, depois que a sociedade brasileira tomou conhecimento, estarrecida, de que os segredos industriais e estratégicos da Petrobras, provavelmente ligados à exploração do pré-sal, foram violados.

A bisbilhotagem dos sistemas de informação da nossa maior empresa jogam por terra o mantra dos governos norte-americanos, segundo o qual  a espionagem, pasmem, tem como objetivo proteger os países amigos dos EUA do terrorismo, cantilena repetida à exaustão pelo secretário de Estado, John Kerry, por ocasião de recente visita ao Brasil.

Mas, quem acredita que o governo de Obama descerá da empáfia atávica dos dirigentes do império e pedirá desculpas por escrito, além de punir seus próprios arapongas, acredita em tudo, como gosta de dizer o Paulo Nogueira, do Diário de Centro do Mundo. O máximo que se pode esperar de Obama e da diplomacia dos EUA é um comunicado repleto de filigranas e não-me-toques diplomáticos. No limite, atribuirá um eventual excesso a um sujeito oculto, porém bem intencionado, integrante de sua rede de espionagem.

Aí, então, para o profundo desgosto dos americanófilos da Casa Grande, a presidenta Dilma disporá de todos os argumentos necessários para cancelar sua visita aos EUA marcada para outubro. No fundo, os porta-vozes dos barões da mídia torciam para que Dilma, intempestivamente, atropelasse os trâmites e procedimentos diplomáticos e suspendesse a visita sem antes cobrar explicações, desculpas e punições.

Fico imaginando se a arapongagem dos EUA contra o Brasil viesse à tona durante um governo tucano. Na certa, uma comissão do primeiro escalão do governo brasileiro visitaria a Casa Branca para pedir desculpas por não facilitado ainda mais a vida dos americanos. Voltariam para o Brasil com um catecismo a ser cumprido : como abrir todas as brechas possíveis no nosso sistema de segurança de informações para ajudar os parceiros do Norte na luta contra o "terrorismo".


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